Guia da Semana

Foto: sxc.hu


Os mais conservadores ainda estão se perguntando o que será do CD? Os radicais já nem pensam sobre o assunto: profetizam que, para o CD como nós o conhecemos, o fim está próximo. Com a tecnologia existente hoje para distribuição da música, legal e ilegal, fica fácil acreditar nessa previsão apocalíptica que dá ao mundo da música essa ansiedade pela próxima revolução digital.

Nossa tecnologia evolui tão rápido hoje que fica difícil até descrever um panorama real do que é hoje a circulação de música. A transmissão de dados em grandes quantidades pela Internet é uma realidade, não mais um luxo. A conexão de banda larga à Internet oferecida hoje em dia faz com que a pirataria seja não só fácil como também lucrativa para o mercado informal. E como o mercado informal não pára de crescer...

A pirataria foi recebida com um escândalo pelos fabricantes de CDs e DVDs, mas a histeria não chegou até os artistas. Somente o Metallica se deu ao trabalho de processar o Napster, enquanto os outros entenderam que era inútil brigar para manter os miseráveis centavos de dólar que cada CD vendido trazia. Como o músico de qualquer porte e estilo tira seu sustento com shows e não com a vendagem de discos, porque preocupar-se?

Esses argumentos por si só decretariam o fim da indústria fonográfica como um todo e os discos de ouro e platina se tornariam relíquias. Quem possivelmente chegaria à marca de um milhão de discos vendidos?

Mas os discos ainda são vendidos e artistas como Roberto Carlos ainda chegam nessa marca.

Mesmo assim, o fim não virá.

Assim como se supôs que o cinema seria extinto com a televisão e a carta convencional seria extinta com o e-mail, supõe-se hoje que o CD desapareça. Pouco provável. Pode ser que surja uma outra mídia, uma tecnologia com mais espaço, menor, mais leve, mais barata, mas o suporte físico para transportar música que pode ser vendido, alugado, entregue, emprestado e também copiado infinitamente não desaparecerá.

É bom notar que, por mais que o futuro da música esteja no formato digital e esse formado seja amplamente reprodutível, nem toda música é reproduzida indiscriminadamente. Existem artistas que são pouco pirateados, simplesmente porque não são colocados na Internet. Artistas menos conhecidos, ou que não vão representar um sucesso de vendas na banquinha dos CDs piratas não são reproduzidos. Enquanto pagode, pop rock e as variantes do hip hop estão em todas as esquinas, jazz, blues, música instrumental brasileira e os menos famosos da MPB são bem mais raros. É possível pirateá-los, claro. Mas ninguém o faz.

Para esses artistas de ritmos menos populares e menos conhecidos, o CD continua sendo umas das maiores ferramentas de divulgação. Muitos artistas já estão encarando o CD apenas como um cartão de visitas, que o levará a fazer mais shows. E se o músico vai entregar um cartão de visitas, que cartão poderia melhor representar o trabalho que ele faz do que o trabalho em si? Essa farta distribuição gratuita para pessoas chave não impede que na hora do show o artista também ofereça o seu CD à venda, para engordar ainda mais a bilheteria.

Artistas que não ficam famosos na grande mídia não deixam de ter seus fãs. A música de qualquer espécie, hoje, encontra seu público e acaba constituindo um segmento do mercado, mesmo sendo uma pequena fatia. O investimento em um mercado menor é o que fazem também as micro-cervejarias, que têm fabricação pequena e distribuição limitada. Elas são, inclusive, atrativos turísticos para se conhecer determinada região, a cerveja local, e até mesmo o artista local.

CDs hoje têm também um papel importante como documento histórico e resultado de pesquisa musical. Estimulado pelos centros culturais e órgãos de apoio à cultura, muitos artistas têm encontrado espaço para desenvolver um bom trabalho histórico ou "científico" da música. Seja para resgatar um outro artista que nunca foi gravado, desenvolver uma nova linguagem musical ou até mesmo o resultado de um estudo específico. Os artistas podem encontrar linhas de financiamento e patrocínios para gravar seu som e registrar uma parte da história.

Existem ainda os aspectos mais românticos que manterão o CD muito parecido com o que ele é hoje por mais algumas gerações. Primeiro, é bem mais interessante pegar o CD do artista que você admira e ler o encarte inteiro, inclusive o nome do técnico de som que o gravou do que baixar as músicas dele. E o prazer de ter esse CD em mãos com fotos e informações interessantes só não é maior do que o prazer de contabilizar 400, 500, 800, mil CDs enfileirados fazendo volume na estante da parede da sala. É bem mais bonito do que contabilizar suas músicas em número de MP3 ou em gigabytes.

Leia as colunas anteriores de Felipe Tazzo:

? Diversão e/ou arte


? Brigando por uma fatia do bolo


? Cultura e mercado. Cultura é um mercado?


? Carteirinha pra cá, carteirinha pra lá...


Quem é o colunista: Um tal de Felipe Tazzo.

O que faz:Publicitário, produtor cultural e da meia noite às seis, escritor. Autor de O Livro Das Coisas Que Acontecem Por Aí

Pecado gastronômico: Tudo o que for picante.


Melhor lugar do Brasil: Os butequinhos sujos do interiorrrrrrrr.

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Atualizado em 6 Set 2011.