Guia da Semana

Despedida requenta canções e vende ingressos a rodo


Há tempos desgastado, o formato Acústico MTV caracterizou-se por ser um verdadeiro bálsamo para artistas que perambulam pelo o limbo musical - o que Capital Inicial e Kid Abelha podem provar sem muita dificuldade. Longe dos holofotes da mídia, as bandas não trepidam em requentar sucessos do arco da velha, conferindo-lhes uma nova roupagem desplugada, cuja validade costuma perdurar por pouco tempo. Antes de se separarem, os irmãos Sandy e Júnior vislumbraram no projeto a oportunidade dourada para engatar logo de uma vez disco, DVD e uma discutível turnê de despedida.

No caso da dupla, o álbum ganha um ar de comicidade sem precedentes. O fato é que nem Sandy Leah, nem Júnior Lima são mais talentos mirins figurando em programas de auditório dominicais. Assim, faixas como as imperecíveis Maria Chiquinha e Enrosca - gravada ao lado de Ivete Sangalo, a Madonna do Terceiro Mundo - beiram o patético quando são levadas a sério anos após ensandecerem uma garotada já bem crescida.

Nem mesmo a tentativa de destinar um expoente do universo hype, no caso Marcelo Camelo, para dar um toque descolado ao projeto é convincente. O tiro sai pela culatra e Camelo, que, diga-se de passagem, é um compositor de primeira, tem o filme queimado.

Banquinho, violão e tudo mais.
Cereja no bolo indigesto que tem sido os últimos anos de carreira da dupla, o Acústico MTV não esconde o intento de provocar comoção nos fãs mais saudosistas. Entrar em turnê de despedida, então, é uma maneira certa de arrebanhar milhares de seguidores aos shows, apagando definitivamente a má impressão deixada pelo fiasco que resultou as incursão dos irmãos em terras estrangeiras, ou ainda o episódio em que foram impedidos de se apresentar para o Papa Bento XVI, em maio deste ano.

Nada de novo no front

Embora Sandy tenha se livrado da abobalhada Cristal, personagem da malfadada novela Estrela-Guia, sua postura no palco não difere muito da protagonista do folhetim global. A cantora permanece afinada, sem sair dos trilhos, quase indiferente aos meandros das canções - o que costuma lhe deixar em desvantagem quando encara clássicos mais arredios do jazz e da bossa nova. Conduzindo música por música com uma naturalidade glacial, quase indiferente, tem-se a nítida impressão de que a técnica é encoberta pela falta de vigor com que interpreta o repertório.

Júnior, por sua vez, se não compromete ao violão, é capaz de tirar do sério a testemunha mais paciente da platéia com suas investidas vocais. Destoando do timbre da irmã, sua voz causa uma sensação de desconforto incontornável, como pode ser comprovado nas faixas Super-Herói, Enrosca e Segue em Frente.

Com músicos e profissionais de cenografia, som e iluminação contratados a peso de ouro, o Acústico MTV não deixa de ser um trabalho tecnicamente competente, como de costume. Entretanto, inundar a saideira com os maiores sucessos da carreira e regravações de hits internacionais no formato banquinho, voz e violão, sem esquecer do irritantíssimo bongô que insiste em acompanhar diversas faixas, é uma maneira pouco sincera de sair de cena.

Sandy deixa as fases Cristal e Acquaria de lado para provocar os fãs de jazz


Futuro e reticências

Se por um lado a carreira solo de Sandy parece estar em dilapidar impiedosamente standards jazzísticos, o futuro de Júnior ainda é uma incógnita: o jovem não sabe se prosseguirá ao lado do grupo Soul Funk, ou se encarnará Serginho Herval - o baterista-cantor do Roupa Nova - por outras bandas. A única certeza, para consolo dos fãs e desespero de quem não sente a menor falta da dupla, é que os irmãos continuarão separados, mas na ativa por muito tempo.

Atualizado em 6 Set 2011.