Guia da Semana

Foto: Gabriel Oliveira


Questionar essa dimensão, a cidade, o espaço, o caos urbano e humano são reflexões que instigam os artistas do Teatro da Vertigem a iniciar mais uma jornada. Longe do convencional, como já de praxe destas insaciáveis pessoas, a nova proposta do grupo é habitar uma passagem subterrânea entre o Viaduto do Chá e a Praça Ramos de Azevedo, um dos lugares mais obscuros da metrópole paulistana.

O desenhista de luz da companhia Guilherme Bonfanti explica que a intervenção cênica A Úlima Palavra É A Penúltima não é um espetáculo e tem caráter performático. A idéia surgiu quando o grupo sentiu necessidade de vivenciar uma nova linguagem artística. "O final de BR-3 foi um pouco traumático e então resolvemos nos fechar e tentar novas experiências. Dentre elas, estudar e promover intercâmbios, trocar com outras companhias artísticas. Já tínhamos ido a Lima trabalhar com o Lot e também já conhecíamos o trabalho de Zikzira, convidamos e eles aceitaram."

O grupo Lot tem como finalidade apoiar e promover a investigação teatral incluindo aí a recuperação da memória social através de experiências performáticas, capazes de criar metáforas que refletem aspectos da contemporaneidade. E o Zikzira tem um trabalho voltado para o teatro físico, que mistura a linguagem de dança com elementos de cinema. "A idéia era juntar essas outras possibilidades de fazer teatro e ver como se daria esse atrito e esse confronto entre linguagens tão diferentes entre si, que têm alguns pontos de conexão, porém, têm muitos pontos diferentes".

A intervenção é formada por 12 atores e dirigida por quatro diretores ao mesmo tempo: André Semenza e Fernanda Lippi do Zikzira, Carlos Cueva do Lot e Eliana Monteiro do Vertigem. Carlos Cueva conta sobre o que eles querem provocar durante o momento em que o público de 50 pessoas está presente nos banquinhos do corredor, "O objetivo é não mudar o espaço, não mexer, não transformá-lo em palco. Nós, também como sociedade e como dimensão filosófica, estamos esgotados, esgotados de fazer o mesmo, de repetir as mesmas histórias, de dar sentido ao que não tem sentido. É necessário pensar no nosso tempo e enfrentar essa reflexão sobre a contemporaneidade; da cidade, do espaço, do ser humano."

Foto: Gabriel Oliveira


Na busca por um impacto e por gerar sensações, o grupo de atores se prepara diariamente no túnel como se todo dia fosse o dia da apresentação. A diretora Fernanda Lippi explica que os ensaios acontecem com a vivência no espaço; "A gente mora aqui, fica aqui o máximo de tempo possível e tenta respirar esse lugar, dialogar com esse lugar, coabitar." Dessa maneira eles realizam o exercício performático e se expressam com estilo inovador dentro do cenário teatral paulistano através de uma investigação que não traz uma resposta sobre as coisas, pelo contrário, levanta mais e mais questões filosóficas tal como deve ser um dos papéis do artista.

Patrocinado pela Petrobrás e com apoio da Prefeitura de São Paulo, o trabalho entra em cartaz no dia 12 de abril, faz apresentações às 19h e às 21h diariamente, até o dia 16 e integra a programação da Virada Cultural em 26/04, com apresentações nos mesmos horários.

Breve histórico
O grupo é dirigido pelo encenador Antônio Araújo e pode ser considerado o mais representativo conjunto paulista da década de 1990, responsável pela pesquisa e criação de espetáculos em espaços não convencionais.

A primeira montagem do grupo foi Paraíso Perdido, que estreou na Igreja de Santa Ifigênia, no centro de São Paulo. A peça seguinte deslocou o grupo para um outro ambiente: o Hospital Humberto Primo. Com dramaturgia de Luís Alberto de Abreu, o episódio bíblico d´O Livro de Jô se converte num pretexto para a exploração das mazelas enfrentadas pela humanidade naquele final de século.

Depois de algum tempo, o Teatro da Vertigem pesquisou a respeito da identidade brasileira em que a companhia percorreu o país de São Paulo até o Acre, realizou o espetáculo BR-3, sua primeira intervenção em um espaço público aberto: o Rio Tietê.

Atualizado em 6 Set 2011.