Guia da Semana

O que é isso?
A mitomania foi originalmente conceituada em 1905, pelo médico e psiquiatra francês Ernest Dupré, sob a seguinte forma: "tendência patológica à fabulação consciente. As histórias imaginárias do mitômano são, às vezes, pobres de conteúdo, e inverossímeis, outras vezes, pitorescas, bem concatenadas, pelo que induzem à convicção" .



Quem nunca contou uma mentirinha? A própria cantora Rita Lee já assumiu que mente muito nas entrevistas. De qualquer forma, existem pessoas que levam a mentira tão a sério, que passam a vivenciar a história como se fosse verdadeira. Essas pessoas são os mitônamos.

Mas não confunda! Ter mitomania é diferente de ser um mentiroso compulsivo, que não consegue assumir a mentira por conta da fraca personalidade, como explica a psicóloga Rita Jardim. O mentiroso tem noção real do que está fazendo, mentindo para se livrar de algum problema.

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"Os mitômanos são pessoas que gostam de contar histórias e acabam vivenciando as mesmas como se fossem realidade. Para a pessoa que ouve a princípio, não tem como descobrir. Mas depois de ouvir tanta mentira, acaba percebendo que as histórias não batem e diagnosticando o problema", completa.

Eles têm a característica de mentir sobre um assunto específico, como o perfil dos pais ou fatos determinados do passado. Essa é a forma que encontram para fugir da realidade dura que enfrentam em certo aspecto da vida. Já o mentiroso compulsivo, mente sobre qualquer coisa, sem motivo ou controle da situação.

O psiquiatra e chefe do serviço de saúde mental do Hospital Municipal Lourenço Jorge - RJ, Leonardo Gama Filho, explica que o quadro do mentiroso compulsivo costuma ser um sintoma associado à outra patologia mental. "Ele é um refém do comportamento de mentir, precisando fazê-lo sem limites para se sentir bem. Quando confrontado com a falsidade de suas afirmações, apresenta a capacidade de reconhecer a não-veracidade dela, porém, demonstra uma tendência compulsiva a repetir a mesma mentira ou a criar uma outra pouco tempo depois."

A psicóloga Denise Impastari explica que a pessoa com mitomania possui uma supervalorização de suas crenças em função da angústia profunda e problemas emocionais. A mentira é tida como verdadeira para manter um equilíbrio mais ou menos suficiente.

Sintomas
? Insegurança, já que a própria realidade é sustentada de forma forjada.

? Dificuldade em tomar decisões e acreditar nelas.

? Falta de autoconfiança.

? Falta de credibilidade.

? Tendência à confusão mental.



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O problema pode ocorrer desde a infância, sendo difícil diagnosticar nessa fase, já que a criança tem o costume de mentir. Mesmo assim, ele pode permanecer durante a adolescência e a vida adulta. Entre os 10 e 13 anos de idade, o indivíduo desenvolve a saúde mental, equilibrando os mundos interno e externo, aprendendo a ter opiniões próprias e a se relacionar formalmente. Quando ocorre algum transtorno de personalidade, qualquer trauma ou complicação durante esse período, são desencadeados conceitos errados sobre si mesmo e a própria vida, causando a doença.

"No fundo, a pessoa sabe que aquilo que está dizendo é uma mentira, mas, para ela, é uma mentira boa", explica a psicóloga Fabiana Frade. A especialista ressalta que o problema é desencadeado a partir de questões afetivas, como a falta de um companheiro ou dificuldades no relacionamento em família. Uma das principais causas da mitomania é, inclusive, a depressão associada à ansiedade, podendo evoluir até chegar a um suicídio, em casos graves.

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O tratamento deve ser realizado com psicólogo e psiquiatra, no entanto, a cura não é simples. O problema pode ser amenizado, mas não solucionado totalmente, estando sujeito a recaídas caso não haja a "manutenção" necessária com o profissional. Não há graus da doença, eles são medidos de acordo com os prejuízos que ela traz. Segundo Rita Jardim, existem mitômanos que não prejudicam ninguém além deles próprios. O psiquiatra poderá indicar medicamentos, que costumam incluir antidepressivos.

