Guia da Semana

Foto: Divulgação

Os palhaços não tiveram muito espaço na minha infância. A verdade é que, nas poucas vezes em que fui ao circo, as performances mais visuais como as de equilibristas e acrobatas, prendiam muito mais a minha atenção. Eis que depois de vários anos, eu decidi conferir um espetáculo quase circense, onde não havia ninguém saltando pelos ares. Já adulta, eu me vi criança novamente e encantada com as brincadeiras inocentes de palhaços - talvez pelo atraso, até mais do que as outras crianças presentes no dia.

Da estreia do Slava's Snowshow, o que eu esperava com mais ansiedade eram os efeitos visuais sugeridos em fotografias de divulgação ou contados por pessoas que assistiram à última temporada realizada no Brasil. Qual não foi a minha surpresa ao me deparar com um cenário simples, em montagem que parecia elaborada por crianças. As luzes se apagaram e um palhaço vestido de amarelo com sapatos vermelhos entrou em cena, dando início a uma história mais adequada para adultos com o coração aberto, como eu, do que para os pequenos. A temática de morte e perda está presente todo o tempo, vez ou outra amenizada pelo humor da trupe russa de palhaços em roupas verdes, comandada por Slava Polunin - hoje, aos 60 anos, premiadíssimo e considerado o mais importante palhaço do mundo.

Os efeitos que eu aguardava também estavam lá, junto à maquiagem triste no rosto dos personagens, e uma presença tão forte deles no palco mais tarde me fez entender a neutralidade do cenário. O mérito existe para os dois extremos do espetáculo: se há momentos em que é difícil conter uma gargalhada e se deslumbrar com o show, não é mais fácil sair imune de cenas comoventes, como uma em que o palhaço carismático simula uma despedida afável, para depois sofrer pela ausência de alguém querido. Nesse contexto melancólico, uma tempestade de neve é levada para o público em pedacinhos de papel. Deslumbrante e única, esta é apenas uma das passagens inesquecíveis que fazem valer a apresentação.

Ao longo de todo o show, o espectador interage com a trupe, desde as brincadeiras promovidas pelos personagens de cima do palco até a farra no intervalo e no encerramento, quando são jogadas imensas bolas para adultos brincarem em meio aos palhaços. Os 20 minutos de pausa servem, na verdade, para levar o espetáculo alguns degraus abaixo e agregar novos participantes. Não que o sorriso no rosto das crianças tenha passado despercebido por mim, mas o que mais me surpreendeu foi a participação efetiva de um público que, a princípio, estava lá somente por curiosidade ou para acompanhar filhos, sobrinhos e afins.

Outro destaque inesperado foi a trilha sonora que embalou o enredo onírico e deu ritmo às performances, arrancando risos da plateia. Sobrou espaço até para uma interpretação livre do palhaço que estava vestido de amarelo para a música Mas que Nada, de Sérgio Mendes. A simples composição de músicas intrigantes, neve, iluminação sombria, teia de aranha feita de algodão, gelo seco, bolhas e bolas gigantes - tudo à disposição de um grupo de palhaços -, não pode ser menos que inebriante se você estiver disposto a reviver um momento mágico da sua infância.

Abaixo está o trailer do espetáculo:




Serviço

Endereço: Citibank Hall - Avenida Jamaris, 213.

Data: Até 29 de julho.

Horário: Terça, quarta e quinta-feira, às 21h30; Sexta-feira às 22h; Sábado às 17h e 22h; Domingo às 16h e 20h.

Preço: De R$ 90,00 a R$ 170,00.

Quem é a colunista: Ana Caselatto.

O que faz: jornalista,fotógrafa e aspirante a turista profissional.

Pecado gastronômico: sorvete.

Melhor lugar do mundo: o da próxima viagem.

O que está ouvindo no iPod, mp3, radio: neste momento, os últimos álbuns do Editors e The National.

Fale com ela: [email protected] ou no twitter (@anacaselatto).

Atualizado em 6 Set 2011.