Guia da Semana

O escritor Caio Fernando de Abreu está na boca - ou melhor, nas mídias sociais - do povo. Entre as principais referências estão as incontáveis frases que inspiram pela maneira doce e simplória, e ao mesmo tempo intensa, profunda e sofrida com que foram escritas.

Muitas dessas frases são pequenos fragmentos de livros fantásticos e de pensamentos fascinantes que saíram do mais profundo âmago do escritor. Entretanto, infelizmente, a maioria das pessoas limita-se a seus pequenos pedaços ao invés de buscar conhecer mais sobre ele, que foi um dos escritores que mais transcenderam a literatura.

Por isso, o Guia da Semana listou algumas curiosidades que você precisa saber sobre Caio Fernando de Abreu, indicando cinco de suas obras. Confira:


ESCRITOR

A obra de Caio F. - como passou a assinar como escritor - é aquela que cabe, engole e abraça tudo, menos a monotonia. Com um estilo bem pessoal, Caio falava de sexo, medo, morte, amor, angústia e, principalmente, de solidão. Escancarado em cada linha, não tinha medo de despir-se em palavras e mostrar todos os seus eus. Contista, cronista e novelista, transitava entre todos os gêneros – mas não se prendia a nenhum –, e exercia com maestria e excelência todos os seus escritos. A literatura, para ele, era matéria viva em direção ao conhecimento.


JORNALISTA

O garoto alto, magro, de cabelos compridos, e que usava basicamente roupas pretas, era extremamente inteligente, qualidade essa que se unia ao fato de ele ser atrevido. Amante de teatro e exposições, Caio surpreendeu ao participar – e ganhar – um concurso para trabalhar na revista Veja, pois sempre defendeu o fato de ser escritor. E foi assim, de repente, que ele se tornou jornalista. Entretanto, Caio nunca se apaixonou pela profissão, mas costumava dizer que a prática fez com que ele aprendesse a enxugar seus textos, sempre excessivos.


DITADURA E DIVERSAS MORADIAS

O escritor fazia parte do grupo de pensadores e intelectuais que combatia à ditadura e fazia atos de oposição. Isso fez com que ele ficasse marcado e fosse fichado. Assim, saiu da revista e refugiou-se na casa da amiga e escritora Hilda Hilst. Depois disso, rodou o Brasil e o mundo atrás de suas histórias: ele nasceu em Porto Alegre, mas viveu em São Paulo, Campinas, Rio de Janeiro, Estocolmo, Londres e Paris.

Caio costumava definir-se como um autor que procura suas personagens on the road, como Jack Kerouac. Assim, trabalhou fazendo faxina, lavando pratos, como operário e também modelo em alguns cursos de artes plásticas. Além disso, ele dizia que fazia biscate, o que significava que trabalhava em jornais e revistas para se sustentar.


SÃO PAULO

Há quem diga que sua vida era cinematográfica devido a alguns acontecimentos e situações bizarras. Quando viveu em São Paulo, por exemplo, Caio morava no centro, em um apartamento com paredes cor-de-rosa que dividia com algumas pessoas. Porém, dentre os inquilinos estava um garoto que dormia no banheiro com uma cobra.


ESCRITOR X JORNALISTA

Seu sonho sempre foi viver apenas dedicado aos seus livros, fazendo carreira como escritor. Dizia que trabalhar na imprensa era “costurar para fora” e também um emprego banal, que servia apenas para pagar o aluguel. Era cético em relação ao jornalismo e apenas quatro anos antes de sua morte realizou o sonho de ser apenas escritor – nesta época começou a ser traduzido para diversos idiomas e participava de lançamentos no mundo todo.


DIÁRIO E CARTAS

Para quem não sabe, muitos de seus livros saíram de anotações de seus diários (prática que manteve durante toda vida) e também de correspondências que costumava trocar intensamente com amigos e pessoas queridas, de grande importância em sua vida.


HIV E ÚLTIMOS ANOS

O escritor foi diagnosticado como portador do vírus da Aids no ano de 1994. Assim que recebeu a notícia, Caio voltou para Porto Alegre para viver com a família. Lá, cultivou um jardim com o pai e passou a dedicar-se à releitura de suas obras, reedições e novas publicações. Além disso, continuou atuando como jornalista, enviando crônicas tocantes e extremamente profundas. Em sua última entrevista, perguntaram a ele o que ele teria feito da vida se não fosse escritor. De prontidão, respondeu: “jardineiro”.

DICA DE LIVROS

MORANGOS MOFADOS

Na obra 'Morangos Mofados', Caio Fernando Abreu mostra o que há de mais profundo no ser humano. A busca, a dor, o fracasso, o encontro, o amor e a esperança estão presentes na série de contos que se entrelaçam como se fossem um romance.


FRAGMENTOS: HISTÓRIAS E CONTOS

Os contos de Caio Fernando Abreu apresentam ao leitor um retrato do Brasil contemporâneo, com imagens sensoriais, descritas com uma linguagem lírica.


PEQUENAS EPIFANIAS

Epifania é a expressão religiosa empregada para designar uma manifestação divina. Por extensão é o perceber súbito e imediato de uma realidade essencial, uma espécie de iluminação. As crônicas escritas por Caio Fernando Abreu retêm essa qualidade e levam o leitor a enxergar, como num clarão, verdades bem escondidas.


OS DRAGÕES NÃO CONHECEM O PARAÍSO

Numa espécie de boas-vindas à obra 'Os Dragões Não Conhecem O Paraíso', Caio Fernando Abreu nos fornece um leque de possibilidades de leitura para o livro, que foi vencedor do prêmio Jabuti em 1988 – se o leitor quiser, este pode ser um livro de contos. 'Os Dragões Não Conhecem O Paraíso' é um livro com 13 histórias independentes, girando sempre em torno de um mesmo tema: amor – amor e sexo, amor e morte, amor e abandono, amor e alegria, amor e memória, amor e medo, amor e loucura. Mas se o leitor também quiser, o livro pode ser uma espécie de romance-móbile. Um romance desmontável, onde essas 13 peças talvez possam completar-se, esclarecer-se, ampliar-se ou remeter-se de muitas maneiras umas às outras para formarem uma espécie de todo – aparentemente fragmentado, mas de algum modo suponho completo.

TRIÂNGULO DAS ÁGUAS

'Triângulo Das Águas', publicado originalmente em 1983 e há anos fora de catálogo, é um dos melhores livros de Caio Fernando Abreu (1948-1996). Reconhecido com o Prêmio Jabuti, o livro também um título exemplar do ponto de vista do estilo do autor: nas linhas das novelas que o compõem encontram-se cristalizadas algumas constantes na obra de Caio. Foi escrito não em São Paulo, onde o escritor gaúcho passou muitos anos da sua maturidade, mas no Rio de Janeiro, em isolamento no bairro de Santa Teresa, depois do sucesso de 'Morangos Mofados', de 1982. Ao leitor destas novelas (ou noturnos, como o autor as chamou), não restará dúvidas quanto às razões porque Caio Fernando Abreu é considerado um dos escritores mais criativos e inovadores surgidos no Brasil nas últimas três décadas do século 20.


Por Nathália Tourais

Atualizado em 23 Jun 2015.