Guia da Semana

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Maquiagem carregada e apliques são uma das marcas da peça Divorciadas, Religiosas e Vegetarianas

Fera, bicho, anjo, mulher - e o que mais elas quiserem e desejarem. Da ciência ao universo corporativo, e agora também na Presidência da República, as mulheres têm ditado os rumos e acontecimentos de nossa sociedade.

Nas artes não seria diferente, e o teatro é a grande caixa de reverberação desse mundo vasto mundo. Angústias, projetos, medos e desejos são expressos em diversas peças nas principais capitais brasileiras. Basta olhar a programação do Guia da Semana para confirmar.

O motivo é ao mesmo tempo simples e complexo. "A mulher foi a grande revolução do século XX, provavelmente a questão mais discutida dos últimos anos", define a dramaturga e escritora Leilah Assumpção. Mesmo com avanços e polêmicas, a autora do marco setentista Fala Baixo Senão Eu Grito, da contemporânea Ilustríssimo Filho da Mãe e outras nove peças recentemente publicadas em coletânea, acredita que as mudanças são lentas. "A minha geração foi educada para ver o matrimônio como um fim em si mesmo. Já a atual sabe muito bem como se dão as relações e continua indo para o casamento como se colocasse uma coleira. Conquistamos o direito de escolher, e o teatro que fala à alma é transformador, ajuda a não repetir os mesmos erros antigos".

Casamento, infidelidade, criação dos filhos, consumo. Questões comuns a ambos os sexos e vividas de formas extremamente diferentes. "As mulheres encaram tudo de um jeito extremamente emocional, indo do cúmulo ao trágico. Já o homem é racional até na hora de lidar com os vícios", analisa a atriz Luisa Thomé. Ela interpreta Norma, uma das personagens criadas para dar forma às ideias da cartunista argentina Maitena, autora do sucesso Mulheres Alteradas. Em cartaz no Teatro Procópio Ferreira até 19 de dezembro junto com Mel Lisboa e Daniele Valente, Luisa se envolveu com o texto justamente pela forma entre crises e risadas como o universo feminino é tratado.

Laboratório de emoções

Mais do que debater papéis sociais ou questões íntimas, as atrizes acreditam na força do teatro como criação e geração de reconhecimento com o público. "É mais privilegiado criar e dar vazão a tudo isso, já que vivenciar as emoções é muito feminino. A plateia se enxerga no texto, incluindo os maridos, identificando traços de suas mães, filhas, esposas, namoradas", destaca Nina Ribas, a Glória de Divorciadas, Evangélicas e Vegetarianas, em cartaz no Teatro Edson D'Ávila, em Curitiba.

Três mulheres bem diferentes que estão passando por transições e mudanças em suas vidas acabam se encontrando casualmente. Desconhecidas até poucos minutos, contam suas agruras e alegrias umas às outras. Algo bem característico do universo feminino.

A Alameda Companhia Cultural levou oito meses de pesquisas juntando o texto do venezuelano Gustavo Ott, o universo do cineasta Pedro Almodóvar e a linguagem de cartum, valendo-se de maquiagem forte e adereços espalhafatosos. Tudo isso ao som dos Beatles nas versões da cantora Rita Lee. Tanto a diversão como a reflexão são garantidas.

"Se não tratarmos com nonsense temas como solidão, casamento e reencontro consigo mesma a vida e a peça ficam insustentáveis. O interessante desse trabalho é fazer piada da tristeza. E não tem riso frouxo. Queremos sim a comédia, e também levar o público a pensar e tornar a existência mais leve", frisa Nina.

E os homens?

Foto: Lenise Pinheiro

Mulheres críticas e homem perdido: realidade em boa parte da dramaturgia nacional e internacional

O universo feminino é inesgotável e, para Leilah, Luisa e Nina, continuará a alimentar muitas dramaturgias e peças. Luisa acredita que é sempre bom relembrar da necessidade de abrir os olhos e encarar os desejos sem medo. Coisa que para ela, nós, os homens, evitamos ao máximo. "O homem é vazio e muito mais vaidoso. Enquanto a mulher quer ficar bem para ela e para o parceiro, o sexo masculino precisa se mostrar para os outros, evita repensar a vida e comumente fala sem medir as conseqüências".

Para Nina, a mulher soube ocupar tão bem os espaços da sociedade que deixou a raça dos machos para trás. "Não sei se ficou desinteressante debater os temas clássicos do universo masculino, como a disputa de poder, ou se nós conseguimos colocar mais nossas questões na cena, na mídia. Fora o fato de falarmos pelos cotovelos, enquanto os homens falam para as paredes", ri a atriz.

