Guia da Semana

Fotos: Gabriel Oliveira
Maurício de Sousa
Com mais de 45 anos, Mônica e sua turma já fizeram parte da infância de muitas gerações. Com historinhas leves, bem humoradas e uma pitada de lição de moral, o gibi já foi traduzido para mais de 30 idiomas e roda em cerca de 50 países. Porém, mesmo depois de anos Maurício de Sousa, criador da obra, achou que era hora de seus "filhos" crescerem.

As novas histórias serão em estilo mangá, com os desenhos em preto e branco e temas mais sérios, que fazem parte do universo adolescente. A idéia é lançar essa nova publicação uma vez por mês. Mas, quem ainda é fã dos pequenos, as HQ´s com as histórias originais continuam normalmente. Maurício de Sousa conta ao Guia da Semana as novidades que vem por aí em primeira mão.

Guia da Semana: Por que você decidiu agora, depois de quase 50 anos, fazer a turma da Mônica Jovem?
Maurício de Sousa: Cansei de chamar a Mônica de baixinha, gordinha e dentuça! (risos). Na verdade, foi uma curiosidade minha e de todos os leitores de ver como ela seria. Já estou desenhando os novos personagens há quatro anos, mas fomos atropelados pela criação do Ronaldinho Gaúcho (inspirado no jogador de futebol), depois pelo centenário da imigração japonesa, quando produzi a Tikara e a Keika. Só agora conseguimos lançar.

GDS: Você acha que as gerações passadas também vão se interessar pelas histórias?
MS: Com certeza. Os adultos que leram as historinhas quando crianças vão ficar curiosos para saber o que aconteceu com os personagens.

GDS: E como foi o processo de criação?
MS: Os gibis estão inspirados em mangas (palavra usada para designar as histórias em quadrinhos feitas no estilo japonês), mas sem perder o toque nacional. Eu comecei a fazer traços limpos e depois o estúdio foi invadido por nisseis, aos poucos foram transformando os desenhos.

GDS: Por que os mangás?
MS: Eu queria atingir um publico, mais ou menos, na faixa etária dos 10 a 12 anos. Aquelas crianças que liam a Turma da Mônica, mas que chegavam a certa idade e começavam a achar muito infantil. Pensei em fazer nos estilos dos HQ´s americanos, mas me identifiquei mais com esse tipo de trabalho e parece que as crianças também.

GDS: E o resultado está dando certo?
MS: Eu estou surpreso com o sucesso que está fazendo. Já estamos na 3ª edição do número 1. A Panini disse que a segunda história vai sair com uma tiragem de 230 mil exemplares.

GDS: Qual vai ser a abordagem dessa nova publicação?
MS: Vai ter muita aventura, mas estou tendo cuidado com os temas. Quero abordar assuntos do universo jovem, quero falar com eles como os pais falam com os filhos em casa.

GDS: Todos os personagens da Turma da Mônica vão aparecer nas histórias?
MS: Risos... Olha, o projeto é que todos os personagens apareçam, mas alguns eu estou tendo um pouco mais de trabalho, como é o caso do Chico Bento. Ele é super querido, mas andei pensando em o que ele vai ser quando crescer: Cantor sertanejo? Não. Agrônomo? Talvez. O fato é que ele vai aparecer, mas ainda estou estudando como.

GDS: Conte um pouco do seu trabalho internacional
MS: Acho que eu não podia contar isso ainda, mas não estou agüentando (risos). Acabei de fechar um contrato onde vamos transformar as histórias da Turma da Mônica Jovem em desenho animado com exibição mundial, vai sair antes do que da turma criança. Os desenhos serão produzidos na China, que tem mão de obra especializada e velocidade necessária pra isso.

GDS: Por falar em China, você acabou de lançar uma historinha da Turma da Mônica contando um pouco da história do Brasil. Como foi a recepção?
MS: Posso dizer que talvez tenha sido mais entusiasmada que dos próprios brasileiros. A China passou por diversos problemas políticos e agora está tendo uma abertura tanto no sentido comercial como cultural. Eles estão respeitando muito o nosso trabalho e a nossa criação. Adorei o contato com as crianças. Gostei tanto que estou com projeto educacional para 180 milhões de crianças. Vai ser tudo via web para preservar o ambiente.

GDS: A China tem uma cultura muito diferente do Brasil, quais os cuidados que vocês tomam para não ir de encontro às tradições chinesas ou mesmo de outros países?
MS: Temos um escritório em Nova Iorque responsável por estudar o que se pode ou não ter nos quadrinhos. Na Grécia, por exemplo, não se pode assobiar para uma mulher que é considerado ofensa, então, temos que adaptar as histórias. Mas no geral a gente manda os gibis em português e pede para quem for traduzir seja fluente no português e na língua local, assim não corremos o risco de dar nada errado. Até hoje não tivemos problemas com isso, muito pelo contrário. Não é a toa que já passamos de um bilhão de histórias vendidas.

Atualizado em 6 Set 2011.