Guia da Semana

Há jogos que nos surpreendem pela sua originalidade, pela sua diferença, mas também pela sensação de “Como ninguém pensou nisso antes?”. Pacific Drive é, para mim, o jogo que melhor exemplifica isso, pois é um jogo de carro, de aventura, com elementos de sobrevivência, roguelike e gerenciamento. Uma combinação não muito ortodoxa para a nossa indústria, mas que ao vermos parece até familiar ou algo que já imaginamos antes.

Pacific Drive também se destaca por apresentar um cenário e uma temática muito interessantes e pouco exploradas, as Zonas de Exclusão. Conceito descrito no livro “Piquenique na Estrada” e adaptado para a franquia de jogos S.T.A.L.K.E.R. Essa temática, de haver uma zona proibida onde ocorrem coisas estranhas além da nossa compreensão, horrores cósmicos, radiação e anomalias, é por si só fascinante. Mas quando juntamos isso com a simples ideia de dirigir e sobreviver dentro dessa zona, temos um conceito ainda melhor. E Pacific Drive é isso, um jogo onde dirigimos no meio de horrores cósmicos dentro de uma zona de exclusão.

Fomos convidados pela Kepler Interactive para nos aventurarmos, sobrevivermos e entendermos o que se passa nessa zona de exclusão em Pacific Drive, e trazemos mais uma análise completa aqui no Pizza Fria!

O que é Pacific Drive?

Pacific Drive é um jogo bem esquisito, mas em termos práticos é um jogo de carro com elementos de roguelike, sobrevivência, gerenciamento e exploração. O fluxo de gameplay funciona assim: você dirige, sai do carro para explorar e coletar recursos, conserta o carro, abastece, recarrega a bateria e mantém o seu fiel companheiro funcionando enquanto tenta sobreviver.

Como o jogo também é um roguelike, essa estrutura se baseia no seguinte: o jogador tem a sua garagem, que funciona como um Hub do jogo onde você pode abastecer infinitamente o carro, recarregar a bateria, guardar suprimentos, fazer melhorias e construir itens e estruturas. Depois de se preparar para sua viagem, você seleciona no mapa o destino e viaja até lá.

Ao chegar no local, você pode procurar suprimentos, descobrir novas rotas, novos locais mas se tudo der errado você também pode voltar para sua garagem com os recursos coletados. Para isso você deve coletar algumas orbes que estabilizam o tempo nessa região para abrir um portal de volta para a garagem. Porém, quando você abrir esse portal o tempo na região ficará instável com diversas anomalias. Então você terá que chegar ao portal o mais rápido possível.

Pacific Drive
O mundo de Pacific Drive é repleto de mistérios, segredos e descobertas a serem feitas. (Imagem: Divulgação)

A história do game.

A história do jogo não é o seu aspecto mais marcante, mas Pacific Drive se destaca pelas suas mecânicas, pela diversão de dirigir ouvindo música, coletar recursos e explorar os cenários. A história serve apenas como um contexto para essa jogabilidade, narrando como essa zona de exclusão foi um polo tecnológico imenso durante a Guerra Fria, que acabou sendo tomado por anomalias, áreas radioativas e horrores cósmicos. O governo teve que isolar essa área, cercando-a com muros e proibindo a entrada e a saída de pessoas.

Nesse cenário, surge o nosso protagonista, que é um aventureiro (ou louco, dependendo do ponto de vista), que foi arrastado para dentro da zona e agora está preso nela. Ele encontra um carro misterioso que de algum modo se “liga” a ele, pois alguns objetos da zona têm uma certa autonomia. Esse carro é o seu companheiro, e sem dúvida a coisa mais importante do jogo.

Pacific Drive
Imagem: Divulgação

Os problemas da narrativa

Depois disso, você vai encontrar os outros três personagens principais de Pacific Drive, que têm seus próprios motivos para estar na zona. Oppy, Francis e Tobias serão seus guias na Zona, mas a interação deles é totalmente unilateral. Você só interage com eles ouvindo-os pelo rádio, pois o protagonista é completamente mudo (a desculpa é que você não tem como falar com eles, só escutá-los). Esses personagens são bem interessantes e é divertido entender as motivações de cada um. Os diálogos entre eles vão te fazer rir e até chorar, enquanto você foge das anomalias a 150 quilômetros por hora.

