Guia da Semana

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Mesmo com o caderno de caligrafia, os esforços dos professores e, mais ainda, do aluno, há casos em que não se consegue melhorar a letra. Esse problema tem um nome: disgrafia. O transtorno é a dificuldade no ato da escrita, procedente de um distúrbio de integração visual-motora, que afeta a capacidade de escrever ou copiar letras, palavras e números.

"É um transtorno funcional que pode aparecer em pessoas de qualquer idade, mesmo com capacidade intelectual normal", explica a psicomotricista e coordenadora da EDAC - Equipe de Diagnóstico e Atendimento Clínico - , Raquel Caruso. As letras precisam ser mais do que garranchos para o fato ser um problema, pois além de ilegível, a grafia possui traços irregulares, pode haver omissão de letras e ligação inadequada entre elas - muito distantes ou grudadas.

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Tipos do transtorno

As causas podem ser de ordem motora, emocional ou mista. A primeira atua na falta de coordenação motora, causada pela imaturidade do sistema nervoso central e periférico, que atrasa a aquisição de habilidades como escrever, desenhar, segurar talheres e até manter o equilíbrio.

Outro fator possui causa emocional. Muitas crianças são discriminadas nas escolas por professores e colegas de sala, assim como por seus pais, devido a sua letra feia. As letras muito pequenas significam timidez; já as pessoas que escrevem muito forte e marcam as páginas, estão descarregando alguma tensão. "A pressão emocional influencia muito no desenvolvimento da escrita. Já tive paciente que confessou fazer letra garranchada para a professora não ficar brava, caso ele errasse na grafia da palavra", revela Raquel.

Muitos disgráficos são decorrentes de causa mista, que une a disfunção motora com problemas emocionais. De acordo com a especialista, a alfabetização precoce das crianças pode auxiliar consideravelmente para elas terem dificuldades na escrita, pois elas deixam de amadurecer outras habilidades psico-motoras necessárias para a idade, desenvolvidas com brincadeiras e exercícios de esculturas em argila, por exemplo.

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Passos a seguir

A disgrafia não é exclusividade de crianças. O transtorno pode aparecer também em adolescentes, assim como em adultos. "Recebo muitos adolescentes na clínica que vão em busca de melhora na escrita pensando no vestibular", fala a psicomotricista. Ela ainda explica que já teve pacientes, pais de crianças diagnosticadas disgráficas, que também tinham a letra ilegível e, por isso, resolveram procurar ajuda.

Para diagnosticá-la é necessário que a pessoa vá até uma clínica especializada e passe por uma série de testes e exames. Esse procedimento, assim como todo tratamento, é feito de acordo com cada caso e com os profissionais necessários. Psicólogos, psicopedagogo, psicomotricista e fonaudiólogos fazem parte da equipe de auxílio para o tratamento de disgrafia.

"Trabalhamos muito com terapia, prancha de equilíbrio e até em ações básicas na cozinha, como abrir lata e mexer em farinha com ovos", detalha Raquel. Ela afirma ser necessária uma preparação prévia no paciente, que atuaria nas causas do transtorno, para depois chegar na escrita.

O tratamento pode durar seis meses ou até anos, variando de acordo com cada caso e suas outras comorbidades. O importante é que o processo fornece resultados notórios aos pacientes. "É preciso procurar ajuda antes que a escrita incorreta seja sedimentada e saber que não buscamos letra bonita, mas sim, legível", finaliza.

Disgrafia x dislexia

Não confunda as palavras, mesmo tendo sonoridades e escritas parecidas. Dislexia é o transtorno em que a pessoa possui dificuldade de ler, entender o que está escrito e assim, de aprender. "Às vezes o paciente pode apresentar as duas comorbidades, porém é mais provável que um dislexo seja disgráfico, do que o inverso", explica Raquel Caruso.

Atualizado em 6 Set 2011.