Guia da Semana

Foto: TV Globo/Renato Rocha Miranda


Se fosse no SBT ou na Record, a gente nem se surpreenderia. Mas a Globo, que sempre prezou pela organização na sua grade de programação, também não nos livra de um susto de vez em quando. E foi com susto, surpresa e pesar que o espectador de Aline recebeu a notícia de que a série sairia do ar sem a exibição da temporada completa. A atração foi cancelada na semana retrasada, faltando apenas três episódios para o término.

Aline, baseada nas HQs homônimas de Adão Iturrusgarai, estreou como especial de fim de ano em 2008, ganhou uma temporada completa no final de 2009 e, recentemente, estreou uma segunda temporada. A série, que mostra a vida de uma menina descolada e seus dois namorados, agradou em cheio ao apostar numa edição dinâmica e diferenciada, fotografia e figurinos coloridos numa referência aos quadrinhos, e um texto muito bem-humorado. Acertou também com a escalação do elenco, vitoriosamente encabeçado por Maria Flor (Aline) e com boas performances de Bernardo Marinho (Otto), Pedro Neschling (Pedro), Malu Galli (Dolores), Daniel Dantas (Zé), Otávio Müller (Rico), entre muitos outros.

A série nunca foi recordista de audiência. Mesmo assim, acabou angariando fãs, sobretudo aqueles que já não se encantavam mais com a dramaturgia essencialmente quadrada e cheia de vícios da TV aberta. Não era exatamente vanguardista, mas trazia, sim, um frescor diferenciado à programação. E, mesmo sem ser um sucesso retumbante, Aline emplacou sua segunda temporada.

Emplacou, mas não a viu completa no ar. Oficialmente, a Globo informou que encurtou a série porque ela não vinha apresentando índices de audiência satisfatórios em algumas praças. Extraoficialmente, o cancelamento pode ter acontecido depois de uma cena que sugeriria uma "troca de casais" entre os pais de Aline, separados, e seus respectivos namorados. Qual o peso da cena na decisão não saberemos ao certo, mas, caso o cancelamento de Aline tenha a ver com conservadorismo, o problema então não é somente o desrespeito ao público. Afinal, a cena em questão não apresentava nada demais. Se alguém criticou, não deve nem ter visto o episódio.

Sempre houve boatos de que a série Aline não era bem vista por uma ala mais conservadora da Globo, incomodada com a relação entre a protagonista e seus dois namorados. Uma pena! Aline era uma atração de qualidade ímpar, em nenhum momento desrespeitosa ou baixa. Na verdade, era apenas uma comédia despretensiosa sobre uma garota peculiar. A relação entre Aline, Otto e Pedro era mostrada de uma maneira leve, quase infantil.

O último episódio exibido, um musical recheado de hits dos anos 1980, mostrou o quanto a série ainda tinha a oferecer e acrescentar à dramaturgia nacional. Aline conquistou seu público com sua graça, fruto da soma de um texto inteligente e uma interpretação sensível de Maria Flor. Seu cancelamento foi, no mínimo, um grande desrespeito ao seu público, que ficará privado de conferir três episódios que permanecerão inéditos. Ficamos na torcida para que, ao menos, eles sejam lançados em DVD algum dia.

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Atualizado em 6 Set 2011.