Guia da Semana

Por Flávia Faccini

Mr. Manson, Inagaki e Flávia: alguns dos campeões de popularidade

Olhe bem para as três pessoas da foto acima. Você sabe quem são? Provavelmente não, mas os blogs representados por elas figuram entre os mais conhecidos entre os internautas brasileiros. Wagner Martins, Alexandre Inagaki e Flávia Pegorin representam os endereços Cocada Boa, Pensar Enlouquece e Garotas que Dizem Ni, respectivamente.

Ficou para trás o tempo em que ter um blog era considerado uma febre entre os adolescentes interessados em manter um resumo virtual de suas atividades. Desde o surgimento do primeiro deles no Brasil, criado em fevereiro de 1998 pela gaúcha Viviane Vaz de Menezes, os blogs se popularizaram e viraram verdadeiras manias para quem procura diversão e informação no mundo virtual.

De olho nessa tendência, inúmeras empresas de comunicação passaram a hospedar blogs de sucesso ou ainda a incentivar seus jornalistas a escreveram os seus. Segundo o site especializado Technorati, a cada dia surgem cerca de 75 mil novos endereços. Com tantas opções, manter a popularidade não é tarefa simples. O Guia da Semana foi descobrir quem são pessoas por trás de alguns blogs que são sinônimo de popularidade na internet brasileira. Confira!

Da demissão para o sonho do blog próprio

Clarissa, Flávia e Viviana: sucesso também em livro e coluna

Foi uma demissão em trio que fez as jornalistas Clarissa Passos, Flávia Pegorin e Viviana Agostinho criarem o Garotas que dizem Ni. As três amigas trabalhavam em um site de entretenimento e foram dispensadas no mesmo dia. Após passarem por outras redações, decidiram investir em um espaço com conteúdo totalmente criado por elas.

O nome é uma referência ao filme Em Busca do Cálice Sagrado, do sexteto Monty Python. Na produção, os Cavaleiros que dizem Ni são guardiões da floresta que possuem uma arma letal para espantar visitantes: ficar repetindo a palavra Ni.

Lançado em 11 abril de 2003, o blog de crônicas é atualizado diariamente e traz uma visão bem-humorada das autoras sobre assuntos como cinema, televisão, música, cultura pop e cotidiano. Com esta temática, arrematou logo no ano seguinte ao da sua criação o Top 3 no iBest Blog, conhecida premiação do gênero.

Atualmente, o projeto tomou contornos muito maiores: deixou de ser hospedado em um domínio público, passou a figurar também no conteúdo do site IG, deu origem a uma coluna na Revista Época e ao livro É Impossível Ler Um Só - Histórias Para Devorar a Qualquer Hora, lançado em maio de 2005.

Boataria e muito bom humor

Mr. Manson com Bruna Surfistinha: cobertura irônica da SPFW

Para os leitores do site, ele é Mr. Manson. Seu nome real, porém, é Wagner Martins, ex-economista de 28 anos que em dezembro de 2000 lançou o Cocadaboa. "A idéia inicial era repassar minhas idéias para as pessoas além do meu círculo de amizades, mas, em 2001, o endereço passou a se tornar bastante conhecido pelos boatos enganando a imprensa", conta.

Um bom exemplo disso é o caso do fictício traficante Xaxim, que em "entrevista" ao site informou ser favorável à proibição da venda de armas de fogo, à época do referendo. Uma incauta assessora da imprensa da Frente pelo Não (contra a proibição) pediu o telefone do traficante para Martins, que lhe informou o número de um amigo. A conversa com o falso traficante foi gravada, e o áudio se espalhou pela internet como verdade e fez com que o boato repercutisse na imprensa.

Além de diversão, o endereço se tornou também uma fonte de renda, através de parcerias com o Google, Mercado Livre, Orolix e anunciantes diretos. "E poderia trazer mais [renda] caso eu dedicasse mais tempo para isso", conta Martins, que trabalha em uma agência de marketing de guerrilha e recentemente pilotou para o site G1 o blog São Paulo Machion Week - Inferno 2007, que satirizava a semana de moda paulista.

Com tanta polêmica, o blogueiro conta ter sido alvo de várias ameças de processo, nenhuma delas levadas adiante. Conservando a ironia de todo o resto do conteúdo, o rodapé do site traz um aviso: "Atenção: Nosso conteúdo é 100% humorístico e/ou mentiroso. Quer nos processar? Boa sorte, estamos hospedados na Eslovênia."

Longe da polêmica, perto da informação

Edney: vivendo de blogar
Longe da polêmica gerada pelo Cocadaboa, Edney Souza mantém o Interney há quase seis anos. Em julho de 1997, o blogueiro criou seu primeiro site pessoal, convertido para blog em 2001.

Profissional da área de informática desde 1990, Souza estava acostumado a ouvir perguntas dos amigos sobre assuntos referentes ao mundo virtual e resolveu publicar as respostas em um site para compartilhar com mais pessoas as informações de que dispunha.

O Interney fornece informações úteis e por vezes curiosas sobre o mundo virtual, que vão de dicas sobre como fazer seu blog ser mais visitado a como enviar scraps no Orkut pelo celular.

Segundo ele, em dezembro de 2006, o blog teve 3,5 milhões de visitantes únicos. Tantos acessos possibilitam que Souza viva exclusivamente da renda publicitária do blog.

Focado na informação, só mantém distância mesmo é de assuntos que possam gerar brigas entre os internautas. "Não faço postagens polêmicas, algumas têm muita repercussão e recebem diversos comentários, por isso não falo de futebol, política e religião, por exemplo", comenta.

Blog, portfólio e rede de contatos

Inagaki: networking no blog
Outro que acabou fazendo do blog uma boa fonte de contatos e negócios é o jornalista Alexandre Inagaki, 33 anos, responsável pelo endereço virtual Pensar Enlouquece, Pense Nisso, no ar desde agosto de 2002.

Atraído pela facilidade de publicar textos no mundo virtual proporcionada pelos blogs, Inagaki acabou transformando o seu em uma vitrine do seu trabalho. "Consegui diversos trabalhos como free-lancer graças a leitores que gostaram dos meus textos. Também participei do Salão de Livro de Belo Horizonte, da primeira oficina literária promovida pela Flip (Feira Internacional de Paraty) e do livro de contos Blog de Papel, tudo por intermédio do blog", comenta.

Além de colaborar para publicações como a revista Rolling Stone, Inagaki trabalha na agência de marketing viral Riot, coordenando a área de blogs corporativos. Como ele conseguiu o emprego? "Foi por meio do meu blog, também", admite.

Com textos mais longos do que o usual, escritos de maneira clara e recheados de informação e humor, o blogueiro, que escreve sobre música, cinema e cotidiano, caiu na graça dos internautas que buscam mais do que diversão online. Com a propaganda boca-a-boca, segundo ele, cerca de 60 mil visitas mensais.

Inagaki não pretende parar por aí. Junto com Edney Souza, do Interney, está organizando a criação de um portal de blogs. "Pretendemos criar um portal que concilie liberdade total de pautas com remuneração a todos os participantes", afirma. Mais do que diversão, ter um blog pode se transformar em um excelente negócio.

Fotos: Divulgação e Arquivo pessoal.

Atualizado em 6 Set 2011.