Guia da Semana

Em 1996, o mundo testemunhou um dos discursos mais marcantes da história do cinema quando o Presidente Whitmore, diante da última resistência humana contra a invasão alienígena em “Independence Day”, mostrou aos pilotos amedrontados que aquela não seria apenas mais uma batalha, mas sim uma declaração de independência por toda a humanidade.

Vinte anos depois, Bill Pullman – o ator que pronunciou aquelas palavras e arregaçou as mangas para lutar contra os extraterrestres no papel de Whitmore – relembra o momento com carinho e faz um balanço de tudo o que mudou desde então. Pullman está em São Paulo para participar da estreia de “Independence Day: O Ressurgimento”, na noite desta quinta-feira (23) no Allianz Parque.

“Dos anos 90 para cá, a expectativa em relação aos filmes de ficção científica mudou muito – é insano o nível de sofisticação das histórias de hoje” – comenta, ciente do quanto seu novo trabalho será comparado ao anterior. “Naquela época, muitas pessoas criticaram o filme por tentar ser divertido em meio ao fim do mundo, mas, felizmente, a audiência gostou. Acho que ele inaugurou um estilo de narrativa que passou a ser replicado e, hoje, a ideia de uma grande ficção científica ou uma adaptação de quadrinhos, esse tipo de entretenimento, se tornou lugar comum.”

Se “Independence Day” lançou tendência na época com sua megalomania, essa herança é justamente a maior ameaça à sequência – afinal, filmes-catástrofe deixaram de ser novidade e o público está cada vez mais exigente. Sobre esse receio de ter perdido a relevância, Pullman argumenta que tanto o diretor, Roland Emmerich, quanto ele e todo o elenco sabiam do risco, mas mergulharam de cabeça para fazer deste um filme superior. “A ambição de Roland era até um pouco assustadora, porque há mais personagens e mais sub-tramas agora... Mas acho que é essa ambição que mantém o filme competitivo”.


As diferenças entre os dois projetos são muitas, de fato, a começar pela evolução da tecnologia. Segundo o ator, a proporção de cenas filmadas em CGI cresceu exponencialmente: se era algo em torno de 20% no primeiro filme, agora passou a mais de 80%, gerando uma experiência totalmente distinta para os atores. “Todos os dias, entrávamos numa grande caixa no deserto, que era um estúdio de som com piso, paredes e teto azuis. O curioso é que, para mim, foi como estar no teatro – porque você tem apenas os outros atores para interagir, em seus figurinos, num ambiente abstrato, e isso faz com que você se concentre melhor.”

O personagem de Pullman também mudou. Em 96, ele ainda era presidente e tinha uma postura confiante de líder. Já no novo filme, Thomas Whitman vive as consequências da guerra e está psicologicamente fragilizado – inclusive, empunhando uma polêmica bengala que abandona antes do final da história. Sobre o acessório, o ator explica que foi uma ideia do diretor para mostrar a insegurança psicológica do personagem, e não uma deficiência física.

Apesar de estrelar os dois longas, Pullman nunca foi, pessoalmente, um fã do gênero. Quando criança, frequentava as matinês para mergulhar em filmes sobre a Segunda Guerra Mundial e, no caminho para casa, divertia-se fingindo se esconder e se esquivar de inimigos mortais. Curiosamente, essa lembrança particular da infância encontrou eco no longa que chega agora aos cinemas: numa cena em que os pilotos estão dentro da nave-mãe e precisam se esconder sob a água, observando apenas os tornozelos dos alienígenas desfilando à sua frente. “Talvez Roland tenha tido as mesmas referências que eu” – suspeita o ator.

Por Juliana Varella

Atualizado em 24 Jun 2016.