Guia da Semana

De Los Angeles


Foto: Divulgação

O roteirista David Ayer tem um estilo bem definido: entende bem da violência urbana nos Estados Unidos, especialmente quando se fala em guetos e, claro, no centrão de Los Angeles. Conhecido por seu roteiro para Dia de Treinamento e S.W.A.T, Ayer assume a direção de Os Reis da Rua, com Keanu Reeves e Forest Whitaker. Esse relacionamento estreito com o assunto tem raízes no fato de Ayer ter sido criado num subúrbio violento em meio a gangues e sendo "minoria branca" em meio a tantos negros e latinos de seu bairro. Ele falou ao Guia da Semana diretamente de Los Angeles. Confira o bate-papo!

Depois de tantos filmes policiais, é possível fugir dos clichês desse gênero?
David Ayer:
Não, não dá. A função tanto do roteirista quanto do diretor, num caso desses, é organizar os elementos e fazer com que a história soe boba ou sem propósito. Infelizmente, violência, corrupção e tiroteios são praticamente obrigatórios quando se quer retratar algo minimamente verossímil.

Você revisita esse tema com freqüência. Tudo por conta de ter sido criado no subúrbio ou há mais alguma razão nisso?
David Ayer:
A influência é inegável e sempre tento trazer essas experiências - boas e ruins - para o público, gerando um maior entendimento da relação entre polícia e sociedade...

... marcada por violência e corrupção?
David Ayer:
Em alguns casos sim, mas ,especialmente, o Departamento de Polícia de Los Angeles [retratado no filme] que mudou e melhorou muito na última década. É sempre complicado lidar com absolutos, então, não podemos esperar uma polícia extremamente certinha, ou o contrário. Ninguém vive em extremos, então, exageros para ambos os lados sempre vão ocorrer. Quem está mais errado: um policial violento ou o "caxias" que errou por excesso de zelo?

O que há de diferente nessa história?
David Ayer:
Como Common diz: não há novidade no conteúdo, mas sim nas pessoas que contam essa história. Ele tirou as palavras da minha boca. Foi fantástico ter um elenco com Keanu, Forest, Hugh Laurie e Chris Evans. Acredito que o modo como cada um deles criou os personagens seja o diferencial, pois você pode entender que nada é tão simples na vida desses homens que passam a vida em estado de alerta.

Por falar em Laurie, ele aparecer pela primeira vez num hospital foi proposital por causa da série de TV House?
David Ayer:
(risos) Fiquei surpreso com ele desde o primeiro momento. O cara é PhD em educação e presteza, ainda mais com aquele sotaque britânico inconfundível.

Mas que desaparece nas cenas...
David Ayer:
Exatamente, ele é um ator fabuloso. Poucos conseguem se livrar de um traço característico como esse com tanta perfeição durante tanto tempo. Eu achei legal saber que ele estava escalado, mas só me toquei da importância daquele sujeito quando, antes da primeira cena, praticamente toda a equipe estava presente e em silêncio absoluto para vê-lo. Confesso que não acompanho House, mas minha visão mudou depois disso. Ele é carismático ao extremo.

Se, por um lado, os fãs de seriados podem ficar atraídos; de outro lado, as mulheres com certeza vão querer ver Keanu Reeves. Há algo mais nele do que esse sex appeal?
David Ayer:
É impressionante como as pessoas não conhecem Keanu Reeves. Ele não tem absolutamente nada a ver com a imagem que seus personagens passam, então, cria-se essa ilusão de que ele "deve ser". Fiquei preocupado por ter um superastro envolvido, mas, em pouco tempo de conversa, pude compreender um pouco a natureza dele e de seu trabalho. Aí fiquei tranqüilo e sabia que tinha um profissional envolvido.

Os Reis da Rua toma um lado na discussão polícia x sociedade?
David Ayer:
Não, pelo menos não é o objetivo. Filmes políticos sobre esse assunto existem aos montes e todos tentam mostrar um dos lados e vender seu peixe. Não acontece isso nesse filme. Se há algum ponto proposto pelo romance original, ele trata das falhas de caráter que todos os seres humanos têm, independente de usar um distintivo ou não. O que falta a todos é entender os limites do respeito.

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    Quem é o colunista: Fábio M. Barreto adora escrever, não dispensa uma noitada na frente do vídeo game e é apaixonado pela filha, Ariel. Entre suas esquisitices prediletas está o fanatismo por Guerra nas Estrelas e uma medalha de ouro como Campeão Paulista Universitário de Arco e Flecha.

    O que faz: Jornalista profissional há 12 anos, correspondente internacional em Los Angeles, crítico de cinema e vivendo o grande sonho de cobrir o mundo do entretenimento em Hollywood.

    Pecado gastronômico: Morango com Creme de Leite! Diretamente do Olimpo!

    Melhor lugar do Brasil: There´s no place like home. Onde quer que seja, nosso lar é sempre o melhor lugar.

  • Atualizado em 6 Set 2011.