O conceito de “cinema trash” provavelmente não existiria sem esta figura. Ed Wood, diretor de Plano 9 Do Espaço Sideral, ganha retrospectiva na Caixa Cultural em São Paulo a partir do dia 16 de agosto. O artista foi eleito o “pior diretor do mundo” em 1980, depois de morrer sem reconhecimento.

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Oito longas-metragens de Wood e dois filmes sobre sua carreira estarão em cartaz até o dia 30, com sessões gratuitas. Abre a mostra o documentário Look Back In Angora, de 1994, seguido de debate com o curador do evento Kristofer Paetau e os pesquisadores Hernani Heffner e Laura Cánepa.

“Look Back In Angora mostra pessoas que conviveram com o cineasta e é uma obra pouco conhecida, ao contrário do longa de Tim Burton. Por isso escolhi começar por ele”, explica Paetau, fã assumido do diretor considerado trash.

Para o curador, porém, o conceito de “trash” é algo posterior ao trabalho de Wood. “Os filmes trash dos anos 80 são conscientemente mal feitos, coisa que não acontecia naquela época”, analisa. “Wood tinha a intenção de fazer um bom filme, mas não tinha a educação nem os recursos para isso.”

Se a qualidade técnica de clássicos como A Noiva do Monstro são, de fato, questionáveis, a ousadia com que o cineasta expôs suas ideias e a determinação que precisou ter para colocá-las na tela são raramente equiparáveis a qualquer outro diretor da época, ou mesmo de hoje.

Glen ou Glenda?, drama autobiográfico sobre um heterossexual que gosta de vestir roupas femininas, é prova disso. Lançado em 1953, o filme trata o tabu sem apelar para o melodrama. O filme não foi bem recebido pelo público, mas conseguiu ser lançado nos cinemas americanos e preservado.

A mostra é uma oportunidade rara para os fãs do cineasta, que poderão ver alguns de seus filmes legendados pela primeira vez. Também é a chance de ver as últimas cenas gravadas pelo ator Bela Lugosi – o Drácula mais célebre do cinema – que foi contratado por Wood no final da vida e morreu durante as gravações de Plano 9 do Espaço Sideral.

Para quem puder de conferir os filmes na telona, a diversão é garantida. Uma aula de cinema independente ou, pelo menos, uma lição do que deveria mover a vontade de fazer cinema.