Guia da Semana

A região do Vêneto, localizada ao norte da Itália, é bastante familiar à região da Serra Gaúcha, pois foi de lá que muitos de seus ancestrais emigraram no século 19, em busca de uma vida nova em terras distantes. Eu me incluo neste passado, com a diferença de que meu pai emigrou mais recentemente, depois da segunda guerra mundial. Desde muito cedo, fui familiarizada com os nomes das cidades, das comidas, lembro de quando comprávamos alcachofra e a moça do caixa, invariavelmente, tinha que perguntar o que era aquilo tão diferente.

Vêneto é uma região muito bonita e interessante e, para aqueles que tem vontade de conhecê-la, resolvi montar um roteiro básico, onde inclui as coisas que são imperdíveis neste trajeto. Ele começa na cidade de Verona, imortalizada na tragédia de Shakespeare, que narra o romance impossível de Romeu e Julieta. Saindo do Brasil, até Milão, você pode optar em alugar um carro no aeroporto e pegar a autoestrada, ou pegar um trem até Verona e lá, sim, alugar um carro.

Quando estive lá, fiquei apenas dois dias. Em 48 horas, é possível fazer muita coisa, pois a cidade não é enorme. O centro histórico é lindo e bom de conhecê-lo a pé ou de bicicleta. As principais atrações são a arena romana, um anfiteatro romano, construído no ano 30 D.C., que está muito bem conservado e até hoje são apresentadas óperas e shows durante o verão.

A casa de Julieta também atrai muitos turistas e apaixonados, que deixam bilhetinhos de amor na entrada do túnel que leva até a famosa sacada.

Outro atrativo da cidade é o comércio, pois está concentrado em uma única rua, que vai desde a Arena, até a casa de Julieta. As lojas são as das melhores grifes italianas. Passeie muito pela cidade, entre em suas igrejas, pois elas, às vezes, escondem raros tesouros.

Seguindo o roteiro, a próxima parada é a pequena cidade de Soave, onde videiras e um lindo castelo medieval, localizado no topo de uma colina, dominam a paisagem. Estacione o carro e vá caminhando até ele. É uma subida, mas vale a pena, pois de lá se tem uma vista de 360º de toda a região. E a cidadezinha nos dá a sensação de ter voltado nos tempos de Ticiano e Tintoretto. Pare em algumas das tantas caves e bares para saborear um Spritz, bebida muito comum por estas bandas.

Depois de cerca de 45 quilômetros, chegamos à Vicenza, famosa pelas feiras de ourivesaria. Vicenza é outra cidade que vale muito a pena conhecer. Não é um local que transborda de turistas como a maioria das cidades italianas. No centro, está Pizza del Signore, com um café estrategicamente colocado. De lá, é possível ver a vida dos vicentinos passar. Outra dica: não deixe de visitar o Teatro Olímpico, projeto do ilustre arquiteto renascentista Andrea Palladio. O teatro agenda apresentações até hoje e tem, desde sua criação, seus cenários incrivelmente bem conservados.

Passeie também pela rua principal a Corso Palladio. Ela está cheia de lojas, cafés, livrarias e muitos restaurantes nas adjacências. Mas antes de deixar Vicenza, reserve um tempo para conhecer La Rotonda, uma vila que possui um belíssimo exemplo da arquitetura renascentista. Somente confira os horários de visitação, que são poucos.

De Vicenza, conheci diversas opções de passeios. Se quiser um pouco do ar da montanha, minha sugestão é Asiago, uma espécie de Gramado dos vicentinos. A cidadezinha guarda muito as características austríacas e é o centro de esqui no inverno. A paisagem é muito bonita, no verão. É lá que você encontra o famoso queijo Grasso de Asiago. Esta região era muito utilizada como estação de veraneio. Muito vicentinos vinham para a montanha, onde o ar era mais fresco e o contato com a natureza maior.

A família do meu pai possuía uma pequena casa num vilarejo chamado Mazo. Este lugar povoou a minha infância, pois meu pai falava dele como fosse o paraíso sobre a Terra. Nas suas memórias ligadas à Itália, ele sempre fez questão de que todos nós fôssemos lá conhecê-lo. É um lugar de onde sai uma linda trilha montanha acima, muito agreste, perfeito para um piquenique.

Outra cidade que conheci foi a universitária Padova (ou Pádua, em Português). Entre as atrações está a Basílica de Santo Antônio. Este mesmo santo casamenteiro, além de você pedir uma ajudinha a ele para encontrar o par perfeito, você pode apreciar as 29 peças feitas pelo escultor italiano Donatello para o altar desta igreja.

É claro que em qualquer roteiro até o Vêneto precisa estar inclusa a cidade mais famosa: Veneza, também conhecida por La Sereníssima. Considerada a capital de uma das repúblicas mais poderosas da Itália, a República de Veneza, onde existia um intenso comércio com o oriente, principalmente com Constantinopla, a cidade conserva até hoje, em sua arquitetura, influências bizantinas. Veneza que sedia uma das bienais de arte mais prestigiadas e importantes do mundo.

Se você já foi a Veneza certamente tem alguma queixa do péssimo atendimento de garçons. A minha história foi que um garçom se negou a servir somente saladas para comer. Em Veneza chega a ser comum esse tipo de acontecimento. Mas não desanime, pois vale a pena passar por estes transtornos.

Fotos álbum: Arquivo Pessoal

Leia a coluna anterior de Clarisse Zanetello:

Uma bela passegiata

O mais belo da Europa

Aqui está quente


Quem é a colunista: Clarisse Zanetello Linhares.

O que faz: Professora de História da Arte.

Pecado Gastronômico: massa com molho vermelho.

Melhor lugar do mundo: Esta é muito difícil, olhem o blog e escolham!.

Fale com ela: Clarisselin@terra.com.br ou acesse seu blog Viajando com Arte.

Atualizado em 6 Set 2011.