Guia da Semana

Foto: Arquivo Pessoal

Seguimos viagem para um município catarinense que dista cerca de 80 quilômetros de Florianópolis. Pertencente a 25% do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, com uma área de cerca de 450km², São Bonifácio se localiza a uma altitude de 410 metros. A população - descendente de alemães oriundos da região da Westphália - ultrapassa os três mil habitantes.

Tida como a Capital Catarinense das Cachoeiras, São Bonifácio nos deixa boquiabertos com suas exuberantes obras-de-arte verdejantes, cobertas por uma vegetação única que se faz de tapete para uma grande variedade de plantas e animais, trilhas e rios.

Como não se bastasse, a riqueza contemplativa das verdes colinas que a cada quilômetro percorrido pinta dinamicamente um cenário naturalmente exuberante, a paisagem é colorida com arquitetura típica alemã de casas em estilo enxaimel - tijolo assentado com barro e madeira de forma conjunta, sendo essa madeira disposta em formas e a cobertura podendo ser de pequenas tábuas, telhas ou mesmo folhas de zinco -, plenamente integrada a caprichados jardins, muitas vezes, com formosas variedades de folhas, frutos e flores.

A Pousada das Hortênsias

Ficamos hospedados na Pousada das Hortênsias, que fica na comunidade de Alto Capivari e logo resolvemos fazer o reconhecimento. Conhecemos a Trilha da Nascente, com árvores ornadas por barbas-de-velho, flores singulares, bromélias. No retorno da trilha, ficamos na dúvida se ali o que avistávamos eram cavalos ou cãezinhos sob a forma daqueles animais. O cavalinho marrom se aproximou da gente para um carinho. E depois resolveu nos seguir para qualquer lugar que fôssemos. Logo depois, a égua branca fez o mesmo. Viemos a descobrir que estes cavalos foram criados desde pequenos junto às crianças e que a branquinha é mãe do cavalo marrom com crina clara lustrosa.

Ao cair da tarde, resolvemos sair da pousada para caminhar pela estrada. Encontramos, por acaso, um casal de amigos de Florianópilis e continuamos nossa caminhada. O próximo passo seria arrumar uma forma de acomodar nossos amigos viajantes. Na Pousada das Hortênsias não havia mais lugar e a temperatura começava a baixar. Fomos aconselhados a conhecer a casa de uma simpática senhora que aluga sua casa. Casa? Isso mesmo! Cozinha montada com pedra de mármore, casa em estilo enxaimel, diversos quartos, todos os cômodos quentinhos, confortáveis, decorados com o carinho de avó. No segundo piso, o teto era de madeira compondo lindíssimos desenhos geométricos com janelões de vidro em formato triangular que proporciona visão para a cidade, de um lado, e para um pé coalhado de caqui mole, do outro.

À noite, na Pousada das Hortênsias, acendemos a lareira. Tivemos um cuidado com toda a decoração: objetos antigos que resgatam a memória de nossos avós. como máquina de escrever, rádio, entre outras peças que poderiam facilmente ser classificadas como as de um museu. A noite era tranquila, feliz, fria e serena.

As cachoeiras

Seguimos sentido sul para uma cachoeira que ficava a cinco quilômetros dali. No percurso, a paisagem era entrecortada por árvores que faziam do cenário uma obra-prima suprema. Para chegar até a queda dela, precisamos descer e muito. E ali encontrávamos mais um local daqueles em que podemos recarregar as baterias. Entre minitobogãs, descanso com as costas nas hidromassagens naturais e caminhadas ao longo do rio, a região estava coberta de vida pulsante: borboletas belíssimas que carregavam em uma de suas asas a sabedoria e na outra, a compaixão, juntas colorindo pelo céu o mundo, além de amoras silvestres e flores.

À tarde e na manhã seguinte, desbravamos a segunda cachoeira, que se situa na comunidade Rio Salto, no município de Águas Mornas. Caminhamos por uma pequena trilha que nos leva a uma cachoeira que surpreendeu a todos com a sua imponência. Avistamos lá debaixo cerca de três quedas e que parecia daquele ponto que teria acesso por trilha às quedas de cima. E fomos lá tentar.

A descida até as quedas de cima da cachoeira inspira muitos cuidados. Após nos agarrarmos em raízes, troncos, cipós e galhos, chegamos a um pequeno mirante: há uma espécie de península em terra úmida, coberta de gramíneas e com duas árvores que podem servir de leve sustentação. Olhando para baixo, dava para sentir um pouco de medo, porém ele passou rápido pela vista que tivemos daquele ponto.

Percorrendo os olhos como se fossem câmeras viajando em travelling, traçando um panorama de cima, ficava fácil de nos sentirmos unos com a cachoeira: ela vinha forte em seu jato de água, ganhava ainda mais ritmo, galopando por sobre as pedras até alterar o desenho de sua trajetória em 90 graus, seguindo rio abaixo por entre os vales verdejantes que, logo ao subir os olhos, poderíamos avistar o céu, compondo a uma linda paisagem.


Quem é o colunista: costumava me imaginar como a letra de música de uma banda chamada Guided by Voices: "I am a journalist - I write to you to show you: I´am an incurable and nothing else behaves like me..." Porém, com o tempo venho descobrindo que eu, assim como você, todos nós, somos vazios como o espelho e abertos como o espaço. E no intervalo, juntos, criamos o mundo.
O que faz: Jornalista, trabalha com comunicação, marketing, caminha, pedala, mergulha e medita quando pode.
Pecado gastronômico: Sem dúvida, chocolate e tigela de açaí. Chocolate amargo com maior concentração de cacau é saudável e alivia a consciência.
Melhor lugar do mundo: aquele em que reside entre o instante que acabou de terminar e ainda nem começou, mas também aquele que se movimenta, interage, cria e recria, vibra, cintila e pulsa dentro de nós;.
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Atualizado em 6 Set 2011.