Guia da Semana

Los Angeles


O talento dos irmãos Ethan e Joel Coen é inegável. Filmes como Fargo, O Grande Lebowski e o ´oscarizado´ Onde os Fracos Não Têm Vez demonstram a capacidade da dupla, que agora escracha com o gênero de filmes de espionagem e a imbecilidade das pessoas em Queime Depois de Ler. Sob a égide do humor negro e de não se levar a sério, o longa-metragem trilha um caminho perigoso entre os extremos da comédia, que pode passar de hilária a desconexa com grande facilidade, especialmente quando se trata de uma obra que vai atrair diversos públicos graças a seu elenco para lá de estelar, com Brad Pitt, George Clooney, Frances McDormand, John Malkovich e Tilda Swinton.

A história é maluca, tão maluca que soa um pouco com os surrealismos de Charlie Kaufman. Um analista da CIA (Malkovich) é demitido e resolve escrever um livro, mas nem imagina que a esposa (Tilda Swinton) tem um amante (George Clooney). Decidida a pedir o divórcio, pois acha que o marido vai passar a viver a suas custas, ela rouba todos os dados do computador dele. Entretanto, por acidente, uma cópia do material vai parar nas mãos de dois imbecis: Brad Pitt e Frances McDormand; ele é um daqueles professores acéfalos de academia de ginástica, ela trabalha no mesmo lugar, mas colocou na cabeça que precisa de quatro cirurgias plásticas para se "reinventar" fisicamente.

O grande barato foi misturar esse monte de gente num rolo de proporções homéricas no qual ninguém sabe de nada e todo mundo tem a ver com todo mundo. No meio disso tudo, está a chefia da CIA, mais perdida que cego em tiroteio. É uma sátira a quem se leva a sério, seja no meio da espionagem seja no meio cinematográfico. Entretanto, tudo é feito com tamanha "normalidade" que a comédia custa a acontecer. Três personagens têm real potencial cômico - Pitt, Clooney e J.K.Simmons, como o chefe da CIA - e até cumprem sua função, mas não o suficiente para justificar tamanha carga de diversão atribuída a esse longa-metragem.

Por mais que soe como heresia, a motivação por trás da trama é semelhante à do besteirol assumido Tenacious D - Uma Dupla Infernal, de Jack Black. Os músicos querem apenas pagar o aluguel e para isso peitam o diabo em pessoa. O mesmo acontece em Queime Antes de Ler, com a personagem de Frances disposta até mesmo a vender "informações secretas" para os russos, tudo para conseguir pagar por suas operações plásticas. É a quintessência da imbecilidade moderna.

Não há como negar, porém, que o resultado seja cáustico ao extremo e carregado de crítica social, incluindo boas sacadas sobre os sites de namoro, a falta de noção do sujeito moderno e também das instituições que "comandam" a sociedade. Tudo ali é extremo e não há meio termo. Se um personagem se considera inteligente, ele acha que é o melhor do mundo; quando é imbecil, o faz com louvor.

Tecnicamente é impecável, com grande trabalho de elenco e de enquadramentos, sempre bem feitos pelos Coen. É justamente a excelência técnica que prejudica Queime Depois de Ler, pois tudo é normal demais. O desenvolvimento dos personagens é próximo demais da vida real, faltando a eles o viés fantástico ou surreal capaz de destacar sua trama o suficiente para ser inesquecível. É um filme burocrático e pretensioso demais, a não ser para aqueles dispostos a encontrar genialidade onde ela não existe e comédia onde não há graça.


Quem é o colunista: Fábio M. Barreto adora escrever, não dispensa uma noitada na frente do vídeo game e é apaixonado pela filha, Ariel. Entre suas esquisitices prediletas está o fanatismo por Guerra nas Estrelas e uma medalha de ouro como Campeão Paulista Universitário de Arco e Flecha.

O que faz: Jornalista profissional há 12 anos, correspondente internacional em Los Angeles, crítico de cinema e vivendo o grande sonho de cobrir o mundo do entretenimento em Hollywood.

Pecado gastronômico: Morango com Creme de Leite! Diretamente do Olimpo!

Melhor lugar do Brasil: There´s no place like home. Onde quer que seja, nosso lar é sempre o melhor lugar.


Atualizado em 6 Set 2011.