Guia da Semana

Foto: Divulgação

Vanessa Gerbelli interpreta Elisa, mãe de um garoto de cinco anos que morre em um acidente

Qualquer indisposição que acontece com o filho já é motivo para uma mãe se preocupar. Se ele está passando por problemas, então, o caso torna-se desesperador. Porém, nada supera a dor da perda de um filho para uma mãe. Aliás, há algo pior, sim, ter que conseguir viver sem esse ente querido. É exatamente isso que retrata o longa As mães de Chico Xavier, que estreia no dia 1 de abril. Seguindo a filosofia espírita que guiou a vida do mineiro, a luta dessas mulheres para continuar vivendo é apaziguada pelas palavras dos desencarnados, através da mediunidade de Chico.

O filme é dirigido por Glauber Filho (Bezerra de Menezes: O Diário de um Espírito) - que também divide o roteiro com Emanuel Nogueira - e Halder Gomes, produzido pela Estação da Luz Filmes e distribuído pela Paris Filmes. O enredo é baseado no livro Por trás do véu de Ísis, de Marcel Souto Maior - o mesmo autor da biografia de Chico Xavier - e também nas cartas psicografadas pelo médium mineiro para mães que perderam os filhos.

Glauber esclarece que a ideia de fazer a obra surgiu a partir da história de Célia Diniz, uma mãe que perdeu um filho de cinco anos e recebeu uma carta de Chico. A trajetória dela aparece nas telonas interpretada pela atriz Vanessa Gerbelli. O elenco ainda conta com Via Negromonte e Tainá Muller - como as outras duas mães -, Caio Blat, Herson Capri e Nelson Xavier - novamente como Chico Xavier. Os diretores do filme contaram ao Guia da Semana como foi a produção de As mães de Chico Xavier e falaram sobre a nova onda de filmes espiritualistas.

Guia da Semana: Qual foi o motivo da escolha do longa As mães de Chico Xavier para encerrar as comemorações dos 100 anos do médium mineiro?
Halder Gomes: Foi uma forma de fazermos uma homenagem ao Chico Xavier. Agimos da mesma maneira com o Dr. Bezerra de Menezes, quando lançamos seu filme na data do aniversário dele.

Guia da Semana: Quais foram os maiores desafios que você e o Emanuel Nogueira tiveram para adaptar o livro Por trás do véu de Ísis e as cartas psicografadas de Chico para as telonas?
Glauber Filho: Em relação à construção da trama, não tivemos nenhuma dificuldade. Conversando com Emanuel e Halder, tentamos encontrar elementos que compõem o universo estético da temática espiritualista. Analisamos grandes sucessos do gênero, como Ghost, As Horas, O Sexto Sentido e Amor Além da Vida, para pegarmos algumas referências. Preferimos não arriscar muito nas experimentações e trabalhar com elementos já conhecidos do cinema clássico.

Guia da Semana: As histórias das mães do filme são fiéis ao relatado pelas envolvidas ou há partes ficcionais?
Glauber Filho: Decidimos que faríamos a representação fiel da história da Célia. Ela é uma mãe real, mas, claro, com momentos de licença poética, e as outras representam as mães das mensagens psicografadas por Chico. Essas cartas não são narrativas de acontecimentos, são cartas de pessoas desencarnadas que citam como é a vida do outro lado. Eram apenas índices de acontecimentos, por isso tivemos que juntar histórias para criar uma narrativa.

Foto: Divulgação

Nelson Xavier vive novamente Chico Xavier no cinema, dessa vez mostrando mais sua relação com as cartas psicografadas

Guia da Semana: Como foi a escolha do elenco?
Halder Gomes: Tivemos atores convidados e também fizemos alguns testes. Encontrar o elenco certo para transmitir ao público a verdade que o roteiro exigia foi o desafio que fez a história sair do papel e chegar aos corações das pessoas, e este é um filme, acima de tudo, de fortes atuações.

Guia da Semana: Caio Blat desempenha o papel de um jornalista cético, Karl, que recebe a missão de entrevistar Chico Xavier e, depois de ter contato com o trabalho do médium, passa a acreditar em seu poder. Esse personagem foi inspirado em algum jornalista específico?
Halder Gomes: As conversas com o Marcel Souto Maior ajudaram-nos a elaborar o personagem interpretado pelo Caio Blat. Ele representa o encontro de um jornalista cético com um Chico bastante desconfiado desses profissionais, devido às muitas acusações que sofrera ao longo de sua vida.

Guia da Semana: Qual dos papéis das mães do filme necessitou de maior trabalho de personagem?
Halder Gomes: Todas as mães do roteiro têm um peso dramático igual. Elas passam por dores da mesma intensidade, em situações distintas.

Guia da Semana: Houve a intenção do As mães de Chico Xavier não parecer uma continuidade do longa Chico Xavier (2010)?
Glauber Filho: Não veria problema se fosse uma continuação, mas não é. Se contarmos qualquer parte posterior a alguma fase da vida do Chico, vai parecer continuação. Porém, esse filme fala de Chico pelas histórias das mães. Talvez o vínculo esteja mesmo na interpretação de Nelson Xavier como o médium mineiro.

