Guia da Semana

Qual é a linha exata que separa um live action de uma animação? Na nova adaptação do clássico “Mogli – O Menino Lobo”, que chega aos cinemas nesta quinta-feira (14/04) sob direção de Jon Favreau (do adorável “Chef”), os limites se revelam mais turvos (e irrelevantes) do que nunca.

O filme é em todos os sentidos mais intenso que o desenho de 1967, com o qual muitos espectadores tiveram o primeiro contato com a história de Rudyard Kipling: há mais aventura, mais drama, mais tensão, mais emoção. Mas nem era preciso. Com aqueles efeitos visuais, até a mais fraca das tramas seria hipnotizante.

“Mogli – O Menino Lobo” causa um espanto semelhante ao que causou “Avatar” em 2009, como se uma revolução técnica de repente desabrochasse diante dos olhos do espectador. A diferença é que, aqui, não é só o visual dos animais e da floresta (todos construídos em CGI, sobre um cenário quase completamente coberto por panos azuis) que surpreende, mas toda a qualidade da produção.

As vozes originais, gravadas por nomes como Bill Murray (o urso Baloo), Idris Elba (o tigre Shere Khan), Lupita Nyong’O (a loba Raksha) e Scarlett Johansson (a cobra Kaa), são tão responsáveis pela imersão na fantasia quanto o design – e o elenco faz um trabalho tão bom que o fato de dois animais digitais estarem conversando entre si (numa floresta digital) nunca parece falso.

Se isso tudo não faz de “Mogli – O Menino Lobo” uma animação, é porque existe um único ator em cena (Neel Sethi, que interpreta Mogli), acompanhado por alguns detalhes do cenário e eventuais marionetes. A captura de movimento dos animais e a criação dos cenários virtuais foram feitos antes das filmagens com o ator-mirim e combinados posteriormente.

O roteiro, escrito pelo quase estreante Justin Marks, tem sacadas inteligentes e funciona bem tanto para o público infantil quanto para o adulto - pelo menos, na maior parte do tempo. Uma cena, em especial, pode incomodar: quando o gigantesco orangotango Louie (Christopher Walken, cuja voz não combina tão bem com o personagem) tenta convencer Mogli a ajudá-lo, tem início um número musical desnecessário e um tanto inseguro – nem falado, nem propriamente cantado. Em seguida, acontece uma perseguição dentro das ruínas que parece saída de um videogame. Passado esse trecho, porém, o filme volta aos trilhos.

“Mogli – O Menino Lobo”, ao contrário de outras refilmagens recentes de clássicos da Disney, é um filme necessário. Favreau se permite distanciar do original (considerando, aqui, a animação dos anos 60 e não o livro), criando uma fábula mais atual, mais poderosa e mais livre – tanto no conteúdo quanto na forma. Despreocupado com rótulos, o filme consegue explorar todas as possibilidades do cinema como meio e atinge o “status” de experiência. Uma experiência que deve conquistar as novas (e as velhas) gerações.

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Por Juliana Varella

Atualizado em 25 Abr 2016.