Guia da Semana

Foto: Divulgação


O filme O Mistério do Samba é na verdade, Memórias de Oswaldo Cruz. Munido de imagens gravadas de um modo caseiro e também imagens gravadas profissionalmente, o filme conta a história dos sambistas que formam a Velha Guarda da Portela. E o show não foi diferente. Um espetáculo que mostra, assim como no filme, que essa geração está desaparecendo por mais que outros sambistas envelheçam e acabem por ocupar esse lugar. A idéia de dar espaço e voz a essa geração foi de Paulinho da Viola em 1970, onde recupera sambas que nunca haviam sido gravados e que entram no disco Portela, Passado de Glória.

Essa missão acabou sendo levada a cabo por Marisa Monte, que grava outros sambas inéditos no disco Tudo Azul. Uma das maneiras de preservar, é gravar imagens dessa gente tão notável e assim se fez o filme. O show apresentado no SESC Pinheiros para lançar o filme foi menos "Velha Guarda" e mais compositores da Portela. Sem a presença de Monarco, que por razões de saúde não pôde estar presente e o falecimento de Jair do Cavaquinho e do Argemiro faltou graça ao show. No palco, Mauro Diniz, Diogo Nogueira, Teresa Cristina e Marisa Monte desfilaram músicas de novos e velhos compositores da escola e a Velha Guarda da Portela ficou no acompanhamento. Dos veteranos, só tiveram destaque aqueles que apareciam no filme exibidos durante o show, Jair do Cavaquinho e Argemiro. Ao ver os dois na tela e ver ao que o grupo ficou reduzido no palco, dá uma tristeza. Aquela geração que fez o samba com alma e muita boêmia está prestes a ser substituída por uma geração que não faz samba com alma, mas faz como negócio, pra ganhar dinheiro.

O destaque é para o Paulão Sete Cordas que fez os arranjos do show. É alguém que entende o que essa gente compõe. Todos no palco se esforçaram. Nem todos os sambas cantados estão no filme e nem todos os sambas que aparecem no filme foram cantados no show. Diogo Nogueira, que emplacou o samba enredo da Portela nos dois últimos anos cantou, reverenciou a velha guarda, chamou o público para cantar. Teresa Cristina, mais pastora do que sambista, muito ligada a essa geração relembrou as grandes composições. Marisa Monte, motivo de atrair aquele seleto público, encerrou a apresentação. Aí sim coube a Velha Guarda sambar no palco com passos que pouca gente naquela idade faria.

E ao estilo do Paulinho da Viola fica aqui uma reverência deste colunista aos que fizeram a Velha Guarda da Portela, uma instituição: Ventura, Aniceto, Alberto Lonato, Francisco Santana, Antônio Rufino dos Reis, Mijinha, Manacéa, Alvaiade, Alcides Dias Lopes, Armando Santos e Antônio Caetano, Jair do Cavaquinho, Guaracy, Monarco, Casquinha, Cabelinho, Argemiro, Davi do Pandeiro, Casemiro, Serginho Procópio. E as pastoras, cuja importância na historia da escola é fundamental. Quando o samba era apresentado na quadra pela primeira vez seu sucesso dependia delas, as pastoras, para que o samba fosse aceito. Se elas não gostassem, não tinha ninguém que as fizesse cantar e o samba nascia e morria ali mesmo. Áurea Maria, Surica, Doca e Eunice.

Quem é a colunista: Lázaro Oliveira, jornalista. Trabalha no Vitrine e no Entrelinhas, ambos na TV Cultura

Pecado gastronômico: Comida japonesa ou cozinhar o que tem vontade para a família e amigos

Melhor lugar do Brasil: Quando não em casa, a bela cidade de Paraty!

Como falar com ele: [email protected]


Atualizado em 6 Set 2011.