Guia da Semana

Fotos: sxc.hu


Contrastando com a paisagem litorânea que coincide com as cordilheiras da cidade maravilhosa, destaca-se uma comunidade que a cerca de 80 anos se perpetua como a maior favela do Rio de Janeiro. Justamente ali, no coração da zona sul, região nobre da capital carioca, os morros ressaltam à vista dos passantes sem constrangimento. Sua população é estimada em 120 mil habitantes pelos registros da CIA de energia elétrica, 62 mil pelo último censo oficial e em mais de 150 mil segundo os moradores. Fato evidente é que a Rocinha compreende uma realidade ímpar.

Não diferente das outras ocupações do genêro, o local concentra um grande aglomerado de barracos intercalados por valas; cenário que se conjuga com residências de alvenaria num estágio mais avançado da comunidade. No total, são 35 mil casas e prédios distribuídos em 25 sub-bairros.

Com o intuito de controlar o crescimento desordenado da favela, a prefeitura da cidade implantou em 2001, o Eco-limites, um projeto urbanístico que delimitou a zona onde é permitida a construção com estacas de ferro unidas por cabos. Contudo, a Rocinha continua com um quadro de população crescente devido ao forte influxo de migrantes de outros estados, tradicionalmente da região nordeste do país, mas cada vez mais do interior do estado.

Mesmo com todas as suas deficiências sociais, a maior favela do Rio parece concentrar um nicho consumidor em potencial. Tanto que a OceanAir decidiu abrir um loja exclusiva para vender passagens financiadas em até 36 parcelas, dentro da comunidade. O público foco da companhia são os nordestinos que moram no local.

A intenção é mostrar para essas pessoas, que geralmente utilizam ônibus como meio de transporte nas férias e para visitar os parentes, que viajar de avião é mais rápido, barato e confortável. Com base nessa realidade, a empresa estima em 30 mil o número de clientes, entre os meses de dezembro deste ano e fevereiro do ano que vem.

Água morro abaixo, Fast Food morro acima
Privilegiada pela localização, a Rocinha tem vista para a pedra da Gávea - um dos principais cartões postais do Rio - e é margeada pela praia de São Conrado. Atraído por essas iscas, o jornalista Vinicius Aguiari resolveu fazer um passeio turístico pelo local, no ano de 2005. "Era feriado de sete de setembro, estava com um grupo de amigos. Em um dos dias que estávamos lá choveu. Como não deu praia, deu morro", brinca bem-humorado.

Conduzidos por um motorista de lotação que propôs o tour inusitado, Vinicius e os amigos vislumbraram os morros e suas peculiaridades. "Fomos surpreendidos, quando vimos a nossa frente uma lanchonete do Mc Donald´s. Isso nos fez elucidar uma realidade muito mais complexa do que a que imaginávamos. Mas o que mais nos sensibilizou foi a vista impressionante que tivemos do alto do mirante, na laje de um dos moradores. Realmente, uma sensação imensurável", lembra.

Vinicius hoje faz uma análise do que vivenciou na época: "É incrível como o contraste social existe mesmo dentro dos guetos. Enquanto uns comem big mac, outro passam fome". A presença de uma lanchonete Fast food dentro de uma favela confirma a evidência que o capitalismo atua, mesmo nos cenários de plena exclusão. Mas os serviços oferecidos à população do local não param por aí. Atualmente, a Rocinha conta com um grande aparato comercial com 2.700 estabelecimentos comerciais, três bancos, três rádios comunitárias, TV a cabo, 100 lan houses.

Histórico
Relatos de livros e depoimentos de pessoas que residiram e residem na Rocinha, contam que a comunidade recebeu seus primeiros habitantes, logo após a II Guerra Mundial, vindos de Portugal, França e Itália. Eles viviam, basicamente, da agricultura e possuíam pequenas roças e vendiam suas produções no povoado vizinho (Gávea). Daí surgiu o nome Rocinha.

Mineiros, baianos e imigrantes da região nordeste, chegados em meados dos anos 50, também fazem parte deste crescimento populacional. Na década de 70, surgem discussões de grupos organizados, visando o desenvolvimento social da comunidade. São reivindicados perante ao poder público, saúde, educação, água, luz e saneamento básico. A água e a luz chegam em algumas residências.

Na década de 80, surgem as escolas, creches e centros comunitários. É implantado o Centro de Saúde, o Núcleo da CEDAE e a Região Administrativa. O comércio, dos mais variados segmentos, cresce a cada dia. A população, com 80% oriundos da região nordeste, faz parte dos 120 mil habitantes.

Através da Lei 1995 de 18 de julho de 1993, a Rocinha é transformada em bairro e a partir daí, grandes investimentos e empreendimentos começam a compor este universo de hoje. O poder público e os serviços instalados em parceria com empresas privadas, oferecem à população todo o tipo de assistência.



Atualizado em 6 Set 2011.