Guia da Semana

Pai e filha tomando sol nas piscinas de Sofia Coppola, crianças entediadas nas histórias de Wes Anderson ou até a desesperança completa nos roteiros de Bergman ou Antonioni. Não é de hoje que a monotonia ou o enjoo da sociedade é retratado nos cinemas - seja no âmbito indie ou comercial; na juventude ou na maturidade; na escassez ou na abundância. "Garotas", de Celine Sciamma's , não foge desta norma. O filme, parte das competições de Cannes e do LUX Prize, acabou levando o Mirada Award no Festival de San Sebastián e trouxe controvérsias na recepção de público e crítica. O Guia da Semana assistiu ao filme e te conta o que achar; confira!

Marieme é uma menina de 16 anos que vive cercada de proibições: a censura do bairro, a lei do machismo, os impasses da escola. Entretanto, sua realidade unilateral se vê abalada quando ela encontra três meninas que resolveram lutar por sua própria liberdade. É a partir daí que Marieme começa a rever simples atitudes de seu cotidiano, da maneira como se veste até a forma com a qual se relaciona com o próximo. "Garotas" é, entre tantos outros, mais uma história de descobertas e confrontos proporcionados pela juventude. O diferencial, aqui, é a maneira singular com que Sciamma's retrata o universo feminino.

E é com segurança que se observa tal faceta na filmografia da diretora. "Tom Boy", de 2011, trata da história de uma garota que, confundida com um rapaz, decide levar a mentira a frente. "Lírios D'Água", seu filme de estreia, dedica-se a mostrar as primeiras experiências homossexuais na vida de duas amigas. Até seu primeiro e único curta, "Pauline", parte de uma campanha anti-homofobia do governo francês, também percorre o mesmo terreno.

Há quem critique o tom monótono das lentes de Sciamma's. Outros, uma suposta leviandade: seriam tais garotas de fato personagens reais da realidade francesa? Cabe ao espectador dizer. É inegável, entretanto, que Celine destaca-se, sim, em meio a tantos diretores que abordam o tema. Factível, ou não, "Garotas" é uma história sincera e que parte, principalmente, de uma diretora muito bem gabaritada para tal.

Por Ricardo Archilha

Atualizado em 27 Abr 2015.