Guia da Semana

Alone in the Dark é uma franquia já consagrada no mundo dos jogos, sobretudo pelo certo pioneirismo do título original da série, de 1992, em que não haviam registros de sucesso de jogos do gênero de suspense/survival horror… tanto que o título é considerado por muitos até hoje o pai do gênero, inspirando, por exemplo, na criação do lendário Resident Evil, bem como Silent Hill, dentre outros.

O título original tinha como ambiente central uma mansão misteriosa, denominada Derceto, Inspirada na mansão do conto “A Queda da Casa de Usher”,  famosa história do mestre das escritas de suspense e terror Edgar Allan Poe. Somava-se a essa inspiração específica também a lore de H.P Lovecraft e todos seus mitos para inspirar a parte dos monstros. Alone in the Dark 1 foi não só pioneiro de um estilo: foi inovador ao colocar um jogo com tantos elementos, quebra cabeças, inventários, etc, utilizando os modernos (para época) gráficos 3D.

O enredo do jogo original tinha por premissa uma suspeita morte de Jeremy Hartwood, em que para averiguar os acontecimentos de modo mais profundo uma das personagens jogáveis, Emily Hartwood (sobrinha de Jeremy) contrata o detetive particular Edward Carnby para ajudá-la na tarefa. Carnby esse que passou a ser presença fiel em todas as seguintes edições do game.

A série, que teve uma trilogia ainda na década de 90, teve um hiato de lançamento até voltar, já nos anos 2000 com Alone in the Dark : The New Nightmare, que foi, pra mim, o último bom título da franquia.

Me lembro de jogar Alone in the Dark 1, compactado em disquetes em um PC 486 (quem viveu, lembra dessa lenda!).

Após errar a mão, mudar de survival horror para ação frenética e com algumas escolhas bem erradas, a franquia parece ter encontrado um “caminho de volta” neste título. Veja o por que em mais uma review antecipada do Pizza Fria!

Um retorno ao título original

O novo Alone in the Dark pode ser considerado um reboot ou um remake do título original, em que nós jogadores temos como opções jogar com a Emily Hartwood, interpretada pela atriz Jodie Comer (Killing Eve, Free Guy) ou o protagonista da série, o detetive Edward Carnby, cujo papel está com David Harbour (Stranger Things, Viúva Negra). Ambos contam com dublagem em inglês.

O Alone in the Dark de 2024 me trouxe a sensação de que finalmente estamos de volta as origens! O game recorreu à simplicidade da ideia de sobrevivência e de desvendar de mistérios, assim como no game original, em que estava sendo perdido desde as novas roupagens do mesmo no ido dos anos 2000. Vale destacar que o mote do jogo também é o mesmo: neste novo título, Emily Hartwood contrata o detetive Edward Carnby para desvendar o que aconteceu de fato com o seu tio Jeremy Hartwood.

Já no início do jogo, podemos ter a memória “destravada” ao ver os personagens chegando à mansão por uma estrada de terra. Até o aparecimento do “sapo” icônico da cinemática do original está ali! Após isso, temos algumas nuances diferentes, visto que no game original, já começávamos dentro da Mansão Derceto. Neste novo título, temos que começar por fora, buscando uma maneira de entrar.

Alone in the Dark
Edward Carnby é interpretado pelo famoso ator David Harbour (Imagem: Divulgação)

De cara podemos perceber que o clima NOIRE, assim como o foco total em exploração e em decifrar puzzles está predominante. Logo no início já temos que recorrer a vários enigmas para poder avançar no jogo, assim como encontramos diversos itens , como cartas e diários que vão contando a  história do jogo pouco a pouco, para que possamos ir ganhando em imersão, como era usual na época do título original. Esta talvez deve ser a “tacada de mestre” do novo Alone in the Dark: descobrir que os fãs queriam “uma carta de amor” ao original e não mais uma tentativa mirabolante de “reinventar a roda”.

Assim, na medida que vamos jogando, vamos entendo a história e explorando uma mansão densa e enorme, que é percorrida por diversas vezes, para avançarmos. Aquelas buscas incessantes por novas pistas no mesmo lugar após ter “destravado” outro puzzle, aquela ideia de abrir portas e ficar com aquele clima de “o que será que tem lá dentro?”, aquela sensação de estar sempre esperando algum monstro, mas ele raramente aparecer, também está aqui. E isso é muito essência de Alone in the Dark!

Na medida que progredia, percebi que, além de do sumiço de Jeremy, temos alguma coisa muito estranha acontecendo na Mansão. E isso vai sendo descoberto no desenrolar do narrativa, sobretudo com os itens que achamos pelo nossa caminhada. Falando em itens, é engraçado perceber que, diferentemente da praxe que era usada antigamente no games do gênero, que era ter um inventário curto pra gerenciarmos o que levar ou não, não acontece por aqui. Tirando a escolha da arma de mão, em que podemos usar somente uma por vez, todo o resto aparece numa espécie de relatório, que aponta nosso avançar de itens no decorrer da jornada.

