Guia da Semana

Foto: TV Globo/Isac Luz

A minissérie Cinquentinha, depois de muito disse-me-disse, finalmente estreou na semana passada, na Globo. Já no primeiro dia, foi possível notar que a série pretende alfinetar, através de um humor crítico, seu próprio meio. Mais do que isso: nota-se que o texto de Aguinaldo Silva fica cada vez mais ácido. O autor já demonstrava vontade de quebrar a barreira do politicamente correto o quanto fosse possível ao aliar a novela Duas Caras com comentários em seu blog, que se tornou campeão de acessos. Cinquentinha é um passo além nessa quebra de tabus, e serve para mostrar que o autor pode render muito mais produzindo minisséries.

Ainda existe uma série de barreiras que novelas não conseguem quebrar. Por mais que algumas tenham buscado ousar, tanto na forma quanto no conteúdo, sabe-se que a fórmula do folhetim é essencialmente a mesma. Soma-se isso a um público mais conservador, que resiste a certas modernidades. A minissérie, por outro lado, colhe os frutos da flexibilidade de seu formato. Vai ao ar mais tarde e busca um público mais segmentado e que recebe melhor determinadas temáticas e formatos.

Cinquentinha debruça sobre essas vantagens e se sai bem. Não só critica o próprio meio do qual é fruto (a televisão), mas inspira-se na vida das atrizes que compõem seu elenco. Assim, Lara é uma espécie de versão mais "exagerada" (?) de Suzana Vieira, Mariana respira Marília Gabriela e Rejane... Bom, Rejane pode ter algo a ver com Renata Sorrah, a primeira atriz escalada para interpretá-la. Curiosamente, Betty Lago acabou sendo apontada como a melhor em cena.

Além do espelho com a vida real, tocada com o exagero de uma comédia de costumes, a minissérie busca inovar em tipos e situações. Para isso, aposta numa sensualidade que geraria protestos numa novela, mas que funciona muito bem na minissérie. Traz personagens sensuais e sexuais. O sexo aparece como elemento que caracteriza uma transformação social. Afinal, não é todo dia que se vê na TV duas senhoras com mais de sessenta anos com vida sexual ativa e plena. É neste contexto que surge um tipo ainda não visto na dramaturgia tradicional brasileira: um vilão gay. Carlo (Pierre Baitelli) vem na contramão dos homossexuais "bonzinhos" vistos nas novelas. Leila (Angela Vieira) também protagonizou cenas de homossexualidade feminina pouco vistas na TV. Engraçado notar que a TV americana lida melhor com essa temática, enquanto o Brasil, tido como um país mais "liberal", mais ainda encontra muitos tabus.

O ponto central de Cinquentinha, no entanto, é a relação entre as protagonistas, que são obrigadas a trabalharem juntas em busca de uma herança. Lara, Mariana e Rejane são tipos diferentes, porém com diversos pontos em comum. Vê-las se engalfinhando antes de notar tais semelhanças é o ponto alto da minissérie. Isso graças, além do ótimo texto, das atuações das atrizes. Suzana Vieira, Marília Gabriela e Betty Lago estão muito bem e funcionam juntas. Maria Padilha (Leonor) e Angela Vieira também estão bem.

Cinquentinha demorou, mas conseguiu ser exibida em 2009. A atração reforçou a boa fase da Globo na produção de séries e minisséries e se junta a Maysa, Som & Fúria, Tudo Novo de Novo, Força-Tarefa, Decamerão, Aline e Ó Paí, Ó como boas produções nacionais do gênero. Sem dúvidas uma evolução, ainda mais e compararmos com Casos e Acasos ou Faça Sua História, do ano passado.

Quem é o colunista: André Santana.

O que faz: Jornalista e blogueiro.

Melhor lugar do mundo: Minha pequena cidade de Ilha Solteira - SP.

Pecado gastronômico: Filé à parmegiana... e batata frita!

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Atualizado em 6 Set 2011.