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Em tempos de narrativas a serviço do realismo barato, nas quais predominam os temas da violência, morte e tráfico de drogas, é pertinente celebrar o centenário do mais inventivo autor da prosa brasileira: Guimarães Rosa. Com seu exímio talento e erudição, o mineiro de Cordisburgo fez do sertão o mundo e das palavras, encantamento.
A ficção de Guimarães Rosa tem como cenário o sertão mineiro. Entre buritis, pássaros e bois, os sertanejos vivem dilemas existenciais e experiências poéticas comuns a todo ser humano. Essa perspectiva faz transcender o mero regionalismo e torna-o universal, o que os críticos intitularam de regionalismo universalizante. "A cenerização é tipicamente brasileira, mas tem as grandes questões que acometem o homem desde sempre, sobretudo o mistério do amor e da morte", comenta Welington Andrade, doutor e professor universitário.
Médico de formação, escritor por vocação, Guimarães era um profundo estudioso de línguas. Falava fluentemente oito idiomas e conhecia a gramática de dezenas de outros. Toda essa erudição aliada à inventividade resultou em novas palavras, os neologismos. "Foi o escritor brasileiro que mais cunhou palavras novas para o português na sua literatura", afirma Welington.
Penetrar no universo da Guimarães Rosa não é uma tarefa das mais simples. O próprio autor chamava sua prosa de "pedregosa". Além dos neologismos, há a predominância de consoantes, o que afasta sua obra do padrão convencional do português, marcado por vogais. Trata-se de uma alfabetização em sua literatura. O leitor habitua-se àquela escrita particular e desvenda os sentidos ocultos em cada sentença.
Gabriel Oliveira |
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Welington Andrade: "Mais do que qualquer outro autor brasileiro, ele dialoga de igual para igual com os grandes autores da humanidade." |
No Vestibular
Obras do escritor estão presentes nas listas obrigatórias de alguns dos grandes vestibulares do Brasil. É o caso de Sagarana, primeiro livro do autor, exigido nos vestibulares da Fuvest e Unicamp. Há vestibulandos que sentem certa estranheza inicial ao texto do autor, característica que pode ceder lugar à repulsão ou à veneração.
A vestibulanda Paula Ramirez é admiradora do estilo de Guimarães : "Eu gostei da linguagem dele, do jeito que ele trabalha, do jogo de palavras. Eu acho legal as coisas que ele escreve por causa disso, por causa dessa criatividade. A preocupação estética da linguagem".
Para aqueles que desejam aventurar-se pela primeira vez na literatura de Guimarães Rosa, o professor Welington recomenda inciar por Sagarana. "É o mais fácil, o mais compreensível". Porém, adverte para o fato de que nem tudo que está no texto é passível de entendimento imediato. "A armadilha do Guimarães é acreditar que tudo ali é compreensível, tudo ali está dicionarizado, não está. Grande parte das palavras também é inventada e aí é um jogo mais interessante ainda."
"Gostaria de ser um crocodilo vivendo no rio São Francisco. Gostaria de ser um crocodilo porque amo os grandes rios, pois são profundos como a alma de um homem. Na superfície são muito vivazes e claros, mas nas profundezas são tranqüilos e escuros como o sofrimento dos homens."

Obras do autor Sagarana (1946), contos e novelas. Com o vaqueiro Mariano (1947) Corpo de Baile (1956), novelas. Grande Sertão: Veredas (1956), romance. Primeiras estórias (1962), contos. Tutaméia:Terceiras estórias (1967), contos. Estas estórias (1969), contos. Obra póstuma. Ave, palavra (1970) diversos. Obra póstuma. |
Atualizado em 6 Set 2011.