Guia da Semana

Fotos: Gabriel Oliveira
Fachada do Teatro Cultura Artística quase intacta após incêndio

A estrela da noite do domingo de 17 de agosto de 2008 foi um incêndio que, em poucos minutos, tomou conta de uma das mais tradicionais casas de cultura no centro da capital paulista, o Teatro Cultura Artística.

Por volta das 5h da manhã houve uma explosão na Rua Nestor Pestana, em um dos prédios vizinhos ao teatro. Depois disso, o fogo se espalhou com muita rapidez. Já passava das seis da manhã quando o Corpo de Bombeiros conseguiu controlar o incêndio, mas o estrago estava feito. "Foi tudo muito rápido. Depois que o fogo começou, as chamas tomaram dimensões gigantescas, elas passavam de 20 metros de altura. Depois o teto desabou. Foi terrível.", lamenta Flávia Pontes, vizinha do Cultura Artística há 15 anos.

Fogo apagado, hora de catalogar o prejuízo. Além da sala principal, a Esther Mesquita, com capacidade para 1.156 lugares, a aparelhagem técnica, de iluminação, palcos, platéia, todos os camarins e cenários das duas peças em cartaz ( O Bem Amado e Toc Toc) foram destruídos. Outra grande perda foram os dois pianos Steinway & Sons, de Hamburgo, um deles doado pela família Baumgart (estimado em US$ 130 mil), e o outro comprado pela Secretaria de Estado da Cultura com o auxílio da Cesp (Companhia Energética de São Paulo). Por sorte, o painel do artista Di Cavalcanti (de 48 metros de largura por 8 metros de altura), que cobre a fachada do teatro sofreu poucas conseqüências.

Solidariedade

Sensibilizados com a tragédia no teatro que tem mais de meio século de vida, o TUCA (Teatro da Universidade Católica de São Paulo), por exemplo, é um dos mais engajados no apoio ao Cultura. Tal sensibilidade não é em vão, no ano de 1984 o TUCA passou pelo mesmo drama. "A gente sofreu dois incêndios, um setembro e outro em dezembro. A única coisa que restou foram as paredes e as laterais do prédio", relembra Ana Salles, superintendente do local. Até hoje as causas do incêndio não foram identificadas, mas suspeita-se que tenha sido criminoso, já que em tempos de Ditadura Militar o teatro era tido como transgressor. "A perícia nunca deu um parecer oficial sobre o caso", completa Ana.

Arquivo/ TUCA
O que sobrou do teatro TUCA depois do incêndio em 1984

Depois do acidente, o TUCA voltou a funcionar em 89, cinco anos depois do ocorrido, mas em condições precárias. "No lugar das poltronas usávamos cadeiras de plásticos doadas por outros teatros. Não tínhamos luz cênica e acústica de som. Tínhamos que improvisar tudo", relembra a superintendente e ainda afirma: "Mesmo com os contratempos, a vida cultural era intensa". Só em 2003, quase 20 anos depois, beneficiado pela lei Rouanet e por patrocínio da iniciativa privada, o teatro foi devidamente reformado e voltou a funcionar com força total.

"Como a gente já passou por tudo isso que está acontecendo com o Cultura Artística, fazemos questão de ajudar. Junto com o Ivaldo Bertazzo (que está em cartaz com Noé, Noé - Deu a Louca no Convéz) vamos doar a bilheteria para ajudar na reconstrução", esclarece. A intenção da diretoria do TUCA é que outros teatros da Grande São Paulo e até do Brasil se unam na campanha.

Porém, mesmo com toda a ajuda que vem recebendo de várias pessoas e instituições, o futuro do teatro inaugurado em março de 1950 com a apresentação do maestro Heitor Villa-Lobos, ainda é incerto. Enquanto o Cultura Artística espera o laudo da perícia (que deve demorar um mês para ficar pronto), rumores sobre a sua reconstrução começam a pipocar, entre eles é que o teatro pode mudar de endereço. "Ainda é muito cedo para afirmar qualquer coisa. Temos que esperar o laudo da perícia, mas o que eu posso antecipar é que a vontade dos dirigentes é manter o teatro no mesmo lugar. Mas isso vai depender se as estruturas não foram abaladas", explica Bruno Castanho, assessor de imprensa do teatro.

Outro rumor gira em torno do valor do seguro. "São R$4 milhões, mas esse valor é avaliado na venda do teatro, essa cifra poder mudar na hora de receber para reconstrução. Por isso o teatro está esperando o apoio do Governo Federal e Estadual", finaliza Catanho. Agora é torcer para não levar 20 anos, assim como no TUCA, para o Cultura Artística reabrir com força total.

Colaborou:
Ana Salles
Bruno Castanho
ACM/YMCA São Paulo

Atualizado em 12 Mar 2012.