Guia da Semana

Houve um tempo em que o que mais importava em um filme não era a tecnologia, mas, sim, o roteiro. Seus diálogos e história eram mais importantes que objetos saltando da tela na cara do espectador. O Rei Leão é deste tempo.

A obra-prima dos estúdios Disney, considerado, ainda hoje, um dos melhores desenhos de todos os tempos, reestreia 17 anos depois em 3D nos cinemas. Após um trabalho de conversão que durou nove meses, o filme volta a emocionar plateias ao redor do mundo em sua versão tridimensional.

O coração pulsando, acelerado nos segundos de tela escura que antecedem o nascer do sol e a primeira música, já ditou o tom da emoção ressurgindo no restante do filme. A história é a mesma, nada mudou, não foram acrescentadas cenas novas: em uma versão leonina de Hamlet, Simba é o príncipe responsável por retomar o trono após seu tio matar o rei. A diferença agora é a profundidade. Não do roteiro, ainda mais inteligente que muito filme adulto por aí, mas das imagens. A pedra do rei aparece majestosa (com o perdão do trocadilho) no voo rasante de Zazu. A psicodelia de O que eu quero mais é ser rei, um dos números musicais, salta aos olhos. O estouro da manada de gnus parece vir em nossa direção. O céu estrelado vai ao longe. Scar salta do fogo em nosso colo. Tudo impressiona ainda mais.

Para alguns críticos, o desenho é datado. Sim, ele é de uma época em que números musicais permeavam a história e ela não tinha obrigação de ser frenética e engraçadinha. Claro que as versões animais de Rosencrantz e Guildenstern (ou Timão e Pumba) são o alívio cômico necessário em uma história tão pesada e triste, mas isso só contribui. A técnica de animação também pode ser datada, sem o compromisso de fingir que é real. Mas nada disso desmerece o filme.

Na sessão que tinha praticamente só adultos no cinema, as piadas ainda fizeram rir, as cenas tristes ainda arrancaram lágrimas, as músicas nos fizeram cantar. Sem nostalgia ou saudades, o filme reacende uma inocência que parece perdida do cinema infantil atual, e acaba mostrando novamente como certos valores ainda tão explorados pela Disney e Pixar, e como a amizade e o respeito continuam relevantes.

A trilha sonora, vencedora de dois Oscar (trilha e canção, com Can You Feel The Love Tonight?, interpretada por Elton John), soa novamente impactante, embalando cenas que fizeram parte da infância de muita gente. Poder ouvir novamente Ciclo da Vida, Se Preparem e principalmente Hakuna Matata (foi difícil segurar o coro no cinema e não cantar junto com Timão e Pumba), ver nossos personagens tão amados desfilando novamente na tela grande do cinema, dessa vez em 3D, cantando, sofrendo, amando... assim como nós, na poltrona do outro lado da tela.

O relançamento do filme no cinema é parte de uma estratégia da Disney que relançará o filme no mercado de home vídeo (DVD e blu ray) no mundo todo nas versões tradicional e em 3D, para quem já dispõe da tecnologia. Serão relançadas também as sequências que não foram lançadas no cinema. Sem chegar ao mercado brasileiro, um "box" em formato de tambor com cópias dos três filmes em DVD, blu ray, cópias digitais e a versão 3D do primeiro filme, é o objeto de desejo dos fãs de Simba, Nala, Mufasa, Timão, Pumba, Scar, Zazu e o resto da trupe.

Leia as colunas anteriores de Flávio St Jayme:

Calçadão da Rua XV

Super 8

Contra o tempo

Quem é o colunista: Flávio St Jayme.

O que faz: Pedagogo de formação, historiador de Arte, empresário de profissão, artista plástico e escritor de realização, cinéfilo e blogueiro de paixão.

Pecado gastronômico: Batata frita, Coca Cola e empanados em geral.

Melhor lugar do mundo: Aquele onde a gente quer chegar. E a gente sempre vai querer chegar em algum lugar.

O que está ouvindo no carro, iPod, mp3: Sempre: Ludov, Matchbox Twenty, Maroon Five, Jay Vaquer, Belle & Sebastian, Coldplay, Robbie Williams, Pato Fu, Irreveresíveis, Glee, trilhas de filmes.

Para falar com ele: [email protected], ou siga seu blog, Twitter e Facebook.





Atualizado em 10 Abr 2012.