Guia da Semana

Assistir a um Eduardo Coutinho é sempre uma experiência reveladora sobre o que é fazer cinema. No caso de “Últimas Conversas”, último filme dirigido por ele antes de sua morte (montado por Jordana Berg e finalizado por João Moreira Salles), a tradicional transparência deixa de ser apenas ferramenta para se tornar, também, objeto – como um documentário que se debruça sobre si e sobre seu criador.

“Últimas Conversas” trabalha com duas narrativas paralelas: a dos jovens cariocas que, entrevistados por Coutinho, falam sobre seus anseios, angústias e sonhos; e a do próprio diretor, que, diante desses adolescentes, expõe sem filtros as frustrações e surpresas que brotam do diálogo entre gerações.

Desde a cena inicial, ouvimos o documentarista lamentar a escolha dessa faixa etária como objeto de estudo: para ele, falta-lhe a curiosidade essencial para extrair desses garotos suas melhores histórias. Diante de tantos celulares, descrença e arrogância, ele admite às câmeras, melancólico: “Devia ter gravado com crianças”.

Mesmo assim, um após o outro, os estudantes mostram ao entrevistador que podem ser tão interessantes quanto seus equivalentes mais velhos. Suas histórias são tão diversas e, em certos pontos, tão semelhantes (todos, por exemplo, escrevem poesia ou diários), que bastam alguns personagens para termos o panorama de uma geração marcada pelo bullying, pelo excesso de confiança (ou, no outro extremo, insegurança) e por uma carência afetiva grande em relação aos pais.

“Últimas Conversas” é o filme de abertura do Festival É Tudo Verdade e deve estrear nos cinemas no próximo mês.

Por Juliana Varella

Atualizado em 9 Abr 2015.