Guia da Semana

Foto: Sxc.hu


Recorrendo à literatura para relacionar algo com um dos pecados capitais que faltam para discorrer, acabei por escolher um dos personagens mais clássicos da Commedia dell"arte para servir como fio condutor deste texto: Pantaleão. O arquétipo do velho pão-duro, que não se preocupava com mais nada além de dinheiro, é uma ótima referência para falar da avareza.

Segundo meu dicionário favorito, a Wikipedia, a avareza é o medo de perder algo que se possui; a pessoa prefere abrir mão do que tem menos valor e preservar o que é mais valioso. Acha que perder algo pode ser um desastre.Também é possível associar a avareza ao egoísmo ou à ganância. Aí sim, já considero esta realmente um pecado capital. Segundo o conceito anterior, acho muito raso para tanto alarde.

Engraçado que minha maior referência de personagem pão-duro ainda é o Seu Nonô Corrêa, da novela Amor com Amor se Paga. Eita, tem tempo isso, mas tudo bem. Nos longínquos anos 80, o grande Ary Fontoura colocava cadeado na geladeira, contava os palitos de fósforos, além de outros fatos hilários, enquanto guardava numa passagem secreta um tesouro imenso.

O grande Paulo Autran encerrou sua passagem por aqui com o clássico de Moliére, Harpagão, que era o legítimo avarento que assumia seu amor incondicional pelo dinheiro.

Encontrar na história do teatro ou mesmo buscar esses personagens na televisão para falar de gente sovina é bem legal. Agora, não precisa ir tão distante pra achar pessoas assim. Vamos combinar que o que não falta é cara "que atravessa o rio com sonrisal na mão e chega intacto ao outro lado".

Queria colocar de vez em quando umas risadas aqui, tipo aquelas que você coloca quando conversa no MSN (kkkk, rsrsrs, hahaha, hehehe ou algum emotion do tipo), ou que o José Simão usa nas colunas dele. Um pouco de pretensão não faz tão mal assim...

Falei da risada porque lembrei que convivo com muitos atores assim como eu. É justamente o contrário disso tudo: ator não tem como ser avarento porque simplesmente não tem como. O assunto mais comum entre a gente é a falta de dinheiro. Todo mundo só fala disso, o que é um inferno. Afinal, é só você entrar em cartaz e chamar os amigos pra assistirem, que eles vem com um: Pô, descola aí um ingresso pra mim que tô sem grana? Quer dizer, tem como deixar um par?

Descobri porque ator não tem dinheiro: dá todos os ingressos para os amigos assistirem seus trabalhos.

O apelido é talvez a expressão maior de nossa tendência ao informalismo e à máxima aproximação com o outro. E o avarento tem milhões deles: sovina, mão de vaca, pão-duro, miserável e por aí vai. Os judeus carregam essa fama, mas nem vou entrar no mérito de discutir, porque além de tudo, ainda moro num bairro cheio deles e não quero problema.

Mas preciso falar que recentemente fui pedir apoio para o meu próximo espetáculo e vou te contar viu? Quanto mais se tem... Ops! Falei que não ia entrar no mérito. Foi só um desabafo. Ou, pelo menos, um quase desabafo. Podia ainda ser nos tempos de Moliérie em que os reis exerciam o papel de mecenas e apoiavam os artistas....

Ô saudade do tempo que não vivi... (rsrsrs, hehehe, hahaha, kkkk, cadê o emotion no meu teclado?).

Leia as colunas anteriores de Guilherme Gonzelez:

Pecado é não pecar!

"O preguiçoso é um relógio sem corda"

"Eu me esforço para ser invejado, não para invejar"

Quem é o colunista: Guilherme Gonzalez.

O que faz: Paraense, radicado em São Paulo, Guilherme Gonzalez é uma mistura de ator e produtor cultural. É um dos fundadores da Cia. Teatro de Janela.

Pecado gastronômico: Sorvete de tapioca.

Melhor lugar do Brasil: Praia do Amor em Pipa (RN) bem acompanhado.

Fale com ele: [email protected]

Atualizado em 6 Set 2011.