Guia da Semana

Foto: Arquivo Pessoal

Quando viajo, na maioria das vezes, tento criar algum tipo de laço com o lugar. Além disso, sou fascinada por história e sempre tento descobrir algumas coisas e curiosidades sobre o local. Minha última viagem foi um exemplo claro disso. Passei a virada do ano em uma pequena praia chamada Parnaióca, que fica em Ilha Grande, na baía de Angra dos Reis.


A ilha é um lugar paradisíaco e apesar das longas 4 horas de barco que enfrentei para chegar lá, fui recompensada por cada minuto. Mas, particularmente, o que mais me deixou emocionada foi conhecer melhor a história dessa praia e de uma parte da ilha também. Durante muitas décadas, a ilha foi restrita para o uso do governo, que instalou uma enorme penitenciária por lá: o Instituto Penal Cândido Mendes. Depois de algumas mudanças, a prisão se instalou na praia de Dois Rios (vizinha de Parnaióca, dividida por uma trilha pesadinha de se fazer, mas que vale a pena tentar).


Lá recebeu a "ilustre" visita de presos políticos famosos, como Graciliano Ramos (que depois de sair escreveu seu livro Memórias de um Cárcere), Fernando Gabeira e Madame Satã. Mas também, como toda prisão, tinha seus presos mais perigosos, como Escadinha, que fugiu de lá de helicóptero!!! Essa mistura entre bandidos e militantes que deu origem ao Comando Vermelho. A prisão foi desativada e implodida em 1994, e hoje, só existem ruínas. Mas, com o que sobrou, dizem que será construído um museu que ficará pronto até 2012. É torcer para que isso aconteça, dentro dos limites ambientais, claro.


Só esse pedaço da ilha já é uma enorme parte da história do nosso país. E isso me deixou fascinada. O mais impressionante em Dois Rios foi ver também a antiga vila dos moradores. Hoje parece uma cidade fantasma, com diversas casas caindo aos pedaços e ruínas. Como é parte de uma reserva ambiental, então o turismo é precário. A praia também por si só é uma das mais bonitas e limpas da ilha, até pelo fato de ser uma das mais isoladas. E os dois rios que deságuam, cada um de um lado da praia, completam o cenário fantástico. A permanência nesta praia é proibida, então ao entardecer você é obrigado a retornar à Vila de Abraão ou Parnaióca (as mais próximas por trilha). Caso contrário, você pode ser expulso de lá pelos agentes e policiais florestais.


Mas a praia de Parnaióca não fica atrás nessa "história". A vila antigamente era a mais populosa da ilha, mas devido a proximidade com Dois Rios e as constantes fugas dos presos, os moradores foram abandonando o local, que hoje só possui quatro moradores fixos: o seu João, Silvio, Janete e Marta. São uma parte viva da história do lugar e até hoje brigam para garantir o que é seu por direito: o espaço. Aparentemente, empresários interessados no turismo destruidor e sem preservação, estariam disputando a propriedade da ilha com os descendentes nativos de Parnaióca. Uma disputa que particularmente, estou torcendo MUITO para virar a favor dos nativos.


Quem já foi até a ilha deve entender o que estou dizendo. Não se trata apenas de um lugar para lazer. É interessante conhecer toda a história do local que se está visitando, conversar com os nativos e entender o que se passa por ali. Descobrir e divulgar informações como essas devem ser uma constante em nossos roteiros de viagem. Não se deve ignorar a história de um lugar, principalmente quando esta tem muita relação com a sua. Devemos começar a explorar o turismo consciente e passar isso adiante.


Quem é a colunista: Monica Campi

O que faz: jornalista


Pecado gastronômico: doces e junkie food

Melhor lugar do Brasil: Todo o Nordeste

Fale com ela: [email protected]

Atualizado em 6 Set 2011.