Guia da Semana

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"Tudo que desejo ressaltar é o princípio geral de que a Vida imita a Arte muito mais do que a Arte imita a Vida." (Oscar Wilde)

Essa frase em si mostra o processo dialógico entre Vida e Arte numa qualificação de diferente grau na influência de uma para a outra. Essas duas estão imersas no caldo da cultura na medida em que suas existências dependem de uma criação que contrasta com a natureza. Ao falar de Vida, penso: entusiasmo, necessidades, prazo de validade e modo de viver como ocupação ou profissão. Durante a vida, há os ritos de passagem que são celebrados dentro do seu grupo com o propósito de transmitir a tradição geracional responsável pela sua identidade.

Hoje em dia, a identidade pertence à "aldeia global", desfizeram-se as fronteiras e a cultura de massa homogeneizou as diferenças e empobreceu a convivência a um senso comum. O espírito do nosso tempo tende a desqualificar o passado e a supervalorizar o novo, junto da intensa preocupação econômica. Os modelos de conduta e de conquista equivalem ao ideal lucrativo difundido pela publicidade. A orientação da vida já não inspira muito, não há esperança, é o fim das utopias e as instituições já não proporcionam discernimento em sua representatividade.

A arte está intimamente ligada ao modo de produção, que é inseparável da propriedade do homem. Ele utiliza-se de métodos que pretendem um resultado e verificam sua eficácia em ações. O teatro exige uma sistematização pautada pela dramaturgia. Constantin Stanislavsky criou uma técnica que é um treinamento para o ator desempenhar, como homem e artista, um papel.

O preceito é não reproduzir mecanicamente as falas, mas transferir sua individualidade e assumir as características psicológicas do personagem no palco. Em seu sistema, Stanislavsky disseca uma peça teatral, capta a intenção do autor e como diretor conduz o ator para o "superobjetivo": o propósito fundamental da peça. O personagem segue uma linha direta de ação, contínua, sem se distrair com tendências e não concede nada no percurso da corrente principal da peça.

A vida é descontínua, há frases truncadas de onde se conclui a falta de coerência das coisas numa fragmentação psicológica, uma esquizofrenia dos fatos onde a relevância das coisas se encontra no desejo. Além da satisfação do desejo, a preocupação que nos assola é justamente a ideia cultivada de previsibilidade dos acontecimentos, que se instala em mecanismos viciados e obsessivos, e que são fontes de frustração. O "superobjetivo" da vida está vulnerável a despropósitos e a linha de causalidade dos fatos não depende somente da nossa atitude, demonstrando que o universo de experiência não é permanente.
O que nos resta é a execução de acordos e concessões entre nossa rede de relações, onde há uma interdependência dos participantes, constatando definitivamente que a vida não tem prescrição.

Tendo em vista a descrença na vida, com seu estilo hedônico reservado, a arte vem como um conjunto de qualidades que proporciona inúmeros efeitos: uma maneira de interpretar a realidade e uma sensibilização substancial. Ao remontar histórias, o teatro, em sua estrutura intrínseca, permite um posicionamento frente às situações dramáticas. A partir de uma estrutura narrativa formal, com início, meio e fim é possível entrar em contato com valores que caíram no esquecimento e reconhecer as causas primárias como o sentimento religioso, a metafísica, enfim a essência.

O aprendizado procede da imitação, por isso não importa o grau de influencia da arte na vida e da vida na arte, se atermos à nossa origem, a imitação será um processo dinâmico e de formação.

Leia as colunas anteriores de Renata Bar:

Triângulo Amoroso

Plumas e paetês

Durante três meses

Quem é a colunista: Renata Bar Kusano.

O que faz: Publicidade e Propaganda (FAAP), uma aprendizagem em edição em vídeo e suas correlações.

Pecado Gastronômico: carré de vitela ao molho de hortelã e camarão à provençal!

O melhor lugar do mundo: debaixo d´água.

Fale com ela: rebarkusano@gmail.com ou acesse seu blog

Atualizado em 6 Set 2011.