Guia da Semana

Quando me perguntaram o que esperar de “Capitão América: Guerra Civil”, novo longa da Marvel Studios que chega aos cinemas nesta quinta-feira (28 de abril), a resposta foi fácil: “não há razão para ser ruim”. Este, afinal, já é o 13º filme da marca e, se há uma coisa que a Marvel aprendeu em todos estes anos, foi a manter um padrão de qualidade. E a jogar seguro.

O filme coloca os Vingadores numa encruzilhada que dividirá o time em dois: de um lado, Tony Stark (Robert Downey Jr.) lidera o grupo que defende que os heróis sejam subordinados a uma organização internacional; do outro, Steve Rogers (Chris Evans) comanda os que preferem continuar autônomos, como uma força de defesa independente de vontades políticas. Quem diria: o bad boy começa a gostar de regras e o mais exemplar dos capitães é agora um fora-da-lei.

O longa se baseia na história em quadrinhos de mesmo nome, mas adota um caminho levemente diferente. Enquanto, nos quadrinhos, o tratado exige que todos os indivíduos com poderes se identifiquem, no filme o acordo se limita aos Vingadores e tem muito mais a ver com hierarquia do que com uma “caça às bruxas” (pelo menos por enquanto, já que uma lista mais ampla tem sido trabalhada na série “Agents of S.H.I.E.L.D.”).

A assinatura é a razão inicial para a ruptura, mas são questões pessoais que mantêm os amigos separados - mais uma vez, Bucky (Sebastian Stan) está no centro do conflito, manipulado como Soldado Invernal. Isso poderia ser um ponto negativo (cá entre nós, Stan não foi o maior acerto da franquia até agora), mas o anti-herói aproveita seu longo tempo de tela para afinar o tom – mais humano e ambíguo que no filme anterior.

A introdução dos novos heróis, elemento-chave para manter o interesse do público depois de tantos títulos, é inteligente: sem picadas nem tio Ben, o Homem-Aranha (Tom Holland) entra para o grupo, tagarelando e jogando teias como se isso fosse a coisa mais natural do mundo. Já para apresentar Pantera Negra (Chadwick Boseman), um ou dois diálogos resolvem as questões mais urgentes e já podemos vê-lo em ação. Ainda bem.

O filme não tem um grande vilão (elemento que, com exceção de Loki, não é o forte da Marvel), mas, desta vez, isso é proposital: esta luta não é entre o bem e o mal, mas entre uma noção de certo e outra. Não são dois egos super-poderosos que se enfrentam, mas é toda uma ideia de família e cumplicidade que desmorona, enquanto a sociedade exige que uma escolha seja feita. É o fim da neutralidade e, com ela, do maniqueísmo.

“Guerra Civil” é correto em praticamente todos os pontos: tem um pano de fundo político bem trabalhado, motivações pessoais convincentes e pequenas sub-tramas que tornam a escolha de um lado tão difícil para o espectador quanto para os heróis. E boas cenas de ação, é claro, bem coreografadas e montadas. Mas é difícil ignorar a sensação de déjà-vu que cada reunião dos Vingadores traz consigo.

A fórmula “humor-ação-amizade-heroísmo” sempre funcionou bem, mas tem tornado todos os filmes centrais da Marvel um pouco semelhantes, como novos episódios de uma série de TV. Provavelmente, isso não é tanto um defeito quanto um sintoma da fusão de mídias que a própria marca propôs quando inaugurou seu “Universo Cinematográfico” e começou a integrá-lo com spin-offs televisivos. Talvez a tendência seja mesmo esta: menos surpresa e “uau”; mais continuísmo e satisfação.

Prova disso é o fato de que o espectador precisa de uma boa dose de conhecimento prévio para aproveitar “Guerra Civil”: “Capitão América: O Soldado Invernal” e “Vingadores: Era de Ultron” são essenciais. Também ajuda saber que este é o primeiro título da chamada “Fase 3” da Marvel, que culminará na batalha contra Thanos (o grandalhão de “Guardiões da Galáxia”) em 2019.

Em outras palavras, estamos esperando por uma conclusão que só acontecerá daqui a três anos e, provavelmente, será mais um início do que um fim. É a lógica dos quadrinhos transposta para o cinema: um jogo seguro, lucrativo e sem fim.

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Por Juliana Varella

Atualizado em 10 Mai 2016.