Participar da terapia junto com a pessoa envolvida é uma forma de amenizar a questão, uma vez que isso minimiza a solidão e desejo de morte, conseqüentes da doença.

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O psicólogo especializado em antropologia Mauro Godoy conta que é preciso esclarecer, sem cobranças ou pressão, a razão pela qual a pessoa está mentindo, livrando-a de culpas e fazendo com que entenda até que ponto vale a pena continuar inventando histórias. Em seguida, é necessário transformar a vontade de mentir em alguma atividade produtiva, como no trabalho, por exemplo. "Essa pessoa, no mínimo, é criativa", completa.

Quando o problema é mentira compulsiva, a princípio o tratamento segue o mesm. A diferença é que podem haver comprometimentos de formação, como a perversão, o que complica o quadro.

Como lidar
? Se for colega de trabalho, por exemplo, cheque sempre as informações que ele passa. No relacionamento a dois, é preciso ter muita paciência para lidar com a situação.

? Mostre dados que comprovem a mentira.

? Nunca confronte um mitômano diretamente, pois ele não acredita que está mentindo. Falar para ele que está inventando coisas é um sofrimento muito grande.

? Aos primeiros sinais de que a mentira está fora de controle, encaminhe a pessoa para o médico.

? Compreenda quando ele delira. Quando descreve algo distorcido, significa que está apontando para uma ferida dolorida, onde não quer que ninguém encoste.

? Não diga diretamente para o mitômano buscar tratamento. Diga algo como "pensei em procurar um psicólogo para mim", para que a pessoa tenha a idéia, já que, no fundo, ela sabe que possui algum problema, apesar de não entendê-lo completamente.



Quando a mentirinha passa a ser um problema?

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"Hoje em dia, como o marketing está na moda, é muito fácil encontrar pessoas mentindo sobre si mesmas ao preencherem um currículo, ao venderem coisas, ou até na hora de paquerar. Essas são consideradas atitudes mitomaníacas, mas o conceito de doença surge quando o comportamento gera problemas, esclarece Godoy.

O grau da mitomania é sempre proporcional ao sofrimento que ela acarreta. O que ocorre é que a pessoa prefere conviver com um passado que nunca existiu para fugir dos problemas ou mascarar feridas sem tratá-las. Até onde isso pode levar só vai depender do autocontrole de cada um.

Não há como evitar. O que se deve fazer é dar atenção aos filhos e afeto, para que eles não venham a sofrer com esse e outros problemas decorrentes de carência. Uma "mentirinha" não chega a ser mitomania, mas se os pais percebem que a criança o faz com freqüência, devem procurar pelo psicólogo, para que a questão não se agrave.

O psiquiatra francês Dupré afirma que todas as crianças mentem naturalmente. Essa característica passa a ser doentia num número reduzido de casos, sendo que a mitomania costuma ter início na infância ou adolescência.

A mentira patológica é tida como sintoma freqüente em diversos transtornos, principalmente nos transtornos de personalidade narcisista, histriônica (excesso de emotividade e busca de atenção) e anti-social, segundo Gama Filho. A compulsão por mentiras pode se dar por razões patológicas, de personalidades problemáticas, ou pode ser causada em decorrência de uma neurose histriônica como a Síndrome de Munchhausen e de Ganser.

Colaboraram:
? Mauro Godoy
? Rita Jardim
Pink Chic: Downtown - Av. das Américas, 500, Bl. 04, Sl. 115 - RJ
Fone: (21) 2496-3668
? Fabiana Frade
Fone: (11) 7290-0058
? Leonardo Gama Filho
Hospital Municipal Lourenço Jorge - Av. Ayrton Senna, 2000, Barra da Tijuca - RJ
Fone: (21) 2431-1818 / (21) 3325-5878
Consultório - Rua Luis Carlos Prestes, 410, S.126, Barra da Tijuca - RJ
Fone: (21) 2104-9612

Atualizado em 10 Abr 2012.