Guia da Semana

Foto: Os alunos em aula prática


Eles descobriram na fotografia um meio de sobreviver. Mas, o objetivo maior é mostrar ao mundo através de imagens tiradas nas favelas cariocas que o dia-a-dia e a realidade destes lugares não são sempre como retratados na mídia. Nos últimos anos o cinema brasileiro explorou sim e muito as favelas do país; filmes como Cidade de Deus, Tropa de Elite, Cidade Baixa, Ó Pai Ó, entre outros, buscaram contar algumas das histórias que acontecem nessas comunidades. Mas, talvez, não da maneira como esses próprios moradores vêem o lugar aonde vivem.

Paralelamente à essa indústria cinematográfica que foca a violência e a miséria, esses novos profissionais da imagem tentam ultrapassar a divulgação banal de suas vidas e eternizar momentos de um povo para poder contar suas próprias histórias, mostrando também situações "normais" e mais humanas dentro das favelas. E para isso, conseguiram se tornar fotógrafos graças à Escola de Fotógrafos Populares, criada no Complexo da Maré pelo Observatório de favelas em 2004, no Rio de Janeiro.

A idéia faz parte do tripé do Projeto Imagens do Povo. O programa se fundamenta em três etapas: A Escola de Fotógrafos Populares, a Agência de Fotografias e o Banco de Imagens. Isso porque além de profissionalizar pessoas dedicadas das comunidades carentes, a entidade ainda ajuda esses homens e mulheres a ingressarem no mercado de trabalho com uma própria empresa capaz de comercializar as imagens.

O fotógrafo, idealizador e coordenador do projeto João Roberto Ripper conta que a idéia surgiu quando foi chamado para um trabalho cujo foco era documentar uma favela vista de um outro ângulo. "Comecei a andar e descobri que as pessoas que faziam parte das comunidades se interessavam muito pela fotografia. Então, eu decidi tentar dar a oportunidade para que alguns deles pudessem abraçá-la."

Foto: Imagens do Povo


Mas, as coisas não foram tão simples como parecem. Foi praticamente impossível montar um curso de fotografia sem recursos financeiros e tecnológicos. Em 2004, o curso localizado na Sede da Casa de Cultura da Maré ofereceu durante quatro meses aulas para alunos de idade entre 18 e 40 anos. A falta de patrocínio, porém, foi suficiente para acabar com a escola. Apenas em 2006, o Unicef- O Fundo das Nações Unidas para a Infância- comprou a causa e possibilitou a primeira classe oficial do projeto.

Foram providenciados então câmeras digitais, filmes, computadores e programas de tratamento de imagens e durante oito meses, por quatro horas diárias de aulas, entre elas práticas e teóricas foi formada a primeira turma profissional. Os 28 estudantes foram reconhecidos gradualmente graças ao Professor da UFF Dante Gastaldoni que possibilitou a entrega do diploma - de fotografia básica, informática aplicada à fotografia e fotografia documental - aos participantes. Ripper conta que o professor foi uma figura extremamente importante na história do projeto e se sente profundamente agradecido por esse reconhecimento.

Foto: Imagens do Povo


Hoje em dia não é mais o Unicef que sustenta o projeto. Agora quem assumiu a responsabilidade foi a Unesco- Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. Ripper explica que a cada ano eles devem mandar o projeto para uma dessas organizações para tentar um patrocínio. O sucesso tem sido companheiro dos membros do Imagens do Povo nos últimos dois anos. Em março de 2008 haverá seleção para a próxima turma. Eles pretendem formar 30 alunos nesta próxima sala de aula.

E daqui para frente Ripper afirma manter a essência de sua idéia: "O objetivo que orienta este programa vai além de iniciar jovens no ofício da fotografia e articular seu ingresso no mercado de trabalho. O ponto crítico consiste em formar documentaristas fotográficos capazes de desenvolver um trabalho de registro dos espaços populares, resgatando a história de suas comunidades e estimulando a afirmação de uma identidade "positiva" deles mesmos e de seus moradores."

Foto: Imagens do Povo


Atualizado em 6 Set 2011.