Guia da Semana

Pio Marmaï (“Beijei Uma Garota”) e Adèle Haenel (“Amor à Primeira Briga”) tinham tudo para ser o casal perfeito do cinema francês, ambos versáteis, talentosos e queridinhos do momento. A oportunidade passou, porém, e Elie Wajeman, com seu “Aliyah”, não a enxergou. Ao invés de explorar a relação potencialmente explosiva entre os personagens dos dois atores, o filme se concentra numa história de temperatura morna sobre autodescobrimento, religião e identidade cultural.

“Aliyah” chega ao Brasil com três anos de atraso, tendo estreias previstas para o dia 9 de julho no Rio e 16 de julho em São Paulo. O filme ganhou impulso no Festival Varilux 2015, que trouxe a várias cidades brasileiras uma retrospectiva do trabalho de Marmaï, junto com uma seleção de estreias francesas.

O ator-galã interpreta Alex, um judeu que mora na França, ganha a vida como traficante e não mantém grandes ligações com suas origens. Quando seu primo retorna da guerra com uma proposta de emprego em Tel Aviv, ele decide jogar tudo para o alto e recomeçar.

A tarefa, porém, não será tão simples assim. Para ser aceito em Israel, ele precisará fazer um procedimento chamado “Aliyah” (uma espécie de cursinho para atestar a autenticidade e a motivação do judeu imigrante) além de resolver as pendências com o irmão (Cédric Kahn), a ex-namorada (Sarah Lepicard) e um novo amor (Haenel).

O filme tem trilha sonora composta por Rodriguez, músico biografado no documentário vencedor do Oscar em 2013 “Searching for Sugar Man”, mas é, em geral, uma obra bastante silenciosa e introspectiva. É interessante como a família e os amigos do protagonista falam de Israel como um lugar inalcançável para Alex, um lar onde ele jamais se sentiria confortável ou acolhido, talvez por conhecerem seu desprendimento com a religião.

“Aliyah” se destaca de outros filmes de mesmo tema pelo realismo, questionando o exército, os costumes e as burocracias israelenses pelo ponto de vista de um jovem que já conheceu outro mundo e, mesmo assim, escolhe retornar. O longa, porém, não vai fundo o suficiente em nenhuma dessas críticas e acaba formando um retrato um pouco superficial de seu protagonista.

Sem conhecer suas motivações mais profundas nem sentir toda a intensidade de suas paixões (a relação com a personagem de Haenel é pouco desenvolvida), não conseguimos torcer por Alex, nem para que ele mude de vida, nem para que permaneça na mesma. Assim, quando a decisão finalmente chega, é tarde demais: percebemos que não nos importamos mais.

Por Juliana Varella

Atualizado em 7 Jul 2015.