Guia da Semana

É difícil pensar que um dos maiores clássicos da literatura completa 150 anos esse mês. Estranho pelo fato de que muitos dos jovens de vinte e poucos anos de hoje tiveram uma infância na qual tal história esteve presente e esse tempo não parece tão distante assim.

Entretanto, contrariando nosso tempo mental, a maior obra de Lewis Carroll - Alice no País das Maravilhas - já ultrapassou a marca de um século e meio de vida e até hoje é inspiração para releituras, remakes, teorias, interpretações e trabalhos acadêmicos.

Assim, é uma história atemporal, que se encaixa em qualquer geração. Em muitas famílias, inclusive, ela passou da avó para mãe, da mãe para a filha, da filha para os irmãos mais novos e assim por diante. Dessa forma, eternizou-se em nossas boas memórias e foi combustível para nossa imaginação, provando que um de seus maiores valores é levar de volta aos adultos o olhar infantil sobre o mundo, misturando os conceitos de tempo e espaço, maldade e justiça, conflitos existenciais e selvageria e civilidade.

Por isso, o Guia da Semana lista 13 curiosidades que você precisa saber a respeito. Confira:

LEWIS CARROLL

Escritor, lógico e matemático britânico, Charles Lutwidge Dodgson se formou na faculdade Christ Church, da Universidade de Oxford. Adotou o pseudônimo Lewis Carroll, como ficou conhecido e é chamado até hoje.

Desde a infância o escritor gostava de escrever e inventar brincadeiras, divertindo os irmãos com poemas, desenhos e charadas. Tímido e gago, cultivava amizades com crianças e dizia que elas davam mais atenção às suas histórias que as pessoas de sua idade.

ORIGEM DA OBRA

Em 1862, Lewis Carroll passeava de barco com seu amigo Robinson Duckworth e as três filhas do vice-chanceler da Universidade de Oxford. Para distrair as meninas, contou-lhes uma história de improviso, sem pretensão alguma.

ALICE

Uma das três irmãs presentes no barco era Alice Pleasance Liddell, de dez anos. Quando Carroll contou a história que tinha Alice como protagonista, a garota gostou tanto que pediu para que ele a escrevesse.

Diz-se que a garota inspirou sua personagem principal, e apesar de o autor ter dito em vida que não teria se inspirado em nenhuma criança real, existem muitos fatores que nos fazem pensar o contrário.

As datas das publicações das histórias de Alice, por exemplo, são marcantes: Alice no País das Maravilhas é datada de 4 de julho, dia do aniversário de Alice Liddell; e Alice Através do Espelho é de 4 de novembro, seis meses após seu aniversário. Além disso, no segundo livro a personagem diz que tem sete anos e meio, idade que a garota real teria na época.

Como se não bastasse, ambas as obras foram dedicadas a ela e no final da segunda existe um poema em que as letras iniciais de cada verso formam o seu nome completo.

HISTÓRIA

A obra conta a história de Alice, uma menina que, entediada, persegue um coelho e cai em sua toca, que a transporta para um lugar fantástico. Povoado por criaturas peculiares e antropomórficas, revela uma lógica onírica e a coloca em diversas situações que provocam diferentes sensações.

INFLUÊNCIA DA UNIVERSIDADE

A maior parte das aventuras foram baseadas e influenciadas em pessoas, situações e edifícios de Oxford e da Christ Church. Por exemplo, o Buraco do Coelho simbolizava as escadas na parte de trás do salão principal na Christ Church e acredita-se que uma escultura de um grifo de um coelho presente na Catedral de Ripon, onde o pai de Carroll foi um membro, forneceu também inspiração para o conto.

ENIGMAS

Ambos os livros infantis de Carroll contêm inúmeros problemas de matemática e lógica ocultos no texto. Em Alice no país das maravilhas, muitos enigmas contidos em suas obras são quase que imperceptíveis para os leitores atuais, principalmente os não-anglófonos, pois continham referências da época, piadas locais e trocadilhos que só fazem sentido na língua inglesa.

