Guia da Semana

Foto: Getty Images
De acordo com algumas reportagens publicadas ultimamente em jornais e revistas e, até mesmo, nos programas de TV, notamos que a "tentativa" de inclusão de crianças deficientes vem crescendo no país.

Segundo o Censo Escolar do Ministério da Educação, há no país 503.570 alunos matriculados com necessidades especiais (deficiências visual, auditiva, física e mental), 30% freqüentam escolas que oferecem o ensino regular e o restante está em escolas ou salas especiais. Em 1998, eram apenas 13%.

No entanto, apesar de ser uma recomendação da LDB, nota-se que as instalações físicas, o material didático e pedagógico e a capacitação dos professores ainda é muito precária. Além da falta de apoio terapêutico causado por inúmeros fatores, como transporte, condições financeira da família e até falta de informação.

Entre os educadores e estudiosos do caso, existem os que defendem a inclusão imediata das crianças em classes regulares e outros que acreditam na inclusão gradativa, onde as crianças freqüentam primeiro uma sala especial na própria escola, interagindo com os outros alunos em algumas atividades específicas, para depois ingressarem em classes regulares.

Analisando as possibilidades, verificamos que estamos caminhando para um real crescimento, mas ainda falta um pouco de sensibilidade para alguns gestores da educação. Algumas instituições, como Apae e a AACD, oferecem cursos de capacitação de profissionais, onde a idéia principal é a de preparar o profissional consciente da responsabilidade de trabalhar com a criança deficiente preparando-a para o momento de ingresso na rede regular de ensino. Na opinião de Edigilson Tavares, coordenador do Instituto Apae, "o processo de inclusão não pode acontecer por decreto, é preciso que haja uma mudança de posicionamento e de cultura do professor".

Durante o nosso curso de "Educação de Deficiente I", conhecemos e discutimos sobre as idéias de vários estudiosos, mas na minha opinião acredito que a inclusão é possível sim e concordo com alguns posicionamentos. No entanto, são necessárias algumas mudanças, mas não tão críticas como colocam. Essas mudanças são gradativas e vale à pena a tentativa consciente e real, ou seja, se a educação escolar tem como objetivo fundamental proporcionar uma cultura comum a todos os alunos, evitando a discriminação e a desigualdade e respeitando as características e as necessidades individuais, refletindo sobre isso teremos nas mãos uma forte aliada. Mas, para serem atendidas, as dificuldades apresentadas por alguns alunos, necessitamos de modificações que facilitem e reforcem o progresso destes alunos, tanto na organização e funcionamento da escola, como nas adaptações do currículo, preparação dos profissionais e dos pais e nos meios físicos e materiais.

Ao longo da história a escola centrou-se na satisfação das necessidades educativas comuns, sem preocupar-se com as necessidades especiais. Assim, os alunos que não conseguem alcançar os objetivos estabelecidos são "separados" em salas ou escolas especiais. Até acredito que para inicio de conversa isso seja necessário, mas os educadores devem refletir sobre a necessidade de um currículo aberto e flexível como condição fundamental para responder à diversidade, permitindo refletir e ajustar às diferentes realidades sociais e culturais e individuais.

Cada escola deve refletir a respeito do seu currículo e sua prática, planejando de forma conjunta à ação educacional mais adequada a sua realidade, revendo processos e medidas que evitem qualquer tipo de exclusão.

Certa vez me questionaram sobre a mudança no planejamento para a recepção de crianças portadoras de necessidades especiais. Respondi que não ouve mudança no planejamento, mas na forma de pensá-lo, ou seja, na criação de estratégias novas que favorecessem a inclusão dessas crianças, tão crianças como as outras que já tínhamos na escola. Todo esse processo inicial favoreceu muito os profissionais que passaram a interessar-se por cursos e informações que melhorasse o trabalho. Portanto, acredito na inclusão, desde que os profissionais estejam conscientes do trabalho a ser realizado, inclusive a direção educacional que influenciará muito na decisão de cursos para os professores, nas possíveis mudanças físicas e na compra de material (quando necessária). Para isso também são importantes uma entrevista inicial com a criança, um acompanhamento educacional e pedagógico com os pais, professores e com os possíveis terapeutas. Só uma ação real, consciente e conjunta pode levar ao sucesso. Não adianta a escola receber alunos que não poderá atender ou realizar um trabalho verdadeiro. Crianças largadas no chão de salas do ensino regular ou vagando pelos corredores da escola, não promovem nenhum tipo de inclusão, isso é falsidade e desonestidade. Acredito que estamos caminhando e lutando e que temos um futuro promissor.

Bibliografia:
1. Coll, C.; Palácios, J.; Marchesi, A. Desenvolvimento psicológico e educação. Transtornos de desenvolvimento e necessidades educativas especiais. Vol. 3. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
2. Voivodic, M. A. Inclusão e Integração: Uma visão Crítica. (texto elaborado como parte da dissertação de Mestrado). São Paulo, 2003.
3. Mena, F. Inclusão exige capacitar os professores. Folha de São Paulo - Cotidiano. São Paulo, 2004.
4. Collucci, C. Cresce a inclusão escolar de deficientes. Folha de São Paulo. São Paulo, 22/02/ 2004.
5. Cavalcante, M. Aparências diferentes? Talentos também. Revista Nova Escola. São Paulo: Ed. Abril, Junho/Julho 2004.






Quem é a colunista: Patrícia Bissetti
O que faz: Orientadora Pedagógica e Educacional do Colégio PIO XII
Pecado gastronômico: Quindim
Melhor lugar de São Paulo: Parque Villa-Lobos
Fale com ela: [email protected]




Atualizado em 6 Set 2011.