Essa história toda não é ruim, mas não me envolveu muito, porque muitas das conversas de Pacific Drive jogo acontecem enquanto você dirige. Não é fácil prestar atenção nos diálogos e nos detalhes da narrativa enquanto você escapa de uma tempestade. Além disso, como você não interage com esses personagens e não os vê, fica difícil se apegar ou se importar com eles.

Em outras palavras, eu acho que Pacific Drive não conseguiu contar essa narrativa só com áudios dos personagens da maneira certa. Faltou interação, faltou diálogos marcantes, faltou uma conexão com o jogador. Algo que jogos como Firewatch fizeram muito bem, mas que Pacific Drive não alcançou.

Pacific Drive
Apesar de Pacific Drive não apresentar gráficos realistas, sua direção de arte é compensadora. (Imagem: Reprodução)

O Ato de Dirigir

Uma experiência única é dirigir em Pacific Drive. A zona de exclusão tem um encanto indescritível, uma vontade de explorar um lugar à margem, um vazio melancólico que se torna mais belo quando é iluminado, habitado e destruído pelas anomalias e pela radiação. A direção de arte do jogo é espetacular e realça toda essa beleza.

O jogo também se destaca pelo gameplay bastante manual, diferente de outros games de carro arcade. Muitas funções do veículo não são automáticas. Por exemplo, para ligar o carro, é preciso mirar na chave de ignição e girá-la manualmente, além de soltar o freio de mão antes de sair. Detalhes como usar os limpadores de para-brisa na chuva ou na lama, acender os faróis no escuro ou manter as portas fechadas são essenciais.

Essa “fricção” nos sistemas se estende à manutenção do carro. Para trocar um pneu, é necessário remover manualmente o pneu furado antes de colocar um novo (se você tiver um sobressalente na sua viagem). O abastecimento também é manual, exigindo encontrar um posto de gasolina ou extrair combustível dos tanques de carros abandonados.

Essas interações com esses pequenos sistemas inconvenientes ajudam a manter uma imersão invejável na maioria dos jogos do mercado. E criam situações tensas, como esquecer o galão de gasolina em um posto, ou engraçadas, como ver o seu estepe rolar morro abaixo na hora de trocar um pneu. Essa imersão causada por esses sistemas manuais é rara em jogos, mas Pacific Drive se compara a Red Dead Redemption 2 nesse aspecto.

Pacific Drive
Dirigir em Pacific Drive é de longe uma das melhores experiências que há em jogos de carro. (Imagem: Divulgação)

Vale a pena jogar Pacific Drive?

Pacific Drive é um jogo que aparece sem aviso e impressiona pela sua originalidade, qualidade e singularidade. O jogo compensa cada hora jogada, principalmente por oferecer uma experiência única de dirigir um carro em uma zona distópica repleta de horrores cósmicos e anomalias.

Além disso, esses sistemas manuais e desafiadores que mencionei acima, só enriquecem ainda mais essa experiência, pois não conheço nada parecido com a sensação de sair andando à noite, me esquivando das anomalias e evitando a radiação, em busca de um carro abandonado para pegar o combustível e um pneu para continuar a minha viagem. No entanto, essa experiência pode não agradar a todos os jogadores, assim como a narrativa, que também pode frustrar algumas pessoas pela dificuldade de se identificar com os personagens que você ouve pelo rádio.

Pacific Drive já está disponível para PlayStation 5 e PC, via Steam e Epic Games Store, desde o dia 22 de fevereiro.

*Review elaborada em um PlayStation 5, com código fornecido pela Kepler Interactive.

Pizza Fria

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Por Matheus Feldmann, Pizza Fria

Atualizado em 4 Mar 2024.