Guia da Semana

Foto: divulgação


Foi na primeira metade do século XX que os atores encontraram mais um desafio para suas carreiras. Marcos Palmeira e Adriana Esteves tinham um mesmo objetivo ao iniciar uma montagem tão intensa tanto em sua história quanto na manutenção do trabalho do intérprete. Ele, sentiu necessidade de dar um sentido para sua profissão. Ela encontrou nesse trabalho um lugar que reafirmasse suas escolhas, sua cidadania e que fosse libertador em suas próprias palavras. Juntos, os dois mergulham no universo do teatro e convidam o público a participar do último momento do casal mais famoso do cangaço brasileiro.

A peça Virgolino E Maria- Auto De Angicos que estréia nesta sexta (28/03) no Tucarena, em São Paulo, propõe a última hora de Lampião e Maria Bonita. Esse instante nunca foi reconstruído pela historiografia oficial e pouco se sabe sobre o que eles conversaram ou fizeram no acampamento em que estavam no interior de Sergipe minutos antes da execução que aconteceu na manhã do dia 28 de julho de 1938. A encenação, porém, sugere um momento mágico e coloca o cangaceiro em profunda intimidade com sua mulher.

Para dar início ao projeto foram três anos de uma pesquisa intensa. Marcos Palmeira conta que ao lado do diretor do espetáculo, Amir Haddad, estudou diversos textos até se deparar com a obra de Marcos Barbosa. "Encontramos nela um retrato do país hoje. A peça fala sobre os excluídos de uma maneira geral e traça um paralelo, por exemplo, com o chefe do traficante do morro, que também guarda dentro dele aquela verdade, realidade e justiça como o Lampião. É uma reflexão da corrupção e de como tratamos a violência no país de uma maneira ainda cangaceira, parecida com a daquela época, enfim, a peça cai como uma luva para os dias de hoje."

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Sobre a interpretação, Marcos explica que descobriu no "Rei do Cangaço" um homem que como todo brasileiro lutava com as armas que dispunha e contra aquilo que acreditava ser sua maior inimiga: a injustiça. "Mostramos aqui que por detrás desse assassino existia um ser humano cheio de dúvidas, incertezas e medos".


A personagem Maria Bonita de Adriana Esteves, indicada ao Prêmio Shell de melhor atriz do Rio de Janeiro, também sobe ao palco humanizada. "Maria é uma mulher brasileira. Assim como tantas Marias que temos, essa luta pela sobrevivência. Por causa do amor que sente por esse homem, largou tudo e caiu no cangaço." Durante a peça, os questionamentos fortes ficam por conta de que eles querem sair dessa vida, mas ela não largaria ele por nada. "A força desta mulher está nos argumentos que movimentam um homem desse." Maria Bonita foi a primeira mulher a fazer parte do movimento no Brasil.

O diretor Amir busca resgatar a poesia desse casal e compartilha com os atores as descobertas que acontecem durante cada apresentação. A arena foi um dos recursos escolhidos para que as relações entre eles se ajustem ao espaço. Além disso, exige uma atenção maior dos dois artistas. O centro do teatro é coberto por uma lona grande e por tablados de madeira. E o cenário ganha charme com um cabide de bolsas e algumas malas espalhadas pelo chão. Simples e teatral assim como foi montado o figurino dos dois personagens.

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A peça estreou no Rio de Janeiro em outubro do ano passado, ficou três meses em cartaz, depois viajou pelo interior do estado e já participou de três festivais de teatro: em Angra dos Reis, Cabo Frio e recentemente Curitiba. Na cidade de São Paulo, o espetáculo faz temporada até o dia 1º de junho e em seguida pretende partir para o Nordeste. "Queremos levar a montagem para o país inteiro e principalmente para o nordeste", explica o diretor lembrando que em 2008 é comemorado o aniversário de morte do casal. Faz 70 anos que Lampião e Maria Bonita foram brutalmente assassinados e entraram para a história do Brasil.

Atualizado em 6 Set 2011.