Guia da Semana

Pokhara é uma cidadezinha à beira do lago Pewa, no Nepal, a pouco mais de 200 quilômetros de Katmandu, a capital do país. No passado, foi um point de hippies; eu a visitei várias vezes desde então. Recentemente, a cidade vem atraindo, cada vez mais, praticantes de esportes radicais e turistas convencionais. Todos chegam em busca das maravilhosas paisagens proporcionadas pelas montanhas do Himalaia, que se estendem próximas à cidade. Naquele ponto da cordilheira, onde está a cadeia do Annapurna, fica o pico Machapuchare, também conhecido como Fishtail por seu formato de rabo de peixe.

Estive em Pokhara em março de 2010, com minha mulher, para finalizar meu livro A Vaca na Estrada. Surpreendi-me ao ver o quanto a cidade cresceu desde a última vez em que estive lá, 14 anos atrás. Quase não a reconheci. Tive a sensação de que ela dera as costas ao seu belo lago, cujas margens, antes verdes, viraram uma trilha poeirenta, onde passeiam búfalos. A rua que margeia o lago não tem vista para ele: é ladeada de lojas, cafés, restaurantes, agências de viagem, casas de câmbio e até uma incipiente e anacrônica "vida noturna": bares que tocam rock dos anos 80 no último volume.

Mas Pokhara continua o melhor lugar para descansar depois de um período longo em Katmandu. As ruas são tranquilas, agradáveis, sem o atordoamento da capital e aquela loucura do Thamel.

Em Pokhara, visitamos o mosteiro budista tibetano Matepani, no alto de uma montanha. Ao chegar, notamos, pela cantoria e pelo cheiro de incenso, que dentro do templo, cuja porta era fechada com uma larga cortina, ocorria alguma cerimônia naquele exato momento. Vendo pares de sapatos do lado de fora, tiramos os nossos e nos aproximamos da cortina, devagar, curiosos, mas receosos de perturbar. Um monge abriu a cortina e nos convidou a entrar. Mostrei-lhe o aparelho fotográfico. Fez um sinal, nos autorizando a registrar o momento.

Entramos em silêncio. À nossa frente, monges e seus pupilos, meninos de 10 anos ou menos, todos vestidos de vermelho, recitavam mantras, intercalando preces com toques de longas trombetas e sons de tambores. Tomando o cuidado de manter um comportamento discreto, sentamo-nos sobre um tatame, de onde obtivemos, em silêncio, várias fotos.

Essa estada em Pokhara proporcionou uma das mais emocionantes experiências "aéreas" de minha vida. Eu já voara de ultraleve, de balão, de hidroavião, de helicóptero... Mas o voo de paraglider motorizado junto ao Himalaia superou tudo isso.

Minha mulher, inicialmente, não se entusiasmou. Sem saber muito a respeito, olhou com desconfiança a foto da engenhoca e quase desistiu da aventura. Depois de se informar melhor, acabou topando. Num dia excepcionalmente claro, para sorte nossa, ela seguiu comigo, ainda um pouco ressabiada, para o aeroporto. Eu, como já pilotara ultraleves, sentia segurança: acidentes são raros.

Como o ultraleve, o paraglider motorizado plana bastante. Não cai como uma pedra. Se estiver voando alto, o piloto pode escolher facilmente onde pousar. Algumas dezenas de metros de terreno plano bastam para o pouso.

Logo estávamos vestindo blusões especiais para suportar o frio lá no alto e embarcando cada um de nós em um paraglider. Os dois aparelhos eram conduzidos por pilotos russos e os paragliders de fibra de vidro e motor traseiro me pareceram ainda mais fáceis de serem pilotados que o ultraleve. Como não pude pilotar nenhum, não tenho certeza. Mas decolam com a elegância de um flamingo.

Do alto, preso por um cinto de segurança a um assento que parecia solto no espaço, eu olhava Pokhara lá embaixo, via o lago Pewa como um espelho azul-marinho entre montanhas verdes. Sobrevoamos o Pagode da Paz Mundial, que ainda não visitáramos, fora da cidade, no alto de uma montanha. Depois, nos aproximando do Himalaia, fiquei extasiado diante dos picos nevados do Annapurna iluminados pelo sol da manhã, belos e gigantescos. O Himalaia visto do alto é uma enorme muralha de rocha e neve que separa o Nepal do Tibet. Como minha mulher e eu estávamos em aparelhos diferentes e tínhamos conosco câmeras com poderosos zooms. Então, pudemos não apenas captar imagens da cadeia himalaiana e da cidade 800 metros abaixo de nós, mas também nos fotografar mutuamente.

Depois de pouco mais de meia hora de voo, os aparelhos foram dando voltas em lentos movimentos descendentes em direção à cidade. Avistando o aeroporto, perguntei-me como seria a aterrissagem. Foi muito suave e tranquila. Quando descemos dos aparelhos, estávamos alegres e emocionados. Quanta beleza!

Fotos álbum: Arquivo Pessoal

Quem é o colunista: Lúcio Martins Rodrigues.

O que faz: Editor dos guiias de viagem GTB, autor de A Vaca na Estrada.

Pecado Gastronômico: Centollas à Provençal.

Melhor lugar do mundo: Paris.

Fale com ele: acesse o site Manual do Turista.

Atualizado em 6 Set 2011.