Guia da Semana

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Há algo novo samba. Chama-se Diogo Nogueira. O cantor carioca se apresentou em São Paulo na última sexta (24 de julho), com um show maduro, inteligente e fiel, ao melhor estilo do samba que marcou o lançamento de seu segundo álbum, Tô Fazendo Minha Parte. Acompanhado por um quarteto de cordadas (baixo, cavaquinho e violões) sutil, competente e inspirador. A percussão não deixou por menos: foi suave, evitando pirotecnias, mesclando intimismo e partido-alto. A dupla de backing vocals não cantava: respirava suavemente, em apoio ao gogó possante de Diogo, sem perder a força que rende ao samba o status de patrimônio cultural brasileiro.

O espetáculo do Citibank Hall contou com a participação de Carlinhos de Jesus, que flutuou sobre o palco passos sutis e seguros de ótimo bailarino: rápidos, sem ser violento; plástico, sem malabarismos circenses que pudessem lhe render um tom burlesco em vez de jocoso, como pede o ritmo. O também carioca Seu Jorge entrou no final, improvisando ao lado de Diogo. Tudo isso deu ao espetáculo o sabor do bom samba.

O cantor soube interpretar o papel de boêmio (entrou vestindo terno branco), mas soube manter a inflexão necessária para cantar boleros de gafieira. Para as moças: durante o show, o rapaz troca de roupa no palco, à contraluz, atrás de uma fina e nada vulgar cortina. O ponto alto do espetáculo foi quando Diogo Nogueira interpretou Espelho, um dos sambas de seu pai, o magistral João Nogueira. Momento intimista, de homenagem do público e do cantor a um dos compositores que melhor narraram o subúrbio carioca.

Engana-se, contudo, quem pensa que Diogo se esconde atrás das canções do pai. Seu segundo CD é uma investida autoral que dá início ao repertório próprio do cantor. E, detalhe, a faixa Sou Eu é composição inédita de Ivan Lins e Chico Buarque, que foi ao estúdio só para fazer o coro da canção. Luxo para poucos. Ao final do show, o expectador tem uma certeza: é bom ver gente nova fazendo bom samba no Brasil.


Quem é o colunista: paulistano da gema do ovo, com uma queda irrefreável por histórias que pulam da vida real pro papel.

O que faz: jornalista de alma, assessor de imprensa por questões econômicas.

Pecado gastronômico: comida bem temperada, todas!

Melhor lugar do mundo: Cordilheira do Andes.

O que gosta de escutar: MPB, jazz e classic rock.

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Atualizado em 6 Set 2011.