Guia da Semana: Nelson Xavier já se tornou um veterano em interpretação do Chico Xavier, vivendo o personagem no longa homônimo. A escolha dele foi proposital ou inevitável?
Glauber Filho: É incrível como neste filme ele faz outra interpretação do mesmo Chico, porém em uma fase mais velha. A escolha do Nelson foi tão inevitável, como acho que foi para o Daniel Filho, no filme Chico Xavier. Imaginava até que ele já tinha vivido esse personagem na televisão, coisa que não o fez. Quando o convidamos, ele relutou bastante, pois não queria interpretar novamente o papel e ficar estigmatizado pelo personagem. No entanto, quando percebeu que o Chico que nós pedíamos estava com uma idade mais avançada e que não seria o personagem principal, aceitou.

Guia da Semana: Um dos grandes diferenciais de As mães de Chico Xavier é que as pessoas conseguem identificar-se em algum momento com um personagem, diferente dos longas Chico Xavier e Nosso Lar (2010), que eram relatos de pessoas específicas. Você acha que esse será o grande trunfo para o sucesso do filme?
Halder Gomes: É um filme que aborda um tema comum a todos nós: as perdas e a esperança de um reencontro. Acredito que o grande trunfo do longa é sua mensagem de celebração à vida, ao amor ao próximo e à mensagem de Chico Xavier.

Foto: Divulgação

Tainá Muller vive Lara, que lida com uma gravidez indesejada e levanta a questão do aborto no longa

Guia da Semana: As histórias acabam levando o público às lágrimas e a trilha sonora contribui para isso. Como foi a escolha - e as produções - das canções pelo Flávio Venturini?
Glauber Filho: Tínhamos o desafio de fazer uma estética mineira no Ceará, do final dos anos 80 para os anos 90. O longa foi gravado 95% no Ceará e apenas uma cena em Pedro Leopoldo, Minas Gerais. Precisávamos criar um clima mineiro, e o Flávio Venturini conseguiu criar esse universo. Ele é um artista lírico e barroco, ao mesmo tempo. Flávio utilizou algumas músicas que já estavam prontas - como o tema de Ruth, que se chama Longa Espera e foi composto após sua mãe ter desencarnado - e outras canções inéditas. Tivemos um auxílio também do músico Erlon Robson.

Guia da Semana: O filme é considerado um blockbuster e já conta com mais de 400 salas de exibição no Brasil. O orçamento dele também acompanhou a grande estrutura de distribuição?
Halder Gomes: É um filme feito com muita qualidade, embora com um orçamento modesto para os padrões de grandes blockbusters, cerca de R$ 3,8 milhões. A força da mensagem do filme tem obtido muita receptividade e causado fortes emoções nas pré-estreias, e por isso a Paris Filmes apostou em um lançamento de grande proporção para filmes nacionais.

Guia da Semana: O longa é produzido pela Estação Luz Filmes, que foi a precursora em realizar obras com a temática espírita, como o Bezerra de Menezes: O Diário de Um Espírito (2008), e co-produziu o fenômeno de bilheterias, Chico Xavier. Você acha que esse gênero veio para ficar ou é uma onda?
Halder Gomes: Acredito que veio pra ficar. Pode vir a ter altos e baixos, mas a quantidade e qualidade de obras literárias a serem adaptadas para o cinema, a busca da humanidade por respostas e os anseios de reencontrar - ou ter contatos - com entes queridos que partiram formam uma base sólida para sustentar o gênero.

Guia da Semana: No último ano, houve uma sequência de filmes espíritas, como os sucessos Chico Xavier e Nosso Lar, além de As Cartas Psicografadas de Chico Xavier (2010) que ultrapassaram - e muito - os números de Aparecida (2010), que é um longa sobre a religião católica. A que você credita o sucesso da temática espírita no maior país do mundo em números de católicos?
Glauber Filho: Acho que é culpa da própria da cultura brasileira, em que oficialmente predomina a religião católica, mas que oferece bom espaço aos filmes que tenham esse aspecto mais espiritualizado, pois é um país multicultural. Sem contar que existe uma mobilização maior no movimento espírita, pois notamos que as pessoas querem, pedem, e realmente vão ao cinema para ver os filmes. Isso não quer dizer que a obra é melhor ou pior. Acho que a curiosidade também atrai as pessoas, mas até um determinado momento, pois, para ser bom, exigirá um pouco mais, como histórias consistentes, e não só pelo fenômeno, não.

Guia da Semana: O aborto é uma das temáticas do filme. Qual foi a intenção em abordar esse assunto polêmico, posicionando-se contra o ato?
Glauber Filho: Nós trabalhamos com a Estação da Luz, que possui um posicionamento firmado em relação a isso. Essa linha de conduta foi uma solicitação dos produtores. O meu ponto de vista particular com o tema não é especificamente o mesmo. Não sou abortista, mas essa discussão leva-me a outras questões, que são particulares e mais profundas. Porém, o viés abordado também tem tudo a ver com o discurso do Chico Xavier e da doutrina espírita. O tema esteve muito em pauta nas discussões da última eleição presidencial e ficou tudo bem. Agora, só por causa daquela frase no final, que dedica o filme às crianças mortas pelo aborto, a obra já foi tachada como panfletária.

Atualizado em 1 Dez 2011.