Guia da Semana

Foto: Arquivo Pessoal

Na década de 60 ingleses e portugueses continuavam inspirados para explorar lugares ainda não conhecidos. E nessa brincadeira, uma vila no meio da serra, foi encontrada.

Localizada próxima a cidade de Rio Grande da Serra, os ingleses viram ali o espaço perfeito para dar continuidade em seus investimentos ferroviários. A localização facilitava, muito, no caminho para o porto. Já os portugueses não podiam deixar de explorar o comércio do dia-a-dia, onde certamente, cedo ou tarde, os funcionários da ferrovia iriam utilizar.

O que era apenas para ser mais um acampamento temporário, para funcionários da ferrovia, aos poucos se tornou na Vila de Paranapiacaba. Os traços de sua construção continuam fortíssimos, assim como, a declaração de que ali realmente existiam os mais poderosos e os menos.

As casas maiores e mais altas pertencem aos chefes, enquanto, as menores e mais baixas aos empregados. A hierarquia mantida até nas residências permite à vila um diferencial de construção e posicionamento mais do que interessante. As casas ainda fazem questão de mostrar de onde vieram. Em um tempo onde a tecnologia ainda tinha suas dificuldades para comunicação, internet nem pensar, as casas pré-moldadas eram importadas da Inglaterra. Exatamente, é possível que Paranapiacaba tenha em suas terras as primeiras casas pré-moldadas do Brasil.

Sendo assim, é visível a forte característica inglesa. Alguns moradores fazem questão de ter até cachorros que te levem à lembrança de um mundo inglês. E, como se não bastasse, a Serra presenteia momentos de foggy, isto é, neblina, intensos. Desta forma, não se assuste quando em um piscar de olhos não mais enxergar um palmo à frente. Para o toque final, a réplica do Big Ben te faz viajar em segundos.

Com suas muitas lendas assustadoras, a neblina e a aparência de cidade abandonada, uma noite em Paranapiacaba pode ser um caminhar pelas ruas de Sherlock Holmes ou, porque não, mergulhar em histórias de Stephen King. Por essas e outras razões, indico que se acomode na vila, deixe uma noite reservada para dormir por lá.

As pousadas são diferenciadas, você dormirá no quarto de algum morador local, poderá ser rústico como ser um quarto todo colorido com belas borboletas. Este intercâmbio permite que tenha uma sensação mais intensa do local. Não se acanhe. Tenha bons modos e sinta-se em casa. O valor da diária não costuma passar dos R$50, baixa temporada, tudo dependerá do que busca.

Já na hora de de comer, entre as várias opções o SPR - Sopas, Petiscos e Refeições (Av.Anthonio Olynthio, 481) oferece mais do que boa comida, feita na casa, à la carte. É o lugar para ficar à vontade, tomar uma sopa de entrada, afagar o Dexter - o cachorro mais famoso da vizinhança e, ainda por cima se deliciar com boas histórias da vila. Vá sem ter hora para levantar da mesa, pois, provavelmente, a conversa será empolgante.

Paranapiacaba antes movida a Marias Fumaças, atualmente utiliza da ferrovia e sua história como atrativo turístico. A vila é pequena e deverá ser conhecida a pé. Não vá de carro, opte pelo trem - ele é legal, tem até ar condicionado - serão R$2,55. Embarque na Estação da Luz, em São Paulo, e siga sentido Rio Grande da Serra, sim é a última estação, quando você começar a ver só mato do lado esquerdo e do lado direito significa que está chegando.

Logo que sair da estação, olhe para sua esquerda, atravesse os trilhos do trem - paciência, não queira atravessar antes da sinalização dar o "ok", então, verá o ponto de ônibus (R$2,50). De São Paulo à Paranapiacaba serão cerca de duas horas.

Vista roupas confortáveis, em uma única tarde poderá sentir frio e calor em questão de minutos. Não use saltos e nem chinelos, as ruas são irregulares. Uma mochila é bem vinda se pernoitar, caso contrário, não há necessidade. E, leve dinheiro vivo, não há caixas eletrônicos na vila e a maioria dos estabelecimentos não aceitam cartões.

Permita-se voltar no tempo e curtir um pouco do clima inglês na serra paulista, curtir suas histórias e papear com os moradores que mesmo acanhados são realmente simpáticos. Agora, se preferir um pouco mais de agitação ao momento pacato, porém, com a vila inclusa no pacote, anote na agenda, os finais de semana de julho são agitados pelo Festival de Inverno de Paranapicaba.


Quem é a colunista: Carolina Teixeira, 23 anos, turismóloga.

O que faz: É consultora educacional de intercâmbio cultural, se entregou ao mundo do turismo, pois, desde que se conhece por gente, fica mudando de um lugar para outro.. Também come, fala (muito), dorme, se diverte e viaja igual a tantos, além de escrever vez ou outra.

Pecado gastronômico: Café (não importa como), uma boa massa, sorvete no frio, bolinho de chuva e sonhos aos domingos.

Melhor lugar do Brasil: São Paulo.

Fale com ela: carolinatex @gmail.com ou acesse seu blog

Atualizado em 6 Set 2011.