Guia da Semana

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Cena do vídeo transmitido na peça Meu Sonho é Participar de Um Filme do Pedro Almodóvar, que reproduz trechos dos filmes do cineasta espanhol

"Afinal, o essencial é isso: sobreviver e manter a paixão". A frase é de Pedro Almodóvar, mas a atriz e diretora de teatro Vanessa Corina se apropria das palavras para expressar o amor que sente pelo cineasta. Movida pela paixão que sempre teve pela obra do espanhol, Vanessa decidiu montar uma peça baseada em um sonho antigo, que também permeia o imaginário de muitas atrizes: atuar em um filme de Almodóvar. Com a missão de criar um trabalho adequado a um grupo de mulheres que também adoram o diretor, Vanessa contratou o escritor Luiz Felipe Leprevost, que criou contos sobre o universo feminino presente no cinema do ilustre hombre.

A idolatria resultou na montagem de Meu Sonho é Participar de Um Filme do Pedro Almodóvar, que esteve em cartaz no Festival de Curitiba e retrata o fanatismo de figuras trágicas e humoradas. Em cena, as personagens compartilham o mesmo desejo e vivenciam situações tingidas pelas tão famosas cores de Almodóvar. Assim como Vanessa e as atrizes de seu grupo, existe uma legião de admiradores da obra do diretor que trouxe para a sétima arte um estilo inconfundível. Responsável por criar todos os aspectos que envolvem a sua produção fílmica, ele é considerado internacionalmente o maior representante vivo do cinema da Espanha.

Almodóvar carrega na bagagem 19 longas de sucesso e foi o primeiro espanhol a ser indicado ao Oscar de melhor diretor por Fale Com Ela (2002). Em 4 de dezembro, o público brasileiro poderá conferir a estreia nacional de Abraços Partidos, que já foi exibido no Festival do Rio e na Mostra de São Paulo. Mais uma vez, a produção é protagonizada por Penélope Cruz, a menina dos olhos do cineasta, com quatro películas do diretor em sua filmografia. Neste, ela interpreta a atriz iniciante Lena, que sonha com o sucesso. A bela é casada com um homem rico e tem a chance de se tornar a estrela de um filme ao se envolver com um diretor de cinema.

Cores, humor e tragédia

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Cena das filmagens de Abraços Partidos (Los Abrazos Rotos), o novo longa de Pedro Almodóvar

Repletas de histórias trágicas que beiram a comicidade, as obras almodovarianas são sempre polêmicas e quase uma unanimidade entre os fãs e crítica. Segundo Ana Lucilia, autora do livro Pedro Almodóvar e a Feminilidade, a identificação suscitada pelos filmes é um dos segredos do sucesso. "A singularidade de Almodóvar o diferencia dos outros cineastas. Ele retrata o dia a dia das pessoas e fala sobre os dramas cotidianos. Isso é algo que atrai muito. Apesar dos personagens serem marginais, ele consegue criar grandes identificações. A sua singularidade o diferencia dos outros cineastas", explica a escritora.

Para Vanessa Corina, a maneira com que Almodóvar transmite as situações trágicas o faz um dos diretores mais reconhecidos da atualidade. "Nos filmes há a questão do excesso, da paixão. Esse aspecto é berrante nas histórias. Tudo extrapola. Nada é moderado. Mas é um extrapolar não exagerado. Há uma inteligência que envolve esse exagero". Segundo ela, as cores que permeiam a estética kitsch da sua filmografia também são características marcantes. Os tons fortes e vivos usados nos cenários e figurinos, aliados aos dramas vividos pelos personagens, estimulam o olhar e as emoções dos espectadores. "A tragicidade e as cores das figuras também encantam o público", acrescenta.

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Almodóvar e Penélope Cruz nos bastidores de Abraços Partidos

Outra particularidade que fascina o olhar da plateia é a forma como Almodóvar retrata a Espanha, que acabara de sair da ditadura do general Francisco Franco (1939-1976) quando ele iniciou a carreira. Assim, o cineasta mostra um novo país, livre e cheio de cores. "Com a queda de Franco, muitos temas que eram considerados tabus começaram a aparecer. Ele aborda a modernidade sem perder as raízes do cinema espanhol", diz Ana Lucilia. Para a jornalista Cyntia Calhado, o cineasta utiliza diversos recursos para criticar a repressão ditatorial. "Os personagens marginais, como homossexuais e drogados, a exuberância no uso das cores e a subversão da família fazem de sua obra uma contundente crítica à ditadura franquista", declara.

Leonardo Freitas, jornalista que também é aficionado por Almodóvar, fala com entusiasmo sobre a obra do diretor. "Quando estamos diante de um filme de Almodóvar pode estar certo que muitas emoções serão afloradas. Ele vai do trágico ao cômico, do escatológico ao delicado, do humor ácido à poesia - e tudo isso com uma segurança e força audiovisual impressionantes, que não ofendem quem o assiste", diz. Ele também concorda que a identificação e as cores são pontos fortes das películas. "A temática novelesca absurda empática faz com que nos reconheçamos expondo tudo aquilo que nós, sociedade, tentamos esconder nas sombras do conservadorismo. Isso sem contar o apuro técnico kitsch colorido de suas obras", lembra.

Frases
"Um dos cineastas mais originais da atualidade e que construiu uma obra com tanta personalidade que virou adjetivo"
André Sturm, cineasta e sócio do HSBC Belas Artes

"Em Almodóvar, a obra e a vida se misturam muito"
Ana Lucilia, autora do livro Pedro Almodóvar e a Feminilidade

"A maneira como ele passa as histórias o torna um cineasta único"
Vanessa Corina, diretora da peça Meu Sonho é Participar de Um Filme do Pedro Almodóvar

"Quando se assiste a uma película dele, reconhece-se ali toda sua técnica, sua característica que o torna um dos maiores cineastas vivos"
Leonardo Freitas, jornalista aficionado por cinema






Atualizado em 10 Abr 2012.