Guia da Semana

Cada vez mais, os documentários afastam-se de seu formato tradicional e apostam em novas narrativas para contar as suas histórias. É o caso de Que Estranho Chamar-se Federico: Scola Conta Fellini, que estreia nesta quinta, 5 de junho. Como o título sugere, trata-se de uma homenagem ao maestro do cinema italiano, contada pelo seu grande amigo e também cineasta, Ettore Scola. Aqui, os corriqueiros depoimentos são deixados de lado, dando espaço para a ficção confundir-se com a realidade. Ambientes, ocasiões e personagens são recriados e levam o espectador ao fantástico mundo do diretor -  desde seus primeiros passos como desenhista, os primeiros filmes, os tantos Oscars e, finalmente, a sua morte.

Essa fronteira entre sonho e realidade é o que conduz o filme, que não chega a ser uma biografia completa. Longe disso. Que Estranho chamar-se Federico é um inventário de memórias, fotos e filmagens que refazem momentos específicos da vida do diretor. Não há, por exemplo, dados de sua infância ou que aprofundem em vida pessoal. O longa inicia com um jovem Fellini, recém-chegado a Roma, batendo à porta do Marc’Aurelio, jornal onde começou sua carreira como cartunista e onde também conhecera Scola. A partir daí, como um imenso abismo de narrativas e possibilidades, reúnem-se histórias, nem sempre conectadas, da relação entre os dois.

Que Estranho Chamar-se Federico

O dia a dia da redação, os cafés pelas ruas da capital e as conversas despretensiosas compõem a retrospectiva que não nos mostra um Fellini idealizado, e sim como o jovem cheio de ideias que um dia foi, até a nostalgia da velhice. A sinceridade da narrativa, aliás, não teme em colocar em cena a fama de mentiroso do diretor. O maior expoente do Neorrealismo Italiano é também apresentado como o maior “Pinóquio” do mesmo. É aí que o documentário de Scola aproxima-se com a maior característica de Fellini: sonho e realidade caminham juntos e não há problema algum em relação a isso.

Que Estranho Chamar-se Federico

Que Estranho Chamar-se Federico estreou no Festival de Veneza do ano passado, como parte das homenagens ao 20º ano sem o diretor. As imagens do funeral de Fellini, em 1993, encerram o filme, mostrando o seu valor (não só) para a cultura italiana. O título de maestro não veio à toa; filmes como “A Doce Vida”, “8 e 1/2" e “Roma” fazem não só parte de um importante lugar na história do cinema mundial, como também na vida das pessoas que com eles foram tocadas  - verdadeiras fábulas da realidade de qualquer um.

Assista se você:

- Conhece ou aprecia o trabalho de Fellini
- Procura uma nova experiência em documentário
- Quer adentrar em momentos específicos da vida do diretor

Não assista se você:

- Tem pouca intimidade com os filmes de Fellini
- Prefere documentários tradicionais
- Espera uma grande biografia do diretor

Por Ricardo Archilha

Atualizado em 3 Jun 2014.