Guia da Semana

Foto: Márcio Alexandre
Vista para a Ilha de Santa Catarina.


Esta seguramente faz parte das trilhas mais legais que já realizamos em Florianópolis. Partimos às 10h, da Barra da Lagoa, de barco, com toda segurança necessária (casco de aço, bote, coletes, etc.) rumo à edênica ilha tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

Saindo do canal natural da Barra da Lagoa, avistamos formações rochosas interessantes, com possibilidades de trilhas alternativas à Praia da Galheta após costões, além do contorno exuberante da própria Barra de Moçambique. Visualizamos as praias da Galheta, Mole, Joaquina (tivemos a nítida dimensão das belíssimas e colossais dunas dali) e Campeche, com o barco já apontando para a ilha com mais de 1.500 metros de comprimento e 700 de largura, em uma área total de aproximadamente 420 mil metros quadrados.

O barco fez a abordagem pela porção norte e logo entrou a oeste para desembarcar os ávidos trilheiros neste encanto natural, que sazonalmente recebe a nobre visita de ilustres baleias, leões-marinhos, tartarugas, pingüins e lontras.

O colorido e a transparência das águas impressionaram. Tratamos de nos apresentar para a trilha, em direção ao sul da ilha, com o objetivo de atravessar de leste a oeste por dentro da Caverna do Morcego.

Antes de iniciarmos a atividade, precisávamos entender a importância do lugar, com oficinas líticas e gravuras rupestres datadas de até quatro mil anos atrás, além de ruínas de armação de baleias em 1772.

A participação nesta atividade exigiu o cuidado redobrado e especial com a conservação do local e de pessoas que realmente já estavam acostumadas com caminhadas ecológicas. Contamos com a presença de companheiros trilheiros de Florianópolis e São Paulo, junto com a aprazível companhia de novos amigos, que só vieram abrilhantar o passeio, iniciado na Praia da Armação. A atividade se iniciou às 12h20.

Foto: Márcio Alexandre
Trilha para a Caverna do Morcego.


A aventura

Antes do início dos percursos, avistei um quati de tamanho maior em relação aos que estava acostumado a ver, atravessando o começo da trilha. Logo observamos uma vegetação primária e secundária como pés de café e a participação ativa dos quatis na semeadura. Estes bichinhos, diga-se de passagem, acabaram se tornando os únicos predadores da região, deste deslumbre que se situa na costa sudeste da Ilha de Santa Catarina, caçando inclusive, todas as cobras de lá.

Logo no começo, contamos com a visita do belíssimo Tié-sangue, pássaro de deslumbrantes tonalidades rubro-negras. A nossa caminhada prosseguiu em plena Mata Atlântica. Logo a beleza da natureza nos trouxe mais alegrias. Raios solares se interpenetravam por entre as copas e folhas das árvores, produzindo um espetáculo de tons verdejantes e dourados.

Após a subida vem uma linda descida com escadas naturalmente construídas pelas raízes das árvores, com as laterais da trilha adornadas por flores róseas. Aqui usamos a criatividade para descer as rochas em estilo tobogã. Caminhamos ligeiramente ao norte para vermos desenhos geométricos e antropomórficos, gravados em decorrência da passagem de povos pré-históricos pelo local. Ouvimos também as explicações sobre as rochas compostas por lava vulcânica, com dez minerais, mais porosa, facilitando a produção dos desenhos, em contraposição à outra com apenas dois tipos de minerais, bem mais resistente.

- E então, pessoal: vamos à Caverna do Morcego?
- Vamos lá!!!

Foto: Márcio Alexandre
Entrada para a Caverna do Morcego.


A Caverna do Morcego

Paramos rapidamente para admirar as pequenas piscinas naturais cristalinas ricas em vida. Encontramos uma linda e rubra-vibrante anêmona, uma camuflada estrela-do-mar (que se abriu toda para nos cumprimentar), camarõezinhos, o raro peixe-gato... Uau!!! E o que dizer do visual de costão com aquelas águas azuis cintilantes, contrastando com o show de cores e esculturais das rochas?!

Escalamos até avistar um monumental conjunto rochoso. Enfim, a magnífica Caverna do Morcego. Subimos nas rochas negras, passamos por uma passagem pequena, produzida pelas rochas com cuidado e jeito.

Uma espessa fenda de mais de dez metros de altura nos aguardava. Era o portal para uma outra dimensão? A dimensão do deslumbre, sem dúvida! Era a entrada da caverna. Irado!!! Olhamos para cima e parecia que artistas haviam esculpido aquela entrada: divina... E iniciamos a delicada passagem. Cada um ajudava o outro a passar por aquela estreita fenda, deixando o corpo escorregar para dentro da caverna. Ficou quase tudo escuro. Notamos alvas e dinâmicas imagens surgindo na base da caverna: aberturas para a entrada de água na parte inferior dela. Muito legal! Paramos ali para contemplar o silêncio por alguns instantes, respirar o frescor daquele delicioso ambiente. Parecia que o filme estava para começar. O filme de nossas vidas... E conversamos sobre conservação ambiental, aspectos relevantes da trilha e lanchamos.

A segunda parte da trilha e a surpresa

Hora de atravessar para o oeste da Ilha do Campeche. E tivemos que nos abaixar e sentarmos, para sairmos por uma pequenina fenda com certo jogo de cintura e tranqüilidade. Um espetacular visual para o mar e a costa leste de Floripa ao fundo se descortinou. É para delirar mesmo...

Descemos as pedras com segurança e admiramos o visual para a praia da Armação, Morro das Pedras, Campeche... Estávamos na metade do caminho. Muito ainda por vir...Subimos novamente no sentido leste, para um trecho de pedras e vegetação baixa, que proporciona um visual sem igual. Adentramos na vegetação sentido oeste e descemos naquela belíssima mata. Que trilha!

Acabou? Que nada... Quase no final da trilha conhecemos "A Surpresa" que o Edson, nosso guia, tanto anunciara no decorrer da atividade. Voltamos à trilha e chegamos aproximadamente às 14h50 na praia, após percorrer boa parte da costa oeste da ilha. Aproveitamos para tomar um banho de mar super-refrescante, para coroar a trilha na Ilha do Campeche.

Assim que o barco chegou, veio a chuva para nos refrescar (agradecemos por este acontecimento depois de muito calor) após momentos especiais e triunfantes.
Quem é o colunista: costumava me imaginar como a letra de música de uma banda chamada Guided by Voices: "I am a journalist - I write to you to show you: I´am an incurable and nothing else behaves like me..." Porém, com o tempo venho descobrindo que eu, assim como você, todos nós, somos vazios como o espelho e abertos como o espaço. E no intervalo, juntos, criamos o mundo.
O que faz: Jornalista, trabalha com comunicação, marketing, caminha, pedala, mergulha e medita quando pode.
Pecado gastronômico: Sem dúvida, chocolate e tigela de açaí. Chocolate amargo com maior concentração de cacau é saudável e alivia a consciência.
Melhor lugar do mundo: aquele em que reside entre o instante que acabou de terminar e ainda nem começou, mas também aquele que se movimenta, interage, cria e recria, vibra, cintila e pulsa dentro de nós;.
Fale com ele: caminhandopelavida@gmail

Atualizado em 6 Set 2011.