Por exemplo, no capítulo 9, o Grifo (animal mitológico) diz quantas horas por dia estudava: "Dez horas no primeiro dia, nove no seguinte, e assim por diante". Alice responde: "Nesse caso, no décimo-primeiro dia era feriado?" Ela está certa.

PUBLICAÇÃO

Lewis escreveu um manuscrito e foi apenas pela insistência de alguns amigos e escritores que decidiu publicá-lo, mas diferente da versão original. Entre algumas mudanças, aumentou o número de palavras de 18 mil para 35 mil, e acrescentou detalhes nas partes do Gato Cheshire e do Chapeleiro Maluco.

PROBLEMAS NA PRIMEIRA EDIÇÃO E SUCESSO DE VENDAS

A tiragem inicial de dois mil exemplares foi removida das prateleiras devido a reclamações do ilustrador sobre a qualidade da impressão e a segunda, disponibilizada no ano seguinte, esgotou-se rapidamente, tornando-se um grande sucesso. O livro foi lido por Oscar Wilde e pela Rainha Vitória.

Na vida do autor, o livro rendeu cerca de 180 mil cópias, foi traduzida para mais de 125 línguas e só na língua inglesa teve mais de 100 edições. A primeira impressão do livro (que fora rejeitada) foi leiloada por 1,5 milhão de dólares.

AMIZADE COM FAMÍLIA LIDDELL E BRIGA

Lewis Carroll era muito amigo da família Liddell e, por isso, frequentemente levava as crianças para passear. Todas eram modelos para suas pinturas e fotografias, mas Alice era sua preferida.

Muito se falou de seu envolvimento com a garota e não existem provas de que algo tenha existido. Entretanto, a amizade acabou de forma brusca. Durante muito tempo foi dito que o afastamento teria ocorrido pelo fato de que o autor teria pedido Alice em casamento, aos seus 11 anos de idade, fazendo com que os pais da garota pedissem para que ele sumisse.

POLÊMICA

Lewis Carrol teve também uma vida polêmica. Costumava dizer que gostava de crianças, mas exceto de meninos. Gostava de desenhar ou fotografar meninas seminuas (e outras completamente), com a permissão da mãe, e também trocava correspondências com elas - o que virou tema do livro "Cartas às suas amiguinhas", da editora Sette Letras. Nele, o conteúdo das cartas do autor às meninas com quem ele se relacionou é analisado de forma fria e racional e revela uma intimidade fora do comum entre Lewis e as meninas que ele fotografou.

Assim, muitos de seus biógrafos relataram-no como pedófilo, devido ao seu pouco interesse em mulheres adultas e sua intensa ligação com garotinhas.

REPRODUÇÕES E ADAPTAÇÕES

Ao longo do tempo, a obra foi ganhando novas versões e adaptações. Já são mais de 20 produções cinematográficas de Alice no País das Maravilhas, sendo a primeira de 1903, em um filme mudo dirigido por Cecil Hepworth e Percy Stow. As mais famosas são a versão dos Estúdios Disney, de 1951, e de Tim Burton, de 2010 - que chamou a atenção para a história novamente, fazendo com que editoras como Cosac Naify e Zahar produzissem várias novas edições do livro.

INTERPRETAÇÕES

Dos entendimentos mais inocentes aos mais complexos, existem pessoas que acreditam que Alice era esquizofrênica, vivia em um sanatório e a toca do coelho era a janela de seu quarto, onde passou toda sua vida e de onde desejava sair para conhecer o mundo.

Outros dizem que as transformações corporais sofridas por Alice são uma metáfora para o crescimento de meninas com a chegada da puberdade, oportunidade para inúmeras interpretações psicanalíticas.

O fato é que existem milhares de interpretações sobre a obra de Carroll e com o passar dos anos novas visões aparecem, o que é fascinante.

CONTINUAÇÃO

A obra fez tanto sucesso que Carroll decidiu escrever a continuação, que deu origem as obras Alice Através do Espelho e O Que Alice Encontrou Por Lá, publicados em 1872.

Por Nathália Tourais

Atualizado em 4 Jul 2015.