"Minha última peça, Ilustríssimo Filho da Mãe, abordou as angústias de um homem de 40 anos em dúvida entre a carreira executiva e a de pianista. Ao final, ele escolhe a arte, e isso bastou para eu ser execrada, só faltaram me matar. Apenas me debrucei sobre o que penso ser o novo homem. Ainda não o vejo nas ruas, mas acredito que ele está a caminho. O homem não gosta de se aprofundar nas questões da psique humana. Precisará vir uns mais louquinhos para fazer isso", arremata Leilah.

Enquanto os homens andam cada vez mais perdidos frente aos novos papéis e desafios apresentados pelo mundo contemporâneo, as mulheres vão em frente. São mãe, filha, irmã, menina, dando show nos palcos e na vida.

Clique nas resenhas e veja algumas das peças nas quais as mulheres são o centro das atenções

Rio de Janeiro

A Garota do Biquíni Vermelho
Com Regiane Alves, Theresa Amayo, Karin Roepke, Tatiana Pasquale e grande elenco
Até 19 de dezembro
Teatro Ginástico
Sessões: de quarta-feira a domingo, às 19h
Ingresso: Entre R$ 20 e R$ 30

Adélia
Com Bellatrix, Fernanda Boechat e Gabriela Haviaras
Até 28 de novembro
Teatro Solar de Botafogo
Sessões: sexta-feira e sábado, às 21h; domingo, às 20h
Ingresso: R$ 30

Cócegas
Com Ingrid Guimarães e Heloísa Perissé
Até 19 de dezembro
Teatro Fashion Mall
Sessões: sexta-feira e sábado, 21h30; domingo, 20h
Ingresso: entre R$ 70 e R$ 80

Mais Respeito que Sou Tua Mãe
Com Cláudia Jimenez, Sara Freitas, Séfora Rangel e grande elenco
Até 19 de dezembro
Teatro do Leblon - Sala Marília Pêra
Sessões: de quinta-feira a sábado, às 21h; domingo, às 20h
Ingresso: entre R$ 70 e R$ 80

Maria do Caritó
Com Lilia Cabral, Silvia Poggetti e Dani Barros e elenco
Até 19 de dezembro
Teatro dos 4
Sessões: de quinta-feira a sábado, às 21h30; domingo, às 20h
Ingresso: entre R$ 60 e R$ 70

São Paulo

Mulheres Alteradas
Com Daniele Valente, Luisa Thomé e Mel Lisboa
Até 19 de dezembro
Teatro Procópio Ferreira
Sessões sexta-feira e sábado, 21h30; domingo, 19h
Ingresso: entre R$ 50 e R$ 60

Foto: Divulgação

A bailarina e atriz Juliana Ayres, em Santa.. Eu?

Santa... Eu?
Com Juliana Ayres
Até 25 de novembro
Teatro Silvio Romero
Sessões: quinta-feira, às 21h
Ingresso: R$ 30

Hell
Com Bárbara Paz
Até 19 de dezembro
Teatro do Sesi
Sessões: de quinta-feira a domingo, 20h
Ingresso: grátis às quinta e sexta-feira, sábado e domingo R$ 10

Brasília
Festival Internacional de Teatro Feito para Mulheres
Companhias brasileiras e estrangeiras com várias peças e esquetes em cartaz
Até 21 de novembro
Teatro Eva Herz - Livraria Cultura
Sessões: De quarta-feira a domingo, às 19h30 e 21h


Curitiba

Divorciadas, religiosas e vegetarianas
Com Liz Santos, Cássia Damasceno e Nina Ribas
Até 14 de novembro
Teatro Edson D'Avilla
Sessões: de terça-feira a domingo, às 20h
Ingresso: Grátis

Porto Alegre

As Centenárias
Com Andrea Beltrão e Marieta Severo
De 12 a 14 de novembro
Teatro Bourbon Country
Sessões: sexta-feira e sábado, 21h30; domingo, 18h
Ingresso: R$ 40

Florianópolis

As Centenárias
Com Andrea Beltrão e Marieta Severo
De 19 a 21 de novembro
Teatro Governador Pedro Ivo
Sessões: sexta-feira e sábado, 21h domingo, 17h30
Ingresso: entre R$ 70 e R$ 80

Salvador

As Velhas
Com Claudia Moura e Andréa Elia
De 18 de novembro a 04 de dezembro (exceto 25 de novembro)
Teatro SESC/SENAC Pelourinho
Sessões: de quinta-feira a sábado, 20h
Ingresso: R$ 14

Atualizado em 1 Dez 2011.