Guia da Semana

Ler um livro já nos coloca em contato com os pensamentos mais íntimos e profundos de seus respectivos autores. Isso nos faz entendê-los e admirá-los, além do fato de que absorvemos suas ideias e a partir de nossas próprias bagagens, também fazemos delas um pouco nossas.

Entretanto, os livros de correspondências fazem isso de forma ainda mais profunda, pois revelam personalidade, forma de escrever e humor, nos mostrando laços e diferentes graus de intimidade com quem se correspondem.

Pensando nisso, o Guia da Semana lista 10 livros simplesmente maravilhosos de cartas enviadas por Clarice Lispector, Sigmund Freud, Mario de Andrade, Gandhi e muitas outras personalidades que amamos e gostaríamos de conhecer ou ter conhecido. Confira:

CORRESPONDÊNCIAS CLARICE LISPECTOR

O livro traz 129 cartas trocadas com outros escritores, artistas, intelectuais e familiares, sendo 70 cartas de autoria de Clarice e 59 recebidas por ela. A coletânea reúne cartas, que foram selecionadas afim de permitir a compreensão da produção literária da escritora, assim como um encontro com sua intimidade. O livro cobre quatro décadas da vida de Clarice Lispector, da década de 1940 até pouco antes da sua morte. Entre seus correspondentes estão o marido, Maury Gurgel Valente, os amigos Bluma Wainer e Fernando Sabino, até trocas mais pontuais, como as de Manuel Bandeira e Fernanda Montenegro.

CORRESPONDÊNCIA MARIO DE ANDRADE & TARSILA DO AMARAL

Ultrapassando a fronteira da amizade, as cartas trocadas por Mário de Andrade e Tarsila do Amaral mostram ao leitor um contato com algumas das importantes questões que impulsionaram os artistas do período.

CORRESPONDÊNCIAS 1928-1940 ADORNO-BENJAMIN

A correspondência entre Walter Benjamin e Theodor Adorno insere-se entre os textos produzidos durante o período de maior barbárie do século 20 - os anos de ascensão do nazismo. As cartas revelam a amizade, a parceria e a afinidade intelectual ímpar que eles cultivaram por quase 20 anos. A maior parte destas 121 cartas - e também as mais longas - foram escritas por Adorno. São comentários e críticas aos ensaios de Benjamin, dos quais ele foi, provavelmente, o leitor mais arguto. Assim, esta correspondência é de grande importância para a compreensão, em especial, do pensamento benjaminiano. Além dos episódios em que um apoiava claramente as ideias do outro, estas cartas retratam os momentos de tensão entre os dois pensadores.

CARTAS EXTRAORDINÁRIAS

Do comovente bilhete suicida de Virginia Woolf à receita que a rainha Elizabeth II enviou ao presidente americano Eisenhower; do pedido especial que Fidel Castro, aos catorze anos, faz a Franklin D. Roosevelt, à carta em que Gandhi suplica a Hitler que tenha calma; e da bela carta em que Iggy Pop dá conselhos a uma fã atormentada ao genial pedido de emprego de Leonardo da Vinci - Cartas extraordinárias é uma celebração do poder da correspondência escrita, que captura o humor, a seriedade e o brilhantismo que fazem parte da vida de todos nós. Esta coletânea de mais de 125 cartas oferece um olhar inédito sobre os eventos e as pessoas notáveis da nossa história.

AS CARTAS QUE NÃO CHEGARAM

Dos campos de concentração nazistas às torturas realizadas pela ditadura uruguaia, 'As cartas que não chegaram' reúne retratos terríveis e belos da história de uma família a partir do testemunho de um menino, um jovem e um homem - uma única memória que narra realidades que ofuscam a ficção. Mauricio Rosencof faz uma profunda reflexão sobre sua vida e a de seus familiares em meio a um mundo assolado por guerras e separações, mas com os vínculos mantidos que servem como alívio para a solidão e a tristeza.

