Guia da Semana



Minha mania deste mês é Partie Traumatic, CD de estréia de uma bandinha chamada Black Kids. É um álbum bem legal, com um clima oitentista, produzido por Bernard Butler - ex-vocalista do Suede. Mas isto não é uma crítica musical e sim um texto sobre como a internet está mudando a dinâmica do que é sucesso no mundo da música.

Os Black Kids são um belo exemplo disso. Eles conseguiram exposição mundial depois que disponibilizaram o seu primeiro trabalho, o EP Wizard of Ahhhs, em sua página do MySpace. No endereço, todas as músicas podiam ser ouvidas e baixadas gratuitamente. O sucesso foi tão grande que não demorou muito para que eles lançassem o seu disco pela Almost Gold, um selo da gigante Columbia Records.

Talvez você pense "E daí?". Bom, na verdade, isso é uma tremenda evolução. Não faz muito tempo, quase tudo que tocava nas rádios e passava na TV só estava lá por causa do jabá. Caso você não saiba, jabá (o jábá musical ao menos), é quando a gravadora ou o empresário pagam para que o artista apareça na TV ou entre na programação de uma rádio. Assim, surgiram muitos sucessos fabricados. Hoje, com a web, o povo escolhe o que gosta e o que quer ouvir. Isso, felizmente, ajudou a destruir essa industria do jabá.

Um dias desses, ví na MTV o BNegão falando de quando colocou o seu disco "Enxugando Gelo" completo para download na rede mundial. Isso foi em 2003, época em que o jabá ainda funcionava a todo vapor. A iniciativa deu certo e o artista conseguiu novos fans no mundo inteiro, o que resultou até em uma turnê pelo exterior.

A força musical da internet parece aumentar com os anos. Pense na banda Arctic Monkeys. O grupo só é o que é hoje por causa do sucesso que as demos de suas múicas fizeram em programas de compartilhamento de arquivos. Por conta disso o CD Whatever People Say I Am, That´s What I´m Not, de 2006, conseguiu o feito de ser nada menos que o álbum de estréia com vendagem mais rápida de todos os tempos.

No começo, os artistas e as gravadoras não se adaptaram bem a esse novo cenário. É notória, por exemplo, a briga do Metallica com o Napster, um dos primeiros programas para compartilhamento de arquivos. Mas hoje a coisa está bem diferente e as bandas espertas já sabem como usar a rede a seu favor. Um ótimo exemplo é o Radiohead, que disponibilizou (na ocasião do lançamento) o excelente In Rainbows para download em seu site, permitindo que a pessoa pagasse apenas o que quisesse pelo álbum.

O resultado é que muita gente escutou e falou do CD, o sucesso da banda continua e os shows dela pelo mundo estão garantidos. No mundo da música de hoje, quem usa a web inteligentemente pode alcançar um sucesso estrondoso, mas quem a ignora corre o risco de cair no esquecimento.

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Quem é o colunista: : Robinson Melgar, 29, não estudou e por isso ganha a vida escrevendo sobre informática. Seu sonho é virar a maior autoridade em cinema de sua rua.

O que faz: é jornalista.

Pecado gastronômico: x-calabresa.

Melhor lugar de São Paulo: Rua Augusta.

Acesse o site dele: www.morfina.com.br.

Atualizado em 6 Set 2011.