Guia da Semana

IIustração: Ariel Fajtlowicz

Domingo passado, fui ao chá de bebê da minha prima. A família estava toda reunida. Reencontrei parentes que não via desde o casamento desta prima, que agora vai ser mãe. Tristemente, reparei que velório, casamento e nascimento são os eventos que reúnem a família. Enfim, ao menos era por um bom motivo que estávamos lá.

No meio de fraldas, mamadeira e lenços umedecidos, vi que todo mundo mudou. E reparei no quanto cresci desde que eu era apenas uma menina serelepe, com um rabo de cavalo na cabeça e um tênis vermelho no pé.

Agora, já sou mulher feita. E, em uma gota de angústia, me veio a dúvida: será que eu estou no caminho certo? Sou tudo aquilo que a menina de tênis vermelho queria ser quando crescesse? Não sei. Não achei resposta. Nem sei se há alguma. Mas vi que os "sims" e "nãos" que ofereci e recebi foram os responsáveis pelo que sou. Percebi que, apesar da vida ser construída em instantes decisivos, ela é vivida em momentos simples. Mas será que esses momentos banais não são, justamente, o que nos leva a ter esses instantes decisivos?

"Quando a vida nos presenteia com o imprevisível, muitas coisas passam pela nossa cabeça: ... Será que tudo o que eu escolho me torna quem sou e define o que vai acontecer comigo?"

Esta frase, que resume o que quero dizer, é um trecho do livro digital A Menina do Sapato Caramelo, novo trabalho de Maíra Viana, que pode ser lido na íntegra no portal Bookess. Na obra, Maíra brinca com a história de uma menina de sapato caramelo que aprende com os próprios passos a traçar seu caminho "contando com um pouco de sorte, um tanto de coragem, uns óculos cor de abóbora e um par de sapatos caramelo".

Conheci a Maíra Viana por meio das letras compostas em parceria com Fernando Anitelli, da trupe O Teatro Mágico. Desde então, encantei-me com seu jeito delicado de me fazer pensar na vida. Inventando histórias, ela consegue traduzir o que todo mundo sente, no fundo do peito, mas que faz questão de esconder em sorrisos rasos.

Ela conta a história de uma menina e seu sapato cor de doce. Eu tenho minhas lembranças de uma garota com tênis vermelhos. E todo mundo anda com seus pares apressados em busca de "ser alguém na vida", não é? Uns até correm, passam por cima dos outros e chutam umas peças caídas no meio do caminho. Mas o que a gente não percebe é que a vida não espera para acontecer somente quando a gente chegar lá. A vida é justamente os altos e baixos que ocorrem no meio do caminho. É aí que mora toda a diversão. E você, de que cor eram seus pares de sapatos? Azuis? Verdes? Amarelos?

Clique aqui e confira o livro na íntegra.


Leia a colunas anterior de Nathalya Buracoff:

Sinos de Alegria

Quem é a colunista: curiosa e bem-humorada. Adora conhecer gente e é apaixonada por cultura, principalmente cinema, teatro, música e quadrinhos.

O que faz: é jornalista.

Pecado gastronômico: chocolate e bacon. Em refeições separadas, obviamente.

Melhor lugar do mundo: aquele que reúne boa música, meus amores e meus amigos.

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Atualizado em 6 Set 2011.