Alone in the Dark
Já o papel de Emily Hartwood ficou com a atriz Jodie Comer (Imagem: Divulgação)

Enquanto vamos explorando um pouco mais a mansão, vamos percebendo que aqui, os recursos de bala para arma e cura são relativamente escassos. De modo que as brigas também são eventuais. Assim, é muito comum esperarmos por amigos e eles não aparecerem, deixando aquele clima de tensão no ar.

Falando em tensão no ar, pequenos sustos de portas e itens se mexendo sozinhos, sons surgindo do “nada” e todo esses requintes de um bom jogo survival estão presentes, sem que para isso precisassem de fazer muito alarde ou susto explícito. Tudo é muito sutil e bem aplicado.

A gameplay do novo Alone in the Dark

O Alone in the Dark de 2024 em si é bem legal, cheio de enigmas e desafios. Mas nem tudo são flores: encontrei diversos bugs que travavam durante minha jogatina. Esses bugs vão desde mudar a cor original de um item no cenário, até travamentos recorrentes do personagem, tendo utilizar constantemente loadings de saves.

Alone in the Dark
A perspectiva de câmera em terceira pessoa fez bem ao novo Alone in the Dark (Imagem: Divulgação)

No que se refere à ambientação e ao ritmo do jogo em si, apesar de manter a essência do original, aqui podemos ver uma abordagem mais psicológica dos problemas de Jeremy em detrimento a outras coisas…. O game também vez em quando altera o cenário para dar mais imersão, eventuais sustos e, sobretudo , contar a história (o que não posso aprofundar para não dar spoiler)

Aliás, é muito difícil passar a real sensação de Alone in the Dark sem dar spoiler, portanto já adianto a conclusão: joguem! Tenho certeza que a experiência será completamente subjetiva, ou seja, alguns vão adorar pela sua essência vinculada as premissas do títulos originais, outros vão achar que tais pontos são ultrapassados e/ou entediantes.

Alone in the Dark é dividido em capítulos, sendo 5 ao todo. Cada um deles é composto por uma série de objetivos que vão se desencadeando na medida em que avançamos. Vale lembrar que para uma experiência completa da história, temos que fechar o jogo com ambos personagens. O primeiro final é sempre similar, sendo que a completude vem com o fato de zerar uma segunda vez com um outro personagem. Vale destacar também que o título em si é similar com cada personagem. Todavia, algumas nuances do trajeto da gameplay são diferentes, assim como os diálogos e interações com os NPCs. Alone in the Dark também possuí itens colecionáveis que vão mudando algumas descobertas no gameplay.

Alone in the Dark
Prepare-se para alguns sustos ao longo da sua jogatina (Imagem: Divulgação)

Uma coisa que confesso que meio que me incomodou foram as facilidades dos puzzles e inimigos iniciais, bem como nos momentos em que somos “transportados” da mansão para um outro cenário mais psicodélico, o/a protagonista do jogo não esboçava reações de surpresa como deveria, deixando a interpretação confusa.

Graficamente o jogo está bonito, sem ser exuberante. Todavia acho que cumpre bem ao que veio. A escolha da paleta de cores foi bem assertiva, passando um clima de suspense no ar.

Vale a pena comprar Alone in the Dark?

Alone in the Dark neste lançamento de 2024 é uma grata surpresa pelo fato de ter conseguido não decepcionar como os demais jogos mais recentes da franquia. A razão disso? Talvez seja a verdadeira imersão e fidelidade a premissa do jogo original: Mais puzzle, menos batalha. Mais suspense, menos ação; mais mistério e menos clichê.

Uma outra questão legal foi a parte de som, que é muito minimalista e singela, pra gerar um clima constante de suspensa. Como diria o ditado: as vezes menos é mais. Deste modo, músicas por exemplo são parte ínfima da jogatina. Elas estão lá tão somente quando se viu necessário criar alguma clima.

Alone in the Dark é pra você que, assim como eu, teve a oportunidade de jogar o título original e depois nunca mais viu a série “respeitar suas origens”. Ele também é para aqueles que querem vivenciar pela primeira vez um clássico atemporal, com sua devida atualização.

Vale lembrar que o jogo te ‘segura” bem, imersão é gerada e tudo mais. Algumas referências dos outros jogos da franquia aparecem como ester eggs desta vez.  A gameplay é razoavelmente fluida, apesar de travar em alguns momentos e o combate não ser dos melhores.

Enfim, valeu a espera. Mesmo com os bugs e com um enredo nem tão original, Alone in the Dark volta de maneira triunfante no título recente da série. O título chegará no dia 20 de março de 2024 para Xbox Series X|SPlayStation 5 e PC, via Steam.

*Review elaborada em um PlayStation 5, com código fornecido pela THQ Nordic.

Pizza Fria

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Por Rodrigo Arbex, Pizza Fria

Atualizado em 19 Mar 2024.