Guia da Semana

Fotos: Imdb
O personagem Guido Contini (Daniel Day Lewis) tenta recuperar sua criatividade.


No história do musical Nine, o cineasta italiano Guido Contini está no auge de sua crise criativa. Apesar de ser considerado genial por muitos, seus últimos filmes têm sido fracasso de público e crítica. Isso aumenta as expectativas sobre o próximo projeto dele, que tem apenas um nome: Itália. O desespero de Guido aumenta pelo fato de a não existência do roteiro ser sumariamente ignorada pelo estúdio, que já está produzindo cenários e promovendo o novo trabalho junto à imprensa. No decorrer do longa-metragem, adaptado de um espetáculo homônimo produzido na Broadway, Guido recorre às memórias das musas de sua vida para buscar novas ideias. Na vida real, muitos diretores de cinema seguem pelo mesmo caminho.

Afinal, se essas mulheres especiais têm o poder de inspirar poetas, escritores ou simples mortais desde a antiguidade, por que não podem passar sua energia criativa para os trabalhadores da sétima arte? Ao analisar a filmografia de alguns cineastas, é possível concluir que, ao longo da carreira, muitos encontram suas próprias musas inspiradoras. Muitas, além de atrizes, acabam se tornando parceiras da vida real. Nesse panteão, figura até um ator, cuja capacidade criativa nas telas potencializa o talento do diretor - que também virou seu grande amigo na vida real. Para tentar levar um pouco desse poder para você, o Guia da Semana selecionou algumas das estrelas favoritas de famosos diretores de cinema. Inspire-se conosco!

Ingmar Bergman & Liv Ullmann

A atriz e o diretor em 1968.


Ela estrelou dez trabalhos do diretor Ingmar Bergman, incluindo Persona (1966), Cenas de um Casamento (1973) e Sonata de Outono (1978). A parceria rendeu, além de filmes, cinco anos de casamento e uma filha. Contudo, mesmo com o fim da relação, os dois continuaram trabalhando juntos até a morte do diretor, em 2007. Inclusive, Liv foi a estrela do último filme produzido por Bergman, chamado Sarabanda (2003).

No ano de 2008, a atriz esteve em São Paulo (SP) para ser homenageada durante uma mostra da Cinemateca Brasileira, além de lançar seu livro de memórias. Na ocasião, ela se emocionou ao comentar uma declaração dada por Bergman anos antes. "Você, Liv, é meu Stradivarius (tipo de violino raro)". Para a atriz, ouvir essa frase foi especial. Outra musa dos filmes do diretor foi Bibi Andersson, a atriz que apresentou o diretor à Liv Ullman.

Woody Allen & Diane Keaton & Mia Farrow

Diane e Allen em Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, de 1977.


Outro diretor que, quando arruma uma musa, trata logo de se casar com ela é Woody Allen. Diane, além de parceira amorosa, foi uma de suas principais estrelas, participando de oito dos seus 36 trabalhos até hoje. Entre eles, está o premiado Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977), que recebeu três Oscar, incluindo melhor direção e melhor atriz. Diane inspirou tanto o cineasta neste trabalho que o nome original do filme, Annie Hall, foi uma homenagem a ela. Isso porque Hall é o verdadeiro sobrenome de Diane, e Annie um apelido carinhoso. Mesmo com o romance entre os dois desfeito, ambos continuam amigos até hoje.

Outra grande musa de Allen foi Mia Farrow, estrela de 13 de seus filmes, incluindo A Rosa Púrpura do Cairo (1985). O relacionamento com a atriz durou anos e teve um desenlace tão folhetinesco quanto qualquer bom filme dramático: a separação se deu quando ela descobriu o caso entre ele e a filha adotiva dela, de 22 anos. Hoje, Allen está casado com a antiga "filha", mas, apesar de aparentemente feliz, não a tornou musa de nenhum de seus filmes.

Alfred Hitchcock & Grace Kelly

James Stewart, Grace Kelly e Hitchcock no set de Janela Indiscreta, em 1954.


Durante seus 81 anos de vida, o mestre do suspense dirigiu filmes e criou características que marcariam para sempre a história do cinema, especialmente o gênero de suspense. Em suas obras, era notável a queda que Hitchcock tinha por loiras. Basta lembrar de algumas cenas clássicas, como o assassinato no chuveiro, em Psicose, o ataque dos pássaros na festa de criança, em Os Pássaros, ou o momento em que Doris Day toca "Que Será Será" no piano, em O Homem que Sabia Demais. Além do talento, todas essas atrizes tinham em comum o cabelo platinado.

Porém, se é para eleger uma musa em especial, a grande inspiração dele foi Grace Kelly, estrela de Disque M para Matar (1954), Janela Indiscreta (1954) e Ladrão de Casaca (1955). A atriz só não foi estrela de mais filmes do cineasta porque, durante as filmagens deste último longa-metragem, ela conheceu o príncipe Rainier, de Mônaco, com quem acabou se casando em 1956. Abandonou a carreira artística desde então. Para Alfred Hitchcock, Grace Kelly conseguia personificar a perfeita mulher misteriosa (loura, sutil e nórdica) em sua atuação. Ele era fascinado por seu comportamento ambíguo e dizia, fora das câmeras, que Grace era como um "vulcão coberto por neve".

Pedro Almodovar & Carmem Maura & Penélope Cruz

Almodovar, Carmem e Penélope durante as filmagens de Vólver, de 2006.


