Guia da Semana

Foto: Divulgação

Uma festa cheia de energia e uma explosão de alegria impressionante. O maior festival folclórico do planeta, com mais de 40 mil fanfarrões. Uma oportunidade única de conhecer pessoalmente o famoso Boi de Parintins... foram estas algumas das razões que me levaram a voar por horas em diversos aviões (incluindo um Brasília) para aterrissar em uma ilhota perdida no meio do Rio Amazonas, em plena selva de castanheiras e manguezais, onde eu participei de uma das comemorações mais eletrizantes e memoráveis da minha vida.

Antes disto, os únicos conhecimentos que tinha do festival se restringiam às aulas de estudos sociais no primário e à música imortalizada pela simpática Fafá de Belém - quem não se lembra de `Vermelho´?

Para registrar algumas informações oficiais aqui, o festival ocorre sempre no final de junho, e em três noites consecutivas o Boi Caprichoso - representado pela estrela azul - e o Boi Garantido - representado pelo coração vermelho - apresentam primorosas performances com carros alegóricos, fantasias incríveis, música contagiante e uma energia indescritível. Cada um deles tem 3 horas por noite de apresentação, e no dia seguinte à terceira noite, os jurados elegem um boi vencedor. A ´galera´ - é este o nome dado à audiência que canta e dança ao fundo da apresentação - tem um papel especialíssimo no festival. Esqueça o carnaval do Rio - não consigo comparar uma comemoração feita por nativos e em pleno mato com a festa comercial e cara que se tornou o carnaval carioca.

Voltando ao tema da viagem, comprei minha passagem e só então comecei a pesquisar um local para hospedar. Os resultados do Google me traziam apenas opções caras de hotéis cuja descrição mais parecia a de um oásis em meio ao selvagem ambiente. Os preços eram desanimadores, e logo resolvi procurar por contatos que fossem para a festa no Orkut. Quem sabe eles poderiam me indicar um barco com redes ou um quarto para alugar. Diversos perfis já confirmavam a presença na tão esperada festa, e foi uma destas pessoas que me convidou para me hospedar junto com mais 20 manauaras que viajavam de barco para o festival.

A casa era abandonada e sem móveis - cada um estendeu sua rede ou seu colchonete e armou ali o seu cantinho. Conforto? Para quê? Não íamos passar muito tempo dentro da casa de qualquer forma. Como um paulista desconfiado, levei cadeados para garantir que minhas coisas não fossem bisbilhotadas. Em poucas horas, me desarmei... na ilha, ninguém quer saber de nada além de brincar de boi e a única guerra ocorre entre o Boi Azul e o Boi Vermelho.A recepção das pessoas foi bastante calorosa e em poucas horas já estava no Bumbódromo.

Não tive escolha alguma - o grupo era inteiro de Caprichosos do Boi Azul, e lá estava eu em meio à galera observando o Boi Vermelho em sua performance inicial e só então me acabando de pular enquanto o Boi Azul se apresentava. Foram 7 horas de intensa participação nas arquibancadas do festival.

Na segunda e na terceira noite, consegui ingressos de cambistas e paguei pouco menos de R$100,00 por noite para observar o espetáculo num camarote especial. A grande vantagem do camarote foi poder assistir à festa de frente - já que nem todas as posições do bumbódromo oferecem uma visão privilegiada. Nestes camarotes, conheci pessoas muito interessantes - como a sogra do secretário de turismo de Manaus, o prefeito de Cuiabá, a apresentadora do GNT Fashion e outras figuras. Logo que o festival acabava, íamos todos para a casa da tia de um dos amigos do grupo para comer tacacá, sopas e outras comidas locais - para então nos acabarmos de dançar na praça da cidade até o dia seguinte. A rotina era dividida entre poucas horas de sono e muitas horas do ritmo do Boi.

Na última noite, uma emoção grandiosa. Apenas os nativos da ilha podem desfilar nos carros alegóricos e participar da festa no palco. Como o grupo que me hospedou conhecia alguns nativos, nos fantasiamos de caboclo farinheiro e participamos de dentro do palco da festa - defendendo o amado Boi Caprichoso.

A recordação mais incrível que trouxe desta rápida e intensa viagem foi a energia positiva que o festival tem. As pessoas tornam a ilha inteira especial, e apesar da rixa não há brigas e a galera é composta por negros, índios, brancos, ricos, pobres, velhos, crianças, travestis e celebridades. As apresentações são realmente emocionantes e me fizeram chorar de alegria.

Não posso deixar de expressar a explosão de alegria que foi saber, já no aeroporto em Belém, que meu Boi Caprichoso tinha sido eleito o campeão de 2007. Saciado pela curiosidade de conhecer o festival, alimentava então uma nova expectativa... como participar também em 2008 deste incrível festival?

Para o público paulista que pouco sabe sobre a região Norte do nosso país e das riquezas culturais que ela preserva, além das riquezas naturais, tenho a certeza de que a experiência vale cada centavo e torna ainda maior a admiração que sentimos pelo nosso povo.

Saiba mais sobre a festa no site da Prefeitura de Parintins.

Quem é o colunista: é o João

O que faz: trabalha com internet

Pecado gastronômico: chocolate de verdade

Melhor lugar do Brasil: Cambará do Sul

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Atualizado em 6 Set 2011.