SIGMUND FREUD CORRESPONDÊNCIA ANNA FREUD

Uma das mais famosas relações entre pai e filha - a correspondência trocada durante 34 anos por Sigmund Freud, pai da psicanálise, e Anna Freud, a caçula dos seus seis filhos e a única a seguir seus passos - é um panorama da intimidade da família Freud ao mesmo tempo em que compõem um registro único da gênese e do desenvolvimento da psicanálise. Encontram-se nas cartas impressões sobre a vida em família, nascimentos e mortes, problemas de saúde, o fantasma do nazismo e da guerra, a convivência afetiva e intelectual entre pai e filha, as pesquisas de Freud e, posteriormente, também de Anna, além de um mosaico sobre as pessoas que permearam essa convivência, como alunos, amigos e colegas de trabalho. Acompanha-se, sobretudo, o desenvolvimento do 'demônio negro', apelido pelo qual Freud chamava a filha mais nova, de quem foi psicanalista. De criança problemática e precoce, Anna passou a mulher independente e determinada, que subverteu as convenções sociais da época. Analista mundialmente reconhecida, foi a grande guardiã do legado intelectual paterno - legado que ela aprofundaria e desenvolveria, sobretudo no campo de estudos da psicanálise infantil. '


DIÁLOGOS LATINO-AMERICANOS

A escrita de uma carta a alguém sempre indica projetos, desejos e o estabelecimento de laços. Em Diálogos latino-americanos - Correspondência entre Ángel Rama, Berta e Darcy Ribeiro, os organizadores Haydée Ribeiro Coelho e Pablo Rocca apresentam as correspondências trocadas entre os intelectuais brasileiros Darcy Ribeiro, Berta Ribeiro, sua companheira de vida, e o crítico literário uruguaio Ángel Rama. O percurso que se assiste neste livro é o de três pessoas que, estando em seus países ou fora deles, jamais deixaram de se preocupar com os destinos de seu povo. As confissões de Darcy do período de exílio, as dificuldades de Ángel Rama em montar a Biblioteca Ayacucho - e sua célebre coleção de livros apoiada pelo governo venezuelano nos anos 1970 que reunia títulos fundamentais da literatura e do pensamento latino-americanos - e as aflições de Berta diante da falta de horizontes desencadeada pela ditadura brasileira.

CORRESPONDÊNCIA MACHADO DE ASSIS E JOAQUIM NABUCO

As cartas trocadas entre dois dos mais importantes nomes do cenário intelectual brasileiro - entre 1865 e 1908 - estão aqui reunidas e comentadas pelo amigo de ambos, e acadêmico como eles, Graça Aranha. A correspondência de Machado de Assis e Joaquim Nabuco ultrapassa o âmbito de conversa protocolar ou particular de amigos, e levanta questões importantes acerca do papel intelectual e do escritor no período compreendido entre o final do Império e os primórdios da Republica Velha. Esta terceira edição, publicada 80 anos após a primeira - e em convênio com a Academia Brasileira de Letras - traz um prefácio do historiador José Murilo de Carvalho e dois cadernos de fotos.

CORRESPONDÊNCIAS FREUD E JUNG

O livro reúne as correspondências trocadas entre os grandes pensadores da psicanálise Sigmund Freud e Carl Jung. Nelas, pesquisas, pensamentos, alianças, amizade e o trágico fim e rompimento de dois homens extraordinários.

CARTAS A THEO

As cartas são de Van Gogh para seu irmão Théo, escritas entre julho de 1873 e 1890. Mostram um pintor atormentado diante das questões apresentads pela sociedade e que confronta modelos e costumes. Suas telas eram jorros de substância incendiária, bombas atômicas cujo angulo de visão, ao contrário de toda a pintura com prestígio em sua época, teria sido capaz de perturbar seriamente o conformismo espectral da burguesia do Segundo Império.


 

Por Nathália Tourais

Atualizado em 20 Ago 2015.