Guia da Semana

Foto: Getty Images

Há dias em que sair de casa, do quarto ou debaixo do chuveiro é um martírio. Pra quem mora só, lavar a louça depois de um fim de semana, então... Há dois personagens que de vez em quando me identifico e muito: Macunaíma e o Garfield.

Ambos usam frases que estão sempre no meu repertório: "Ai, que preguiça" e "Eu odeio segunda-feira!".

Esse primeiro que, de tão preguiçoso, só começou a falar aos seis anos, é o retrato fiel ou diria até uma síntese, de grande parte do povo brasileiro. Lembrando que não vou generalizar, nem falo isso com base em nada além do meu olhar sobre a vida.

Infelizmente, não tive a chance de assistir a montagem premiada de Antunes Filho, mas, recentemente, reli o livro e vi a última versão lançada em DVD, do filme do cineasta Joaquim Pedro de Andrade. E esse personagem, tão legitimamente brasileiro de Mário de Andrade, serviu como ponto de partida para essa coluna.

Como havia mencionado anteriormente, nas próximas colunas vou falar dos sete pecados capitais e, esse de hoje, certamente, é o meu preferido: a preguiça.

Não vou usar essa coluna de diário e nem sei se é o caso de admitir para não queimar o filme, mas eu sou um preguiçoso nato. Às vezes, tenho até raiva disso. Já até me perguntei se o clima pode interferir, mas no frio ou no calor ela se manifesta de alguma forma.

Naqueles dias, debaixo da coberta, lembro da época do colégio que minha mãe ia nos chamar e sempre saía um: "Só mais cinco minutinhos...".

Pena que não tem rede aqui em casa, quer dizer, ainda bem que não tem, senão... Alguém já teve a chance de deitar numa em frente à praia, olhando para o mar e falando: "Ai, que preguiça de viver"?

Assisti novamente ao documentário Edifício Master. Acho incrível e, em um dos depoimentos, há o de uma senhora estrangeira que fala da preguiça do povo brasileiro. E vamos concordar que deixar para se inscrever em alguma coisa no último dia, adiar para o dia seguinte, algo que você pode fazer hoje, é a cara da gente. E claro que me incluo nisso. Obviamente que estou elevando isso pra tornar o tema interessante ou leve, até porque quando estou trabalhando não admito gente preguiçosa do meu lado. O ócio me irrita bastante, mas também, às vezes, trabalhamos tanto que quando me permito não fazer nada em um determinado dia, ninguém nem nota minha existência. Vamos combinar, até Deus descansou no sétimo dia.

Li que no dialeto indígena que "aique" significa preguiça. E como Macunaíma era um índio e usava muito o "Ai, que preguiça", este era duplamente preguiçoso. Olhei agora minha pilha de louça em cima da pia e veio de novo essa frase. Como preguiçoso muitas vezes é chamado de vagabundo (e em muitos casos são), espero não estar incluído nisso e, para não me sentir assim, vou tomar um banho gelado, criar coragem e enfrentar a cozinha, porque o mundo está me esperando lá fora. Até a próxima!

Leia colunas anteriores de Guilherme Gonzalez:

? "Eu me esforço para ser invejado, não para invejar"


? Todos querem ser a Amy


? "O amor é um crime que não se pode realizar sem cúmplice"


Quem é o colunista: Guilherme Gonzalez.

O que faz: ator e produtor, um dos fundadores da Cia Teatro de Janela.

Pecado gastronômico: Mousse de Cupuaçu.

Melhor lugar do Brasil: Av. Paulista de madrugada.

O está ouvindo: White Shadows do Coldplay

Fale com ele: [email protected]

Atualizado em 10 Abr 2012.