Assumidamente gay, o cineasta espanhol nunca deixou de demonstrar em seus trabalhos uma grande admiração pela força feminina. E, ao longo de 35 anos de carreira, teve diversas musas. Uma das principais foi a espanhola Carmem Maura, estrela do primeiro trabalho dele, chamado Pepi, Luci, Bom e Outras Garotas de Montão (1980). Ambos se conheceram no final da década de 70, quando faziam a mesma peça de teatro em Madri, Espanha.

De todos os filmes do cineasta, Carmem participou de Maus Hábitos (1983), Que Fiz Eu para Merecer Isto? (1984), Matador (1986), A Lei do Desejo (1987) e Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos (1988). Um desentendimento entre a dupla, nunca esclarecido publicamente, fez com que ficassem 18 anos sem trabalhar juntos. O reencontro ocorreu em Volver (2006), onde Carmem fez uma matriarca fantasma e trabalhou com a mais nova musa de Almodovar, a espanhola Penélope Cruz. A atriz já trabalhou em quatro filmes do cineasta, incluindo o último, chamado Abraços Partidos (2009).

Quentin Tarantino & Uma Thurman

Os dois na época de Pulp Fiction, de 1994.


A atriz foi eleita musa do diretor quando trabalharam juntos em Pulp Fiction - Tempo de Violência (1994), onde Uma interpretou a viciada em drogas Mia Wallace. Tarantino se sentiu tão inspirado na atriz que criou especialmente para ela a personagem Noiva, da saga Kill Bill. O projeto começou de forma despretensiosa, durante a produção de Pulp Fiction. Logo, evoluiu para um roteiro com mais de 200 páginas, e o estúdio tratou de sugerir a quebra do filme em dois, lançados em 2006, com seis meses de diferença um do outro. A terceira parte da história foi anunciada para 2014.

Atualmente, ambos continuam tão amigos que, num jantar organizado num hotel de Nova York em dezembro de 2010, Tarantino bebeu champagne no sapato da atriz. Ela permitiu a extravagância e até acompanhou Tarantino nos goles, dizendo que não havia melhor forma de agradecer ao cineasta por tudo que ele fez pela carreira dela até hoje.

Tim Burton & Helena Bohan Carter & Johnny Depp

Os musos Johnny e Helena ao lado do diretor Tim Burton.


Diretor de estilo único, Tim Burton encontrou poucos atores que se encaixam em seu trabalho. Helena foi uma delas. Até hoje, os dois já trabalharam juntos em seis filmes: Planeta dos Macacos (2001), Peixe Grande (2003), A Fantástica Fábrica de Chocolate (2005), A Noiva Cadáver (2005), Sweeney Todd (2007) e Alice no País das Maravilhas (2010). Ambos acabaram se casando (mas continuaram morando em casas separadas) e tiveram dois filhos juntos.

No entanto, seria injusto falar sobre a musa de Burton sem citar o "muso" dele: Johnny Depp. A parceria entre o ator e o cineasta começou em Edward Mãos-de-Tesoura (1990), fábula onde Depp interpretou uma espécie de Frankenstein, demonstrando o gosto de Burton por reinterpretar ícones de terror. No total, essa parceria rendeu sete filmes, incluindo Alice no País das Maravilhas onde, claro, Helena também não poderia deixar de estar presente.

Federico Fellini & Giulietta Masina

Giulietta em Noites de Cambira, de 1957, onde foi dirigida por Fellini.


Esta foi uma das maiores parcerias artísticas do cinema italiano. Numa bela história de amor, Giulietta e Fellini se casaram em 1943, quando, ainda estrela do rádio, ela fazia sucesso com o programa Cico e Pallina e Fellini escrevia o texto. A relação durou 50 anos e, num meio como o cinema, onde separações são frequentes, eles foram uma exceção, pois se adoravam.

Juntos, fizeram diversos filmes, entre eles Mulheres e Luzes (1950), Abismo de um Sonho (1952), A Trapaça (1955), Julieta dos Espíritos (1965) e Ginger e Fred (1985). Foi com Fellini que Giulietta Masina alcançou fama internacional, devido ao filme A Estrada da Vida (1954). Inclusive, em 1957 ela ganhou o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes por seu papel em Noites de Cabíria.

Marilyn Monroe - A musa das musas



Uma das mais famosas estrelas de cinema de todos os tempos, a atriz se tornou um símbolo senxual e ícone de popularidade no século 20. Marilyn começou em alguns filmes menores, mas sua habilidade para a comédia, sensualidade e forte presença levaram-na a conquistar papéis em longas-metragens de grande sucesso, tornando-se numa das mais populares atrizes dos anos 50.

Apesar de sua beleza deslumbrante, com curvas e lábios carnudos, Marilyn era mais do que um símbolo sexual. Sua aparente vulnerabilidade e inocência, junto com uma inata sensualidade, a tornaram querida no mundo inteiro. O primeiro papel da atriz no cinema foi uma participação não creditada em Sua Alteza, a Secretária (1947). Contudo, foi sua performance em Torrentes de Paixão (1953), que a tornou estrela e lhe rendeu, no mesmo ano, os papéis principais em Os Homens Preferem as Louras e Como Agarrar um Milionário. A morte repentina, aos 36 anos, ajudou a tornar essa mulher o maior mito feminino da história do cinema até hoje.

Atualizado em 19 Jun 2012.